sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Sérgio Motta & Franklin Martins - Quem é o mais radical?

Para terminar o ano de 2010 e iniciar 2011 com uma ótima reflexão sobre o
que está por trás de toda a gritaria da grande imprensa quanto à regulação
dos meios de comunicação, compartilho com vocês um artigo impecável do
jornalista Alberto Dines, responsável pelo *Observatório da Imprensa*, que
desmascara o discurso ideológico e mentiroso dos "donos da mídia e da
verdade".
Que 2011 seja um ano histórico da democratização da mídia no Brasil, e que
essa luta mobilize cada vez mais a população!
"Se não mudamos nós, a mídia não muda!" 

Segue abaixo o artigo! 

  SERGIO MOTTA & FRANKLIN MARTINS

Quem é o mais radical 
Por Alberto Dines em 23/11/2010 
A História como piada: a telenovela da regulação da mídia deve ganhar lances
sensacionais (ou patéticos, depende de quem a observa) quando se examinar
com a devida atenção um projeto de lei preparado em segredo há 12 anos pelo
homem forte do governo de Fernando Henrique Cardoso, seu amigo e confidente,
o então ministro das Comunicações Sergio Motta. 
 Segredo? Em termos: na edição nº 76, de 5/10/1999, este Observatório da 
Imprensa comentou a quinta versão da Lei de Comunicação Eletrônica de
Massa, produzida por Motta, e também a sexta versão do documento, chancelada
por um de seus sucessores no ministério, Pimenta da Veiga. O material
fundamentou-se em um vasto arsenal de análises e contestações encabeçado por
um estudo pormenorizado de Guilherme Canela de Souza Godoi e contribuições
de estudiosos ímpares como o falecido Daniel Herz, o professor Murilo Cesar
Ramos, o pesquisador Gustavo Gindre e o senador Pedro Simon.

Veja os links abaixo: 
** A lei (secreta) de Sérgio
Motta<http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/pb051099.htm>–
G.C.S.G. 
** Consulta pública para elaborar a nova Lei de Comunicação Eletrônica de
Massa <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/pb201198b.htm> –
G.C.S.G. 
** Lei de Comunicação Eletrônica de Massa. Que
massa???<http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/pb050699.htm>–
G.C.S.G. 
Sergio Motta não conseguiu terminar o seu revolucionário projeto, morreu em
1998, foi sucedido por Luiz Carlos Mendonça de Barros e, em seguida, pelo
deputado federal e ex-líder do governo, Pimenta da Veiga, autor de uma nova
e desastrosa versão destinada à cesta do lixo. À época, corria que fora
redigida pelos consultores da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e
Televisão (Abert).
Sem comoção 
A mídia acostumou-se a classificar como radical o jornalista Franklin
Martins, atual ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República. Todas as suas iniciativas são imediatamente
carimbadas como atentados à liberdade de imprensa e logo rejeitadas. 
Nossa mídia tem memória curta ou simplesmente ignora quem foi o Serjão,
Sergio Motta, um trator que nada fazia pela metade. 
A Lei de Comunicação Eletrônica de Massa concebida por ele não era radical,
era revolucionária: criava uma agência reguladora, impedia a propriedade
cruzada de mídia eletrônica, interferia no vicioso sistema de concessões de
radiodifusão, cuidava do conteúdo da programação, criava mecanismos para
proteger os assinantes da TV paga, forçava o funcionamento do Conselho de
Comunicação Social e facilitava a sobrevivência da TV Pública facultando-lhe
o direito de veicular publicidade comercial. 
Evidentemente não previu o extraordinário crescimento da internet nem contou
com o atual estágio de desenvolvimento da telefonia móvel. Convergência de
conteúdos era uma noção desconhecida. O projeto era holístico, como se dizia
à época, integral. Ambicioso, audacioso e, sobretudo, estatizante. Tão
estatizante que o petista e democrata Daniel Herz chegou a reclamar do
excesso de prerrogativas oferecidas ao Executivo. 
Esta incursão na história recente carrega evidentemente algumas doses de
ironia. O projeto foi recebido com absoluta naturalidade, não causou
alvoroço nem comoção, não foi bombardeado pela mídia. Ao contrário, algumas
matérias da *Folha de S.Paulo* foram até simpáticas à iniciativa do governo
porque àquela altura – antes da assinatura do Tratado de Tordesilhas entre
os grupos Folha e Globo – o jornal dos Frias freqüentemente se atritava
com a Vênus Platinada dos Marinho. O que era extremamente salutar em matéria
de oxigenação (ver, neste OI), 
"A chocante parceria Globo-Folha"  <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/iq051099.htm>" 
e "Pacto Globofolha e o pacto do silêncio" <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/iq201099.htm>


Viés conservador 
Gozação à parte, é imperioso reverter o clima fanático que está
comprometendo a discussão sobre regulação da mídia. Esta inclemência e
intransigência numa questão que afeta diretamente o bem-estar da população é
simplesmente inadmissível. O rancor que se irradia deste debate é
extremamente tóxico, e se não for atalhado pode se espalhar. 
Este confronto precisa ser urgentemente despolitizado porque coloca no mesmo
lado um governo taxado de neoliberal e outro, indevidamente classificado
como autoritário. 
A sociedade brasileira é conservadora, mas também está cansada de ser
abusada pelos mercados. É, às vezes, indisciplinada, mas quer sentir-se
segura e por isso gosta de regulamentos, precisa deles. Seus valores são
geralmente pequeno-burgueses, mundanos, mas também é sedenta de cultura e
seriedade. 

