sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Aonde investem os capitais especulativos depois da crise imobiliária

Mais uma vez posto aqui, agora um trecho, da 2ª de uma série de reportagens sobre economia mundial, feitas por Miguel Giribets e postadas originalmente no ARGENPRESS.

O intuito, é alertar, ou apenas tentar demonstrar para que não se enganem, que essa notícia que vai surgindo nos tablóides mundiais de maior destaque (praticamente todos vendidos aos senhores do capital especulativo atrás de suas "migalhas"), sobre a questão da produção de alimentos no mundo, é falaciosa e tem endereço certo.

Todos os textos desta série se encontram cá no blog e são consistentes, com gráficos e dados extraídos de órgãos confiáveis, pelo menos quando lhes convém ou não lhes afetam os interesses, e no caso dos alimentos, o texto é claro ao afirmar que a necessidade alimentar mundial poderia ser suprida, se o "capital", esse ser sem rosto, não fosse tão incivilizado (com tudo que cabe nesta e gera, a incivilidade!).

A quem interessar possa, os demais textos sobre a economia mundial e como ela tem funcionado e se comportado após a "bolha imobiliária" dos "states", que fazem corar amoral, podem ser encontrados, pela ordem, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.


Depois da "bolha imobiliária", os capitais especulativos estão buscando outros refúgios.

a) Um dos mais importantes, é o preço dos alimentos. Pois se havia alguma dúvida, em novembro de 2009 a financeira Société Générale, sentenciava que os alimentos são um "valor seguro" de cara para o futuro.Um dos mais importantes é o preço dos alimentos. Os preços de venda do arroz e do milho (base alimentícia na América Latina e Ásia), estavam "malucos" em 2009: o milho era já uns 50% mais caro que 3 anos atrás e o arroz, uns 115%. Estes preços ainda seguem subindo espetacularmente em 2010. Além disso, aos especuladores de contratos futuros, lhes cairam bem os problemas de safra na Rússia, Ucrânia e outros lugares da Europa, pra encontrarem justificativa para seus erros e assegurar os preços altos.

O que está acontecendo com o preço dos alimentos, é um drama anunciado: praticamente a metade da população mundial, vive com menos de um dólar por dia (o mínimo que fixa o Banco Mundial como limite da pobreza extrema), dos quais 1.000 milhões padecem de desnutrição crônica e dos quais 158 milhões são crianças.

Segundo a ONU, para a Agricultura e Alimentação (FAO), 34 países estão neste momento em crise alimentar, a maioria na África subsaariana). A ONU adverte sobre o perigo da fome para 100 milhões de pessoas, ou que seus programas de ajuda que alimentam a 90 milhões de pessoas, podem dar em nada como consequência da subida dos preços. Jean Ziegler, comissário da ONU para a Alimentação, fala em "assassinato massivo silencioso".

Mas o problema é ainda mais sério: a crise alimentar esta fazendo já estragos nesses 1.000 milhões de pessoas com desnutrição crônica em áreas da América Latina, Caribe e África subsaariana; conforme a crise avance, o seguinte coletivo é de menos de dois dólares de ingresso diário, com o que em poucos anos a fome crônica afetará à metade da população mundial. Para a outra metade, as dificuldades econômicas para comprar alimentos, serão crescentes. Estamos ante uma verdadeira tragédia para toda a Humanidade.

Ao contrário, a capacidade de produzir alimentos é, sem dúvida, maior que nunca. Um informe da Food Policy Research Institute diz, que podemos produzir alimentos de sobra para toda a população mundial. Na realidade hoje se produzem alimentos para alimentar o dobro da população do Planeta.

