terça-feira, 27 de julho de 2010

Carta do embaixador da Venezuela ao dito "Estadão"

 25 julho 2010* 
AO Estado de S.Paulo* 
Sr. Ruy Mesquita diretor de Opinião* 
Sr. Antonio Carlos Pereira editor responsável de Opinião* 
Sr. Ricardo Gandour editor de Conteúdo* 

Senhores,

É com grande preocupação e mal-estar que a República Bolivariana da
Venezuela, por meio de seu Embaixador no Brasil, dirige-se a esse jornal, de
reconhecidas qualidade e tradição entre os veículos da imprensa brasileira.
E a razão não é outra senão nossa surpresa e indignação com os termos e o
tom de que sua edição de hoje (20/07/10) lança mão para atacar o presidente
de um país com o qual o Brasil e os brasileiros mantêm relações do mais alto
nível e qualidade.

O respeito à plena liberdade de imprensa e de expressão é cláusula pétrea
de nossa Constituição e valor orientador do governo de nosso país. A estas
diretrizes, no entanto, cremos que devam sempre estar associadas a lhaneza
na referência a autoridades constituídas democraticamente eleitas e a plena
divulgação de todos os fatos associados a uma cobertura jornalística. 

Cremos descabido que um jornal como O Estado de S.Paulo se refira ao
presidente Hugo Chávez, eleito e reeleito pelo voto livre da maioria dos
venezuelanos, com o uso de termos e expressões como lúgubre circo de Chávez,
autocrata, protoditador, circo chavista, caudilho, lúgubre picadeiro,
costumeira ferocidade, rugiu, toque verdadeiramente circense da ofensiva
chavista no gênero grand guignol. 

Mais graves ainda são a distorção e ocultação de informações que maculam os
textos hoje publicados. 

O presidente Hugo Chávez nunca atropelou a Constituição Bolivariana,
instituída por Assembleia Nacional e referendada em plebiscito. Ao
contrário, submeteu-se, inclusive, a referendo revogatório de seu próprio
mandato, prática democrática avançada que pouquíssimos países do mundo têm o
orgulho de praticar. 

O editorial omite que o cardeal Jorge Savino já foi convocado pela
Assembleia Nacional para apresentar provas de sua campanha difamatória
frente aos deputados também democraticamente eleitos , mas o mesmo rechaçou
a convocação. Prefere manter suas acusações deletérias a apresentar aos
venezuelanos e à opinião pública internacional os fatos que lastreariam suas
seguidas diatribes.

Outros trechos do texto só podem ser lidos como clara campanha de
acobertamento de um terrorista, como o é, comprovadamente, Alejandro Peña
Esclusa: O advogado de Esclusa assegura que o material foi plantado pelos
policiais que invadiram a casa de seu cliente - considerando o retrospecto,
uma acusação mais do que plausível  

Esclusa foi preso em sua residência em posse de explosivos, detonadores e
munição, após ter sido denunciado, em depoimento à polícia, pelo terrorista
confesso Francisco Chávez Abarca - este criminoso, classificado com o alerta
vermelho da Interpol, foi preso em solo venezuelano quando dirigia operação
de terror, visando desestabilizar o processo eleitoral de setembro deste
ano.

A prisão de Esclusa ocorreu de forma pacífica, com colaboração de sua
família, e segue os ritos jurídicos normais: ele tem advogado constituído,
direito a ampla defesa e será julgado culpado ou inocente de acordo com o
entendimento da Justiça, poder independente de influência governamental ou
partidária, assim como no Brasil. 

Inadmissível seria o governo da Venezuela ter permitido que um terrorista
ceifasse vidas e pusesse em risco a democracia, que nos esforçamos
arduamente para defender, ampliar e aprimorar em nosso país, assim como o
fazem, no Brasil, os brasileiros. 

O Estado de S.Paulo tem pleno conhecimento desses fatos, tendo inclusive
recebido, em 14/07/10 a Nota de Esclarecimento desta Embaixada, a respeito
do desbaratamento da operação terrorista internacional que estava em curso
(cópia anexa). O responsável pela editoria Internacional, Roberto
Lameirinhas, inclusive confirmou seu recebimento à nossa assessoria de
comunicação.

Daí manifestarmos nossa estranheza com a reiterada negativa do jornal em
dar tais informações a seus leitores. E ainda tomando como verdade
declarações do advogado do referido terrorista.

Temos certeza que os senhores não desconhecem, até pela história recente do
Brasil, o quão frágil pode ser a liberdade diante do autoritarismo tirano da
intolerância e do uso do terror como método de ação política. 

Reafirmamos que não nos cabe emitir qualquer juízo de valor sobre as
opiniões político-ideológicas do jornal dirigido por V. Sas., por mais que
delas discordemos. O que nos leva a enviar-lhes esta correspondência é, tão
somente, a solicitação de que se mantenha a veracidade jornalística e o
respeito que se deve sempre às pessoas, sejam ou não autoridades
constituídas, mesmo quando o jornal as considere, de moto próprio, como seus
inimigos ou desafetos.

Esta Embaixada permanece à disposição do jornal e de seus leitores, para
esclarecimentos adicionais sobre quaisquer dos assuntos supracitados, bem
como de novos temas julgados pertinentes e reivindica, formalmente, a
publicação da presente carta, com o mesmo destaque dado ao editorial de
hoje, intitulado O lúgubre circo de Chávez, publicado à página A3. 

Atenciosamente,

Maximilien Arvelaiz
Embaixador da República Bolivariana da Venezuela no Brasil
Brasília, DF

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