Vilson Vieira Jr.
Jornalista e Comunicólogo 

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O Petróleo Tem Que Ser Nosso - Última Fronteira - (versão 15 min)

Lula, o velho Brasil e o novo brasileiro

Alexandre Haubrich
(jornalista, editor www.jornalismob.wordpress.com)                            


Como tudo na vida e na morte, o governo Lula chega ao seu final sem acabar
verdadeiramente. A herança fica. Tudo o que é feito se reproduz infinitamente no
universo, cada uma de nossas pequeninas ações diárias se encadeia com as ações alheias
para construir o instante seguinte e, em uma projeção gigantesca mas realista, para
construir todo o futuro do universo. Quando um presidente deixa o cargo para uma
sucessora do mesmo partido escolhida pessoalmente por ele, é claro que essa sequência
de acontecimentos não poderia ser menos relevante. Por isso, o governo Lula, mais do
que a maioria das coisas, acaba sem acabar. Mas, de todo modo, troca-se o governo.

Em oito anos como presidente da República, Lula levou o Brasil ao menor índice de
desemprego da história do país, a um índice de analfabetismo baixo, tirou milhões de
pessoas da pobreza absoluta, fez o Brasil tornar-se um país respeitado politicamente nos
países nortistas, que sempre nos viram de cima. Continuam nos vendo assim, mas agora
nós nos vemos no mesmo nível. Nosso Norte é o Sul, e o Norte deles já é um Norte
quase envergonhado da ideia fixa de superioridade.

O Brasil melhorou. Todos os índices sociais tiveram melhoras, os econômicos também,
assim como a política externa, que transformou-se, finalmente, em real política externa
brasileira, não um braço da política interna norte-americana. O país ganhou corpo. Mais
gente foi incluída em tudo. Educação, saúde, trabalho. A dívida brasileira diminuiu,
assim como a inflação. O Brasil deixou de ser credor do FMI. As privatizações
cessaram, o Estado cresceu.

O PAC, mesmo com problemas, fez andarem obras que se arrastavam há anos. Trouxe
investimento em infraestrutura, trouxe emprego, deu porte e cara de porte ao país. O
Bolsa Família, mesmo com problemas, fez andarem as pessoas que mal se equilibravam
em pé por causa da fome que retorcia estômagos e torcia membros e distorcia cabeças.
O Minha Casa Minha Vida, mesmo com atrasos, trouxe moradia a centenas de milhares
de famílias, e fez com que, nos próximos momentos, um milhão de famílias passem a
ter um teto sobre suas cabeças.

No dia em que Lula pisou no Palácio do Planalto, o povo teve esperanças. No plural
mesmo, porque foram muitas as esperanças. Um metalúrgico pobre, migrante da região
mais pobre e mais esquecida do país, pouco ligado à lida política, tenta por anos e anos
e anos comandar um dos maiores países do mundo. E, uma hora, depois de tanto tentar,
consegue.

O primeiro pensamento que deve ter chegado à cabeça de nove em cada dez brasileiros
pobres, que ainda são tantos, é: “agora alguém vai olhar para mim”. Sim, porque chegou
lá alguém que conhecia as realidades mais duras entre as duras realidades dos mais
sofridos entre o sofrido povo brasileiro. E Lula, mais do que todos os outros presidentes
que o Brasil já tivera, realmente conhecia tudo isso. E, mais do que todos eles, olhou
para o povo.

Parte da velha elite foi apartada do poder pelo voto popular. A elite branquinha e

limpinha, ideologicamente nascida e forjada nas universidades européias e norte-
americanas, teve de amargar oito anos de governo de um sujeito barbudo, com a pele
meio escurecida, um ex sujo de graxa e suor, que nunca chegaram às canetas e aos
aparelhos de ar condicionado dos governantes anteriores. O eterno terno de Fernando
Henrique Cardoso foi substituído pelo novo terno de Lula. Esse novo terno não fez de
Lula um “novo rico”, deslumbrado e com memória curta. Lula não esqueceu o uniforme
e o capacete de metalúrgico, não esqueceu a fome e o analfabetismo, mas deu um
jeitinho para manter tudo isso conciliado com o terno novo, com o cabelo arrumado e
com a fartura do poder. A conciliação de tudo com tudo o mais foi a tônica do governo
Lula.

Parte da velha elite econômica foi substituída pelo que se transformou rapidamente em
uma nova elite política, enquanto parte da velha elite política e econômica foi mantida
no poder através da conciliação do PT com os caciques que há gerações comandam
os mais diversos cantos do país. Nomes como Sarney, ACM e Calheiros, para ficar só
nos mais óbvios, estiveram sempre próximos ao governo petista. Até Collor teve seus
momentos. O PP esteve no governo desde seu princípio, assim como o PMDB. Dessa
forma, a tal conciliação esteve presente desde a formação de governo e, é claro, havia de
estar presente também nas ações governamentais.

Ao mesmo tempo em que muita gente ascendeu à classe média e muitos outros
evoluíram de miseráveis para apenas pobres, nunca antes na história desse país os
banqueiros lucraram tanto. Ao mesmo tempo em que o Estado se fez mais presente,
nunca antes na história desse país tivemos tantos cargos de confiança.

Ao mesmo tempo em que Lula olhou para os pobres e para a pobreza, o petismo
intransigente de determinados sindicatos, centrais sindicais e movimentos sociais
esvaziou a disputa política e a luta pela politização do povo, tão necessária ao
desenvolvimento humano, constante e democrático de qualquer país. Com algumas
lideranças cooptadas pelos privilégios do poder e com parte das bases cooptadas pelo
fortalecimento dos programas sociais, a luta política à esquerda ficou restrita a nichos
muito localizados e enfraquecidos.

