quarta-feira, 20 de julho de 2011

Problemas e soluções concretas

Problemas e soluções concretas Imprimir E-mail
Escrito por Wladimir Pomar   
Terça, 19 de Julho de 2011


Como comentamos, a questão do desenvolvimento aparece, para muitos, como uma contradição insolúvel entre o crescimento econômico e o atendimento das demandas sociais. Na esteira dessa discussão, há os que acusam os partidos de darem prioridade à luta institucional, descaracterizando-se do ponto de vista ideológico de classe. E citam, como exemplo, a forma como os parlamentares encaram as questões que interessam aos trabalhadores. O que teria levado as centrais sindicais, durante a campanha de 2010, a fazerem propostas mais avançadas do que os partidos e o programa da candidata Dilma.

É lógico que eles devem estar se referindo aos partidos de esquerda, já que os partidos de centro e de direita demonstram sempre firme viés ideológico, encaram os interesses dos trabalhadores como contrários a seus próprios interesses de classe e renegam as propostas das centrais sindicais como inaceitáveis, a não ser quando elas servem à sua luta contra o PT e o governo Dilma.

Aliás, as supostas propostas sindicais mais avançadas do que as dos partidos de esquerda deveriam ser comprovadas com exemplos mais precisos. Isto, para que se possa entender melhor porque o PT, e não as centrais sindicais, é o alvo principal dos ataques da direita e dos setores reacionários da burguesia.

De qualquer modo, o pano de fundo dessas críticas aos partidos de esquerda está na pergunta: qual crescimento deveremos ter e a quem ele deve beneficiar? Ou seja, podemos ou não prescindir do capitalismo para realizar o atual processo de desenvolvimento do Brasil? Podemos ou não realizar um desenvolvimento social e ambientalmente justo e totalmente de acordo com os interesses populares?

Se a resposta for positiva para ambas as perguntas, os que pensam assim têm o dever de explicar como deveremos liquidar com o atual modo de produção capitalista predominante e criar um novo. Ou, na melhor das hipóteses, como mudar a atual correlação de forças políticas e possibilitar ao governo Dilma enquadrar o poder econômico e subordiná-lo aos interesses populares.

Se acharem que isso é uma questão de exclusiva vontade política, então talvez tenham razão em dizer que os partidos de esquerda se descaracterizaram do ponto de vista ideológico de classe e abandonaram os interesses dos trabalhadores, e que é necessário substituir o pragmatismo pelo voluntarismo.

No entanto, se isso for uma questão de luta de classes, social e política, em que o estágio de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção, assim como a correlação entre as forças políticas, impõe limites e desvios ao processo de desenvolvimento econômico, social e político, então será necessário abandonar qualquer tipo de voluntarismo e estabelecer estratégias e táticas que levem à acumulação de forças e à criação de condições que permitam aos trabalhadores e demais camadas populares apropriar-se do Estado.

Uma sociedade capaz de realizar um desenvolvimento social e ambientalmente justo e totalmente de acordo com os interesses populares só pode ser uma sociedade comunista. Mesmo uma sociedade socialista, de transição, ainda será uma sociedade cujo desenvolvimento social e ambiental não será completamente justo, nem totalmente de acordo com os interesses populares imediatos.

Isto porque aquelas metas de justiça somente serão viáveis com o pleno desenvolvimento das forças produtivas. O que significa chegar ao ponto em que o capitalismo esgotou todas as suas possibilidades de desenvolvimento e seu papel histórico. Até lá, como a experiência histórica do século 20 demonstrou, mesmo nas sociedades socialistas haverá convivência e disputa entre formas de propriedade e de produção capitalistas e sociais.

A situação do Brasil e do governo Dilma é ainda mais complexa porque aqui não ocorreu qualquer revolução popular, nem há perspectiva de que tal possibilidade esteja num horizonte próximo. Os trabalhadores e outras forças populares guindaram os partidos de esquerda ao governo, mesmo assim porque esses partidos fizeram coalizão com forças de centro e de centro-direita.

Para complicar ainda mais, isso ocorreu numa situação em que grande parte da propriedade social (estatal e pública), construída em anos anteriores, foi privatizada, tornando-se propriedade capitalista, inclusive desnacionalizada. E em que o Estado foi sucateado e perdeu grande parte de sua capacidade de poupança, investimento e indução econômica. Em tais condições, achar que é possível desenvolver o Brasil de forma totalmente justa e de acordo com os interesses populares é utopia pura.

O que devem fazer os partidos de esquerda no governo, diante de uma situação como essa? Abandonar o governo, dizendo para o povão que não podem desenvolver o país da forma justa que gostariam? Ou devem adotar uma estratégia que estimule o desenvolvimento capitalista mas, ao mesmo tempo, adote instrumentos de democratização do capital, multiplique as formas sociais de propriedade e de produção (estatais, públicas, solidárias etc.), e introduza mecanismos de redistribuição constante da renda, elevando o poder de compra e a educação das camadas mais pobres da população?

Mesmo a estratégia ambígua de desenvolvimento capitalista, combinada com democratização do capital, desenvolvimento de formas sociais e de redistribuição de renda não é de simples execução. Ela enfrenta diferentes formas de resistência, tanto dos partidos de centro e centro-direita da base de sustentação do governo quanto dos partidos de direita e de ultra-esquerda, seja no parlamento, na imprensa e nas organizações e movimentos sociais. A disputa pela opinião pública ocorre tanto dentro quanto fora do governo.

Nessas condições, os partidos de esquerda têm que travar tal disputa em todos esses terrenos. Nesse sentido, a crítica a um certo abandono no trabalho de base tem razão de ser, e tal abandono pode até ter como explicação uma mudança ideológica e política em segmentos desses partidos. Porém, mesmo que isto tenha ocorrido, a solução está em dar respostas concretas aos problemas originados da situação inusitada e impensável do Brasil nos anos recentes. Respostas, aliás, que passam longe das soluções sugeridas pela derrapagem na ultra-esquerda.

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

Seremos 7 bilhões em outubro


Há pouco mais de uma década, em 1999, a população do mundo era de 6 bilhões de pessoas. Nesses doze anos, nasceu tanta gente que os demógrafos afirmam que até o final de outubro a população mundial chegará aos 7 bilhões.

Com cinco bebês nascendo a cada segundo, todo ano mais 78 milhões de serem humanos são adicionados à comunidade global.

De acordo com as Nações Unidas, nesse ritmo serão 8 bilhões de pessoas em 2025. Grande parte desse aumento dramático encontra explicação nas nações mais pobres do mundo, que deverão dobrar seus números ao longo da próxima década.

Agora o mais assustador. Com todos os problemas do meio ambiente, perto de um bilhão de pessoas passam fome todos os dias. E os pesquisadores não sabem como serão alimentadas as pessoas em meados deste século, quando a população mundial chegar a 9 bilhões.