quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Colômbia: País emblemático

Alberto Pinzón Sánchez (especial para ARGENPRESS.info)    
Era impensável que um experimento estratégico tão doloroso, catastrófico e transformador, como o adiantado na sociedade colombiana principalmente durante a última década pela economia política do Imperialismo, não houvesse tido uma teorização ou conceitualização efetiva a partir do Marxismo. Desesperadamente os intelectuais orgânicos trabalhadores, enfrentaram a descomunal ofensiva imperial com algumas ferramentas de que dispunham, mais que tudo políticas e até ideológicas, mas insuficientes para desentranhar em breves colunas de opinião a enorme intoxicação com todo tipo de teorías, induzidas pelo aparato de propaganda do regime posto a este serviço.


Se percebiam os efeitos desastrosos na vida material e espiritual do Povo Trabalhador colombiano em especial durante a última década, e se denunciavam ponto a ponto as atrocidades que o avanço territorial da economia política trasnacional impunha a sangue e fogo em sua “acumulação permanente de capital” mediante o Estado (policialesco) de Opinião de Uribe Vélez. Se seguia o rastro de sangue e dor pela nova geografia colombiana do sofrimento, a desolação do despojo e os deslocamentos, mas não se avançava o suficiente em diminuir conceitualmente, em abstrair, a entranha contraditória (interna e externa unidas) daquela Totalitária. Em uma palavra, em fazer uma análise concludente e em movimento da economia política do atual Imperialismo na Colômbia.

Se intuía e assim se denunciava; a conformação de um novo bloqueio de classes dominantes com o ingresso mediante "bombaços" e intimidação, de uma poderosa burguesia lúmpen surgida dos multimilionários negócios do narcotráfico, os químicos e as armas, dispostas a tudo para alcançar o Poder que lhe correspondia na economia real da Colômbia. Se percebiam suas relações contraditórias (pela possessão da terra e os megaprojetos) com o latifundismo tradicional, e as camorras (exemplo Davis Murcia) pela lavagem de dinheiro com a burguesia financeira ligada ao capital Transnacional. Tampouco era difícil notar o declive da facção industrial pela desindustrialização imposta; mas não se sabía e não tinhamos porque saber os detalhes de todo este complexo processo geo-estratégico, de fusão econômica e coligação política e ideológica (dentro do Estado, do para-Estado e a tutela do Plano Imperial) que se estava dando, porque algumas minúcias apenas hoje à luz pública às está vislumbrando. Por exemplo o tratado de ocupação das 7 bases militares norteamericanas, recentemente declarado contrario à Constituição colombiana.

Toda esta complexidade que explica o porvir certo da Colômbia, ou melhor  o triste e realista futuro que atualmente nos chega disfarçado de “Unidade Nacional”; finalmente tem sido escrita e racionalizada graças à paciente tarefa intelectual do economista e professor da Universidade Nacional Jairo Estrada Álvarez, em um ensaio de economia política intitulado Direitos do capital. Dispositivos de proteção e estímulos à acumulação na Colômbia, Instituto Unijus, Universidade Nacional da Colômbia, Bogotá, 2010. Em especial no capítulo sobre as “trasformações do capitalismo na Colômbia”, cuja leitura minuciosa não duvido em recomendar, e que conclui com estes contundentes parágrafos:

... “Finalmente, deve afirmar-se que as dinâmicas aquí expostas me levam a asseverar que resulta insuficiente a caracterização da tendência da acumulação capitalista em termos de um processo de reprimarização da economia, ainda que à primeira vista parecera ser assim, dado precisamente ao caráter histórico da acumulação, não há retorno à formas da organização capitalista da produção e do trabalho existentes em outra época. Ao que hoje se assiste é ao surgimento e consolidação de uma nova divisão capitalista do trabalho, baseada em uma também nova organização transnacional do processo capitalista de produção-reprodução. Tal organização o imprime sua própria especificidade à dinâmica da acumulação de capital.

... Pese a que é incontrovertível o fato que a tendência da acumulação capitalista se tenha acompanhado do surgimento, como já se disse, de uma ordem dos direitos do capital, que tenham favorecido sem dúvida aos investidores estrangeiros, o fato de uma mobilização do capital transnacional para consolidar a estratégia da acumulação capitalista não pode passar desapercebido. O que proponnho neste sentido é uma leitura política dos fluxos de capital que tem chegado ao país durante as últimas décadas, mas particularmente durante o último decênio. Desde meu ponto de vista, ademais das razões de rentabilidade, deve considerar-se o propósito político de produzir um país emblemático, que se possa mostrar e se converta em referencial a seguir no contexto internacional.

... Em desenvolvimento  deste propósito três são os agentes externos que se tem constituído em verdadeiros pivôs do projeto político econômico do neoliberalismo na Colômbia: a) os crescentes fluxos de investimento estrangeiro e o apoio irrestrito das empresas transnacionais estabelecidas no país; b)o acompanhamento político contínuo dos organismos multilaterais (FMI, Banco Mundial, BID)e o abastecimento permanente com recursos de crédito por parte destes organismos; e c) a chamada ajuda militar estadounidense, através da qual não só tem fluído recursos importantes para o financiamento da guerra, sem que se tenha co-desenhado a estratégia de guerra e se lhe tenha dado um respaldo à sua execução.

... As razões geopolíticas, econômicas e militares são claras. O lugar da Colômbia na atual geografia do capital é estratégico. Por ele, é necessário produzir um país estável, que demonstre a suficiente capacidade para regular seus conflitos e sua macro-economia e, sobretudo, que sirva de contenção frente aos câmbios no balanço político e de poder da região. Em suma, no marco de uma estratégia imperial, se trata de uma reserva estratégica”.

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