Lula prendeu almofadas às mãos dos lutadores da luta de classes. Sobraram os pés,
apenas, e apenas por isso ainda há esperança de reafirmarem-se os embates. Também
reside, essa esperança, na fragilidade do nó dado às almofadas e na ânsia de liberdade
das mãos.

As cordas que amarraram as almofadas às mãos não suportam o sistema que as impõe.
Lula reacomodou as classes, aplicou no Brasil uma forma um pouco mais humanizada
do capitalismo, mas é preciso entender que este nunca poderá ser tão humanizado
e humanizador quanto é preciso para que a preocupação com o homem supere a
preocupação com o capital. O dinheiro, o lucro, a vitória a todo custo e a superação dos
outros homens seguem e seguirão como objetivos máximos. O homem lobo do homem.
E, em um sistema capitalista, para um comer o outro precisa ser comido. Para um
subir, outro precisa descer. Dessa forma, sempre haverá o miserável e sempre haverá o
bilionário. E este sempre terá todos os privilégios sobre aquele. O que o governo Lula
fez foi reduzir minimamente a diferença entre um e outro, e diminuir essa diferença
mais do que esse pouco-ou-quase-nada não é viável em uma lógica capitalista.

Dando a ilusão da aproximação entre pobres e ricos, o governo Lula torna-se o
bombeiro da luta de classes. As contradições, em vez de se acirrarem, são reduzidas
apenas o necessário para que os mais pobres estejam conformados com sua situação
de mais pobres, ou, no máximo, esperançosos de, pelo trabalho, tornarem-se ricos. A
cultura do individualismo não foi apagada, e essa tentativa nem foi feita. O símbolo
total é a chegada de um nordestino-pobre-metalúrgico à presidência. Deu a falsa
impressão de que, com trabalho, “se chega lá”. Mas lá aonde? Lula foi uma exceção,
como volta e meia aparece. Mas o que não foi explicado ao povo é que essa ascensão
social não passa de um mito. A ilusão de que basta o trabalho duro para que se chegue a
posições melhores é a reprodução do velho mito criado pelas elites para manter o povo
submisso: trabalhe para mim e um dia serás como eu. A chegada de Lula à presidência
criou a mentira de que a luta individual oferece a vitória. E a vitória, para o povo, não é
política, mas econômica. O governo nada fez para desmentir esse símbolo.

A importância da coletividade e da união entre os trabalhadores foi esvaziada. O
embate político entre dominados e dominantes não esteve nem perto de se dar, pelo
contrário. Se no governo anterior, de Fernando Henrique e do PSDB, o acirramento das
contradições entre ricos e pobres, entre governo e movimentos sociais, fez com que a
politização tomasse caminho, com que o povo se indignasse e com que a margem de
trabalho conscientizante da esquerda aumentasse, a reacomodação social promovida no
governo petista apagou o incêndio sem reconstruir o que está queimado há 500 anos.

As melhorias sociais aconteceram, mas foram tímidas e, sem uma nova cultura, uma
nova lógica, um novo sistema, não poderiam deixar de sê-lo. A educação continua
horrível, a saúde nem se fala. As ruas continuam grandes e sujas mansões de pobres, as
filas continuam o único remédio para os doentes, os hospitais continuam depósitos de
cadáveres, as estradas continuam fábricas de cadáveres, os livros continuam artigos de
luxo, as pessoas continuam se alimentando de lixo.

É claro que ninguém poderia esperar que todos os problemas criados em 500 anos
fossem resolvidos em oito. Mas pouco foi feito para realmente resolver qualquer um
deles, o sentido principal foi remendá-los. Na educação, por exemplo, o foco maior foi o
ensino superior. Criaram-se muitas Escolas Técnicas, diversas Universidades Federais.
Mas a quantidade de vagas foi ampliada sem ampliar-se a qualidade, incluindo o espaço
físico. O Prouni reverteu para empresas de educação verbas que poderiam ser aplicadas
em mais universidades públicas.

No campo, lucros crescentes para os grandes produtores, e quase nada de redistribuição
de terras. Movimentos como o MST foram enfraquecidos pelas razões já citadas, e
a Reforma Agrária necessária em nenhum momento esteve por acontecer. Reforma
Urbana, então, menos ainda. As empreiteiras lucraram como nunca, e os sem teto
continuam se multiplicando.

Veículo oficial do discurso das elites capitalistas, do agronegócio, das elites políticas e
dos interesses dos países nortistas, a mídia hegemônica brasileira foi um dos elementos
que, nas diversas eleições que Lula e o PT perderam até a vitória em 2002, contribuíram
para manter qualquer faísca de esquerda longe do poder. E essa mídia não foi sequer
questionada em momento algum, com exceção de alguns discursos do presidente, que
em nenhuma medida concreta resultaram em oito anos. Eleição após eleição, dia após

dia a mídia dominante descarta a esquerda e molda cabeças contra o PT. E, dia após
dia, o governo passou tentando acomodar-se com essa imprensa. De novo a conciliação
e, como nos outros casos, a mansidão segue partido apenas de um dos lados. O outro,
às vezes silencioso, às vezes não tanto, segue atacando. Ainda que a verba publicitária
do governo federal tenha sido melhor distribuída, também não podemos esquecer a
quantidade recorde de rádios comunitárias fechadas.