Alguns exemplos do que a política neoliberal faz com os preços dos produtos agrícolas: O Haiti se autoabastecia de arroz, há alguns anos.  Com a liberalização de mercados, chegou arroz barato (subvencionado), dos Estados Unidos e arruinou a produção local; agora o preço do arroz está nas nuvens. O mesmo problema começa a afetar as Filipinas a conseguir arroz das importações e não da produção própria. O Quênia, produzia alimentos suficientes para sua população há 25 anos: hoje, importa 80% dos alimentos. 70% dos países pobres são importadores natos, de alimentos.

A produção de biocombustíveis é outro elemento que dispara os preços dos alimentos. Os próprios economistas neoliberais calculam que a fabricação de biocombustíveis incide em uns 25 a 30% dos incrementos nos preços dos alimentos.

Ao estourar a bolha imobiliária, entre 150.000 e 270.000 milhões de dólares se lançaram a especular com os preços a futuros (commodities), das matérias primas agrícolas nos últimos meses de 2007 (fonte: a consultora norte-americana Lehman Brothers). No primeiro bimestre de 2008 a especulação somou outros 40.000 milhões de dólares mais e as cifras crescem ano após ano. No ano 2000, tão "só" 5.000 milhões de dólares especulavam com o preço dos alimentos.

Pois se tudo isso fosse pouco, os preços das matérias primas em 2009, estavam caindo nitidamente, com repercussões terríveis para as economias do Terceiro Mundo. Por exemplo, a soja chegou a um preço de 600 dólares/tonelada antes da crise, mas agora está na metade (a soja é o principal produto de exportação do Brasil, Argentina e Paraguai). Os preços dos minerais vão pelo mesmo caminho, afetando especialmente aos países andinos e sobretudo Brasil e Argentina. O cobre tem o mesmo preço que em 2005. estes países tentam compensar a queda dos preços com uma maior exploração dos trabalhadores (com consequências laborais). Quase 90% da população da América Latina e 95% do PIB, dependem dos preços das matérias primas.

b) O ouro é outro dos refúgios favoritos dos capitais que até há 3 anos especularam com a bolha imobiliária. Seu preço em 2009 é uns 58% superior a 2008. O comércio do ouro chegou aos 20.000 milhões de dólares en janeiro-novembro de 2008, com um crescimento de 45% em relação a igual período do ano anterior. O comércio de futuros do ouro aumentaram uns 80% em 2008, alcançando a cifra de 5,1 bilhões de dólares. O preço dos valores futuros do ouro em março, chega a 1.000 dólares a onça em fevereiro de 2009; em 2001, o preço do ouro estava em 200 dólares. Nos primeiros 9 meses de 2010, o ouro multiplicou seu preço por seis. De 250 dólares/onça em 2003, chega aos 1.258 dólares/onça em junho passado e a 1.280,8 dólares/onça em setembro de 2010.

A prata também subiu de preço em uns 39% em 2009, com relação a 2008. O comércio de futuros da prata cresceu uns 60% em 2008 e alcançou a cifra de 1,2 bilhões de dólares.

c) O petróleo também serve de valor-refúgio aos capitais especulativos. Uma vez que vem mantendo um preço elevado sem nenhuma justificativa e os valores a futuro, apontam uma situação ainda pior. O preço do petróleo passou dos 45 dólares/barril em janeiro de 2009 a 77 dólares/barril tão somente 10 meses depois. Um dos motivos do ataque ao Irã, seria que "justificaria" que o  preço do petróleo se pusera nas nuvens.

d) Outro ponto curioso da especulação, é o mercado de CO2, que movimentou 350 milhões de euros diários em 2009

e) A bolsa é a fonte de especulação clássica do capitalismo, desde a segunda metade do século XIX. Mas é sobretudo a partir do ciclo neoliberal (ver gráfico mais abaixo), quando alcança níveis fora de toda a lógica.. “Nos Estados Unidos, à parte do setor financeiro na capitalização de estoque passou de 5,2% em 1980 à 23% em 2007.” (17)


f) a dívida pública, a que dedicamos um capítulo especial para "continuação".la deuda pública, à que dedicamos um capítulo especial, como continuação.

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