A ânsia desenvolvimentista fez com que o meio ambiente ficasse relegado a segundo
plano. Se é verdade que tivemos dois ministros do Meio Ambiente bem intencionados,
também é verdade que o espaço político dado a eles foi insuficiente. Diminuição
do desmatamento na Amazônia, mas negociações com desmatadores. Avanços nas
negociações internacionais, mas obras do PAC com licenciamentos ambientais
questionados por técnicos, hidrelétricas do Rio Madeira e Usina de Belo Monte em
andamento.

Politicamente, o governo fez uma acomodação de partidos da direita e da centro-
direita e de oligarquias as mais diversas, mantendo com Lula a lógica que se reproduz
no Brasil, em formas variáveis, desde o século XVI. Conchavos, corrupção, trocas
de favores. E o povo apartado do poder político, sem voz. Conferências da sociedade
organizada, como a Confecom (Comunicação), pouco foram ouvidas. Experiências
anteriores do próprio PT, edificantes, politizantes e democratizantes, como o Orçamento
Participativo, não foram reproduzidas. Não houve repressão violenta aos sindicatos e
movimentos sociais, é verdade, mas o enfraquecimento deles foi feito de outras formas.
Os arquivos da Ditadura Militar que assassinou tantos, torturou tantos outros e reprimiu
tantos tantos outros seguem em segredo.

A política externa foi um dos grandes méritos do governo Lula. Por oito anos, o
complexo de vira-lata foi deixado de lado, e o Brasil conquistou o respeito de todos.
Mesmo sob forte pressão da direita (incluindo aí importantes setores da mídia),
deixamos de ser submissos aos mais ricos e de submeter os mais pobres. Foi de forma
solidária que negociamos com os países que sofrem mais, e foi de forma altiva que nos
posicionamos frente aos exploradores internacionais históricos. De forma amigável
conversamos com países oprimidos e isolados pelo imperialismo econômico, político
e cultural. Lula fortaleceu os laços com a África, dando um passo importante no longo
caminho a ser trilhado pela verdadeira independência daquele continente; e fortaleceu
os laços latino-americanos, entendendo, juntamente com outros governantes vizinhos,
que apenas com a América Latina forte e unida podemos resgatar nossas raízes culturais
e alcançar nossa independência tardia.

Porém, também na política externa nem tudo são flores. Enquanto Cuba enviava
milhares de médicos ao Haiti, enviávamos soldados. Somos parte fundamental da
missão da ONU que mantém ali um governo que derrubou o presidente eleito. E não
é só no Haiti que há resquícios da direita na política externa brasileira. Lula regozija-
se por ter passado de devedor a credor do Fundo Monetário Internacional. Ao conceder
empréstimos ao FMI, o governo brasileiro legitima a política deste órgão e do Banco
Mundial, que, como já fez com o Brasil no passado recente, sufoca os países pobres e
impõe a eles cartilhas importadas do “american way of life” e adaptadas para manter
esses territórios na subserviência eterna. Romper com o FMI era o grito pré-2002.
Reacomodar foi a prática a partir de lá.

Carismático, popular, Lula tornou-se um mito, um semideus. É respeitado e temido
pelos adversários, é adorado e amado pelos aliados. Com seu jeito simples e verdadeiro,
Lula tornou-se a imagem do novo brasileiro. Em alguns anos, talvez vejamos camisetas
com seu rosto pelas ruas do Brasil, os filmes sobre sua vida talvez se multipliquem
– e com mais qualidade do que o que já foi feito –, bonecos barbudos cheios de
acessórios – bonés, capacetes, ternos, macacões – logo deverão estar em todas as lojas
de brinquedos. Os 83% de aprovação com que se encerra o governo não mentem. Por
seus programas sociais, por sua grande máquina de propaganda, por sua trajetória
inacreditavelmente vitoriosa e por seu carisma pessoal, Lula é um herói. Inverossímil,
um extra-terrestre que chegasse hoje a Terra classificaria como “ficção científica” um
livro que contasse a trajetória de Lula. Já a quantidade de seres humanos que conhecem
e admiram Lula é maior do que a quantidade de homens que conheceram qualquer outro
presidente brasileiro.

O governo Lula foi o mais popular da história do Brasil e esteve inserido no contexto
de guinada à esquerda na política latino-americana. Lula, como presidente e estadista,
foi um gênio político. O Brasil melhorou, internamente e em sua postura em relação aos
demais países. Porém, nem acertos nem erros devem ser ignorados pela história desses
últimos oito anos, que recém começa a ser escrita, e que não cabem em tão poucas
palavras, pela grandeza do tempo e pela grandeza dos acontecimentos. O certo é que,
em oito anos, as mudanças foram significativas, e o Brasil melhorou. Se essa melhora
será o freio ou o impulso de avanços mais profundos, somos nós quem decidiremos.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Saudade de Fausto Wolff e alguma coisa sobre FHC

Fausto Wolff é desses caras que partem e deixam saudade. Vendo sua página na Wikipédia, não conseguimos detetar-lhe a grandeza, mas coloquei como link, apenas para umas pinceladas mais gerais sobre esse jornalista, e já serve em seu descritivo, para termos uma noção de alguns predicados e posição política.

Anteontem, parece que FH do vosso C (que era como Fausto se referia ao ex-Presidente FHC na pele de seu impagável Nataniel Jebão), desatou a falar bobagens no ignóbil programa "Manhattan Connection", talvez um dos "lugares" mais desimportantes da televisão mundial, mas que serviu para repercutir, pela importância da personagem e ao longo do dia, em jornais e na rede.

Coincidentemente, comecei ontem, e com um atraso indesculpável, a ler "Imprensa Livre de Fausto Wolff", que foi lançado em 2004, 4 anos antes de sua morte e já indo pela página 92 do mesmo, que nos fala sobre a época em que foi escrito, nos dá a dimensão do que foi o Governo FHC e os de seus antecessores, bem como a participação da imprensa venal e vendida que temos em nosso País.

Fica "meio" comprido prá blog, eu sei, o texto que segue abaixo e que é um dos capítulos do livro, mas de leitura fácil, esclarecedora e que quando chega ao fim, nos dá aquele gostinho de "quero mais", ainda mais levando em conta que fica praticamente impossível acharmos na "velha mídia", textos simples como esse transcrito abaixo e que carregue tantas verdades como aquelas, por motivos que o próprio texto nos oferece.

Sigamos! Sem Fausto...


Sete pragas do Aegptyi: corrupção, miséria, imprensa, fome, desemprego, peste e FHC

Em 1968, pouco antes do AI5, o correspondente da revista Time, David Saint Clair bebia comigo no falecido Antonio's. Já estávamos ambos levemente de porre quando ele me disse em tom de brincadeira:
      - Você sabe que teu país foi vendido com tudo que tem dentro, você inclusive? Enquanto não decidirmos que nome daremos ao país que já foi teu - e hoje é nosso - você não existirá oficialmente para o mundo.


     Verdade é que uma quinta parte do país (estou falando em termos de terra) já fora vendido a estrangeiros. Pouca coisa. Hoje em dia, se alguém se der ao trabalho de verificar em nome de quem está - digamos a Amazônia -, verá que pertence a algum João da Silva. Nos cartórios europeus, asiáticos e norte-americanos, porém, os nomes dos proprietários mudam para Rockfeller e Grimaldi passando por algum Fujimoto da vida. Não me incomodei com o David, pois em 68 vivíamos em regime de exceção e regimes de exceção tendem a acabar um dia. Na ocasião, como Vinícius de Moraes, eu achava que " a coisa não demora e se você reagir você vai se dar mal, ora se vai". O resto todo mundo conhece.


     Hoje, felizmente (eu disse felizmente?), não vivemos mais num regime de exceção. Aqueles bravos rapazes que viveram exilados no Chile e na França, passando fome e frio, foram eleitos pelo voto popular, com uma leve ajuda da TV Globo. Verdade é que tivemos de aguentar o Sarney e o Collor, mas, que diabo, a democracia exige sacrifícios. Tremo toda vez que penso que vivemos numa democracia e temos imprensa livre. Apesar disso aumentou brutalmente o número de analfabetos, aumentou a mortalidade infantil, aumentou a prostituição, aumentou a corrupção, aumentou o desemprego, aumentou a miséria, aumentou a fome, a criminalidade e a falta de caráter. Vivemos numa democracia, e aqueles bravos rapazes que estiveram no Chile e na França, sofrendo mais que Bakunin na Sibéria, envelheceram, mas foram recompensados: estão todos podres (literalmente) de ricos. A primeira coisa que os exilados de boas famílias fizeram foi unirem-se aos torturadores em nome da democracia. Pergunto-me: foi para isso que passei dez anos fora do meu país? Foi para isso que tantos foram torturados e assassinados? Foi para isso que dei minha juventude? Foi para ver essa nojeira que envelheci?


      Não vivemos mais num regime de exceção. A exceção, finalmente, acabou. Transformou-se em regra. O Brasil não é mais um país. Virou uma firma que deve dar bons dividendos financeiros para seus donos. Seus donos não vivem aqui. Vivem aqui seus capachos: Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Arthur da Távola, para citar apenas alguns dos bravos rapazes exilados. Falar de Sarney, Jáder, Maluf, Antônio Carlos Magalhães é bater em cachorro agonizante. Agonzante mais riquíssimo.


     O neoliberalismo saudado pelo cabo Anselmo Fernando Henrique Cardoso como a salvação para o Brasil transformou o mundo num grande mercado e países como o nosso em filiais. Não sei por onde anda o David Saint Clair nem sei se está vivo. Se estiver, porém, aí vai o novo nome do país: Brazil & Mother Joana Business Unlimited S.A., pertencente ao grupo FMI, BIRD, NAFTA, OMC. Logo, logo, estaremos anunciando na imprensa mundial: "Invista no Brazil-MJ-BU. Salários de fome, trabalho escravo, incentivos fiscais, total ausência de sindicatos, justiça e parlamento facilmente corruptíveis, população completamente alienada e call girls pouco exigentes. Tudo isso mediante comissão módica aos arrendatários nacionais. Tratar diretamente com os capachos no Palácio do Planalto".


     Vocês acham que estou pegando pesado demais? Estou não. Fiquei com pena do Robert Zoellick, secretário comercial da Casa Branca, quando esteve aqui há uma semana. Não podia descuidar um momento e já não sabia como impedir que nossas autoridades acariciassem seu saco. Ficou tão irritado que disse:
    - Os "países" (coloquei as aspas mas elas não são minhas) que demorarem a fechar acordo de livre comércio conosco vão ficar para trás. Não faltam países para fazer acordo com os Estados Unidos. O número é enorme, e não posso atender a todos.
    -Mas o que podemos fazer, mais do que já fizemos? - teria perguntado Malan.
    -Privatizem mais, derrubem mais suas tarifas, mudem as leis trabalhistas, respeitem a propriedade intelectual americana.
    Não, leitores, ninguém perguntou se na olhota não ia nada, de modo que o bom Zoellick (afinal de contas apenas um funcionário com um belo salário trabalhando para seu país e não contra, como FHC e companhia) continuou:
    -Os Estados Unidos são a maior potência do mundo, com um  PIB de 10 trilhões de dólares, e escolhem os parceiros que bem quiserem.


   Zoellick tratou nossos governantes-algozes como se fossem office-boys (coisa que Greenspan já vem fazendo há anos) e não ouviu uma crítica do corajoso caçador de sem-terra, FHC. Voltou para Washington com os países baixos babados. Na mesma época esteve entre nós Jean Ziegler, representante da ONU, e disse que em matéria de desigualdade social o Brasil só encontra paralelo na África do Sul. O bravo Raul Jungman, ministro da Reforma Agrária Fantasma, só faltou pedir sua prisão.


   Repito mais uma vez: quando a imprensa torna-se sócia dos três poderes, o máximo de democracia que consegue produzir é essa nojeira que está aí. Alguns dias atrás li um artigo bem escrito em O Globo de autoria de Carlos Alberto Di Franco, diretor do master em jornalismo e professor de ética jornalística. Concordei com algumas coisas, como o fato de o jornalismo ter virado entretenimento. Mas, master, não dá para concordar quendo você diz que o "Brasil desenhado por certos setores da mídia nem sempre bate com a realidade nacional. Embora (o grifo é meu) o país tenha grandes problemas(....) esses problemas sociais estão longe de representarem um retrato de corpo inteiro da nação".


   Espera aí, ô master, você acha que uma grande imprensa venal, comprada, feita por colunistas amestrados (as exceções são por demais conhecidas) está batendo muito pesado? Isso ocorre quando eventualmente os interesses econômicos do poder e da empresa jornalística se chocam. Logo, respeito seu título de master of ethics mas você é master of ethics de uma imprensa que não é absolutamente livre. É bem mais livre na matriz. Ainda assim, sugiro que você leia 20 Years of Censored News, de Carl Jensen (Seven Stories Press/New York). Ele revela entre outras coisas que em 1961 vazou para a Casa Branca a notícia de que o New York Times iria publicar uma reportagem sobre a invasão a Cuba. Kennedy mandou chamar o editor do jornal e a história jamais foi publicada. Houvesse sido, talvez os Estados Unidos não tivessem de suportar até hoje o fiasco que foi a baía dos Porcos.


   A última demonstração de liberdade da grande imprensa brasileira foi o noticiário sobre a dengue. Parece que não existe uma epidemia e que as pessoas picadas pelo mosquito não correm risco de vida. Aqui em casa, eu e minha mulher passamos quase três semanas nos arrastando. Duas pessoas num apartamento, dois casos de dengue. A indústria informou que nas últimas semanas 10% dos empregados não compareceram ao trabalho. Isso não significaria, por acaso, que 10% dos trabalhadores foram vítimas do mosquito? E as crianças, e as donas-de-casa? Só no Hospital das Clínicas da Amil de Niterói foram registrados mais de 300 casos da doença em apenas uma semana de março e ninguém soube. Passei na esquina de Atlântica e Sá Ferreira e encontrei mais de 15 pessoas pobres (crianças e velhos) deitadas nos bancos, todas com dengue. Durante a minha vida ouvi falar do Ibope mas jamais alguém que eu conheça foi consultado por ele. No caso da dengue, os nossos repórteres, em vez de fazerem contas elementares que elevariam para um milhão o número de pessoas infectadas e para no mínimo alguns milhares de mortos, limitaram-se e limitam-se a repetir os dados oficiais de José Serra, candidato a presidengue.


   Pouco depois de acordar e antes de começar a escrever este artigo, olhei pela janela e vi que havia chovido. Imediatamente, passei repelente por todo o corpo. Os entomologistas (que estudam o mosquito) estão ganhando dos virologistas que tratam da doença. Em oito anos de corrupção, Fernando Henrique Cardoso não cometeu uma só boa ação e se despede matando os pobres coitados que tanto esperavam do bravo rapaz exilado no Chile.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Momento histórico - (A verdadeira história das eleições de 89)

Nunca é demais lembrar e pontuar de que lado está  a "velha mídia", a Globo, que em 89 auxiliou Collor a ser Presidente, e que vemos hoje, ao lado de Folha, Estadão, Veja (contando com uma maioria importante de seus articulistas, comentaristas e apresentadores para isso), combatendo, como fossem seus defensores, à democracia, que tem ido, goste-se ou não do Governo Lula, em um caminho verdadeiramente inclusivo, na teoria e na prática.

Os Donos Da Mídia

por César Branco Borges
em "in Boicote à Globo"                                                   
no Facebook

Não deixem de acessar esse magnifico site que reune preciosas informações sobre quem controla a mídia em nosso país. As informações ali reunidas podem ser de grande utilidade para aqueles que estudam os meios de comunicação ou para aqueles que se interessam pela questão da concentração de poder midiático no Brasil. Nele vc pode ver quem controla as principais cadeias midiaticas , onde se situam os proncipais conglomerados ,suas relações com partidos politicos e grupos empresariais. O site é muiito bem estruturado e de facil utilização. 

Reproduzo aqui o texto de abertura da parte do site que fala sobre as redes de tv. Divirtam - se: http://www.donosdamidia.com.br/ 

"No Brasil, o Sistema Central de Mídia é estruturado a partir das redes nacionais de televisão. Mais precisamente, os conglomerados que lideram as cinco maiores redes privadas (Globo, Band, SBT, Record e Rede TV!) controlam, direta e indiretamente, os principais veículos de comunicação no País. Este controle não se dá totalmente de forma explícita ou ilegal. Entretanto, se constituiu e se sustenta contrariando os princípios de qualquer sociedade democrática, que tem no pluralismo das fontes de informação um de seus pilares fundamentais. 

Desde a década de 60, a configuração do sistema de redes nacionais foi sendo construída com duas características básicas: forte apoio dos recursos públicos e um modelo de negócios baseado na afiliação de grupos regionais privados a esses conglomerados nacionais. Até hoje, cerca de um terço das prefeituras municipais e outra parcela substancial de empresas públicas estaduais financiam a interiorização dos sinais das redes comerciais. 

O gráfico ao lado mostra o número de veículos ligados às {num_redestv} redes nacionais de TV identificadas pelo projeto Donos da Mídia. E, por exclusão, aqueles que não possuem relação de dependência com elas. Considera-se veículos vinculados às redes nacionais todas as emissoras de TV geradoras ou retransmissoras do sinal da cabeça-de-rede. Além disso, estão incluídos todos os demais veículos controlados pelos grupos regionais afiliados. Neste último bloco, são contabilizadas as estações de rádio, jornais, revistas e operadoras de TV por assinatura". 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Trégua de Natal

                                                                    


Era noite de Natal de 1944. O menino e a mãe moravam em uma cabana na Alsácia, perto da fronteira Franco-alemã. O pai fora convocado para o Corpo de Bombeiros da Defesa Civil da cidade, que distava seis quilômetros.
Enviar o filho e a esposa para a floresta lhe tinha parecido uma boa ideia. Acreditou que ambos estariam a salvo.
Então, bateram à porta. A senhora foi abrir. Do lado de fora, como fantasmas contra as árvores cobertas de neve, estavam dois homens de capacetes de aço.
Um deles falou em uma língua estranha. Apontou para um terceiro vulto que jazia na neve.
Rapidamente, a mulher entendeu. Eram soldados americanos. Difícil dizer se eram amigos ou inimigos.
Eles estavam armados e poderiam ter forçado a entrada. No entanto, estavam ali parados, suplicando com os olhos.
Nenhum deles compreendia o alemão. Mas um deles entendia o francês.
A um sinal da mulher, entraram na casa conduzindo o ferido. O filho foi buscar neve para esfregar nos pés azuis de frio de todos eles.
O ferido estava com uma bala na coxa. Havia perdido muito sangue.
Eram três meninos grandes, de barba crescida: Gary, Fred e Mell.
Ema pediu ao filho que fosse buscar Schultz, o galo. Ela o estava guardando para quando o marido voltasse para casa. Talvez no Ano Novo. Mas agora Schultz serviria a um objetivo imediato e urgente.
Dali a pouco o aroma tentador do galo assado invadia a sala.
O menino punha a mesa quando bateram de novo à porta. Esperando encontrar mais americanos, depressa ele foi abrir.
O sangue lhe gelou nas veias. Lá estavam quatro soldados usando fardas muito conhecidas, depois de cinco anos de guerra. Eram alemães.
A pena por abrigar soldados inimigos era crime de alta traição. O garoto ficou parado, gélido, sem reação.
Ema se aproximou. Com calma nascida do pânico, ela desejou Feliz Natal.
Podemos entrar? - Perguntou o cabo alemão. Era o mais velho deles: 23 anos. Os outros tinham somente 16 anos.
Sim. - Falou Ema. E também poderão comer até esvaziar a panela. Mas temos três convidados que vocês poderão não considerar amigos.
Hoje é dia de Natal e não vai haver tiroteio. Coloquem todas as armas sobre a pilha de lenha.
Os quatro ficaram olhando para ela, indecisos.
Nesta noite única, - ela continuou - nesta noite de Natal, vamos esquecer a matança. Afinal de contas, vocês todos poderiam ser meus filhos. Hoje à noite não há inimigos.
Os soldados obedeceram. Entraram.
Os americanos também entregaram as armas, que foram parar em cima da mesma pilha de lenha.
Alemães e americanos se aglomeraram, tensos, na sala apertada.
Sem deixar de sorrir, Ema providenciou lugar para todos se sentarem.
Ela aumentou a ceia com aveia e batatas, um pão de centeio.
Um dos alemães examinou o ferido. A calma foi substituindo a desconfiança.
Com os olhos cheios de lágrimas, Ema pronunciou a oração: Senhor Jesus, Amigo e Mestre, sê nosso hóspede.
Em volta da mesa, havia lágrimas também nos olhos cansados da luta daqueles soldados. Meninos outra vez, uns da América, outros da Alemanha, todos longe dos seus lares.
No dia seguinte, eles tomaram das armas e cada grupo partiu para um rumo diferente, depois de terem se apertado as mãos em despedida.
Então, Ema entrou. Abraçada ao filho, abriu o Evangelho e leu na página da história do Natal, o nascimento de Jesus, a chegada dos magos vindos de longe.
Com o dedo ela acompanhou a última linha: ... E partiram para sua terra por outro caminho.
*   *   *
Estamos vivendo as vésperas do Natal de Jesus.
Proponhamos nosso armistício particular. Isso mesmo. Pensemos em alguém com quem nos tenhamos desentendido, magoado, ferido.
Agora é a hora de estender a mão, de perdoar, de abraçar.
Em nome de um Menino que veio pregar a paz e o amor.
Pensemos nisso! Mas pensemos agora!

Redação do Momento Espírita, com base no cap. Quatro horas, do livro Remotos cânticos de Belém, de Wallace Leal Rodrigues, ed. O clarim.
Em 21.12.2010.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O pronunciamento de Lula - 23/12/2010

Com o pedido de apoio à presidente eleita, Dilma Rousseff, “em todos os momentos”, o presidente Lula pontuou o último pronunciamento, transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão, com prestação de contas à Nação de seus dois mandatos no comando do Brasil. Para ele, este apoio “também significa cobrar, na hora certa, como vocês souberam me cobrar”. Ele pediu que os cidadãos não perguntem sobre o seu futuro, mas sim “pelo futuro do Brasil!” e afirmou que sua felicidade estará sempre ligada à felicidade do povo.
“Saio do governo para viver a vida das ruas. Homem do povo que sempre fui, serei mais povo do que nunca, sem renegar o meu destino e jamais fugir à luta. Não me perguntem sobre o meu futuro, porque vocês já me deram um grande presente. Perguntem, sim, pelo futuro do Brasil! E acreditem nele. Porque temos motivos de sobra para isso. Minha felicidade estará sempre ligada à felicidade do meu povo. Onde houver um brasileiro sofrendo, quero estar espiritualmente ao seu lado. Onde houver uma mãe e um pai com desesperança quero que minha lembrança lhes traga um pouco de conforto. Onde houver um jovem que queira sonhar grande, peço-lhe que olhe a minha história e veja que na vida nada é impossível.”
Nesta última parte da fala -- com duração de quase 11 minutos -- o presidente se dedicou a agradecer “a vocês por terem me ensinado muitas lições. E por terem me fortalecido nas horas difíceis e ampliado minha alegria nas horas alegres”. “Vivi no coração do povo e nele quero continuar vivendo até o último dos meus dias. Mais que nunca, sou um homem de uma só causa e esta causa se chama Brasil! Um feliz Natal e próspero Ano Novo a todos vocês e muito obrigado por tudo”, concluiu.
Lula iniciou o pronunciamento lembrando que deixará a Presidência da República dentro dos próximos dias. Para ele, os últimos oito anos “foram oito anos de luta, desafios e muitas conquistas. Mas, acima de tudo, de amor e de esperança no Brasil e no povo brasileiro”. E prosseguiu:”Com muita alegria, vou transmitir o cargo à companheira Dilma Rousseff, consagrada nas urnas em uma eleição livre, transparente e democrática. Um rito rotineiro neste país que já se firmou como uma das maiores democracias do mundo.
Ouça abaixo a íntegra do pronunciamento oficial do presidente Lula.

Para você ganhar um belíssimo Ano Novo...


Carlos Drummond Andrade       


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?) 


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver. 


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Brasil: Um balanço resumido e equilibrado na Imprensa...de fora!

Arianna Huffington: It Might Be Time to Rebrand It the South American Dream

2010-12-23-lula.jpg
AP
Arianna Huffington: Sao Paulo, Brazil - Brazil's economic expansion -- the Brazilian Boom -- is all the more remarkable because the country's problems were long thought to be intractable: high inflation, high crime rate, high income inequality. Among all the changes happening here, the most transformative is the number of people entering the middle class. Between 2003 and 2009, 29 million people took that step up the socioeconomic ladder. As a result of the economic good times, Brazilians have an exceptionally optimistic outlook on their future. Indeed, in many ways Brazil has become like a photo negative of America. Brazilians are increasingly living the American Dream of upward mobility, while nearly two-thirds of Americans no longer believe their children will live better lives than they did. Maybe we need to rebrand it the South American Dream. Click here to read more.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Do Blog do Planalto - A "desfaçatez" de "O Globo"

Balanço da Era Lula no Globo: Olho torto entorta a vista

Quem leu ou vier a ler o caderno especial do jornal O Globo sobre a Era Lula não terá dúvida: a direção do jornal, seus editores e analistas estão entre os 3% a 4% de brasileiros que consideram o Governo Lula ruim ou péssimo.
Para eles, a aprovação de mais de 80% alcançada pelo presidente Lula e seu governo ao final de oito anos de mandato é um mistério. Talvez uma ilusão ou uma hipnose coletiva, que estaria impedindo o povo de enxergar a realidade. Para O Globo e seus analistas, o Brasil avançou muito pouco na Era Lula e os poucos avanços teriam sido apesar do governo e não por causa de suas ações.
Como disse o presidente Lula no dia em que registrou em cartório o seu legado, a imprensa não tem interesse nas ações construtivas do governo, ela prefere focalizar as destrutivas. Cabe ao próprio governo fazer chegar à sociedade o contraponto.
Por isso, o Blog do Planalto consolida aqui as contestações feitas pelo governo ao balanço da Era Lula publicado pelo Globo no último domingo. Os textos tiveram a colaboração dos ministros Celso Amorim, das Relações Exteriores, Luiz Paulo Barreto, da Justiça, José Gomes Temporão, da Saúde, Fernando Haddad, da Educação, e Paulo Passos, dos Transportes, da Subchefe de Acompanhamento e Monitoramento da Casa Civil e futura ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, Maurício Muniz da Casa Civil, Marcia Quadrado do Ministério do Desenvolvimento Agrario, e Yuri Rafael Della Giustina, Ministério das Cidades.
A edição final é da chefe do Gabinete Adjunto de Informações em Apoio à Decisão do Gabinete Pessoal do Presidente, Maya Takagi.
Aqui está o ponto de vista do governo que O Globo se recusa a considerar e transmitir aos seus leitores. São os avanços reais do Brasil na Era Lula. Um Brasil que avançou muito, mas precisa avançar mais. Um Brasil que continuará avançando com a presidenta Dilma, que a maioria do País elegeu para continuar a era de transformações e de desenvolvimento com justiça social e altivez, iniciada por Lula.
- Transportando gente e tecnologia na velocidade do futuro