terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Nós vamos a um novo surto da crise: sem recuperação econômica... De que se nutre o capital especulativo

Caso não tenha lido à 1ª parte (está logo abaixo), sugiro que leia para um melhor entendimento desta continuaçao, por si, bastante esclarecedora e educativa, apesar de longa.


Miguel Giribets (especial para ARGENPRESS.info)
Parte 2 - continuação
A emissão ilimitada de dólares sem respaldo econômico real, é o maior entrave nunca visto em toda História da Humanidade. "Em 1971, Richard Nixon (o presidente nº 37 dos Estados Unidos, de 1969 a 1974), anulou a convertibilidade do dólar em ouro, ao mesmo tempo, a garantia do Estado sobre o valor do dólar. Desde então, o valor do dólar não está em correspondência com as reservas de ouro, nem está garantido pelo Estado. Trata-se, portanto, da moeda privada livre do FED. Mas a massa monetária de dólares que o FED põe em circulação (desde de março de 2006, o FED não publica mais a cifra da massa monetária), converteu-se em um problema sem solução: a massa mundial de bens se quadruplicou durante os últimos 30 anos, mas a massa monetária se multiplicou por 40." (4) 



A emissão ilimitada de dólares, é o anúncio de um novo ciclo econômico - o neoliberalismo - onde seu caráter especulativo vai se acentuar cada vez mais.

Na atualidade, o capital especulativo opera com:

O dinheiro sujo. "Os tráficos ilegais, de armas, de drogas, de pessoas, são importantes fontes de acumulação de dinheiro, inicialmente trocado por valores, mas rapidamente tirado de circulação e que tende a reaparecer na compra de ativos muito especulativos. O mesmo que a existência e auge dos chamados - paraísos financeiros - tem possibilitado que grandes somas possam escapar dos controles e dos impostos de todos os países. Estes "escondites", que tem como objetivo inicial a evasão de impostos e controle, tem se convertido em sedes de fundos de investimentos de bancos de diferentes países, convertendo-se assim em uma peça chave no tecido das finanças globais." (5)


Grande parte do sistema financeiro mundial funciona, graças ao narcotráfico. Em dezembro de 2009, o Escritório contra as Drogas e Crimes informa que o dinheiro preveniente da delinquência foi o único "investimento de capital" líquido no segundo semestre de 2008; a cifra é de 352.000 milhões de dólares, que salvou muitos bancos da quebra.  "Em um mercado finaceiro em crise e falto de liquidez, o narcotráfico tem servido para resgatar alguns bancos do colapso ao atuar como fonte de capital líquido" segundo afirma o diretor deste Escritório, o italiano Antonio Maria Costa." (6)  Kieran Beer, ex-funcionária do Tesouro norte-americano durante o governo Bill Clinton, explica a chave do assunto: "As regulações dos bancos nacional e internacional são frouxas e permitem acobertar as transações ilegais; a nenhum governo convém arruinar aos bancos privados e menos aos Estados Unidos." (7)

"O banco Wells Faro, qque comprou o Wachovia em 2008, admitiu que entre 2004 e 2007 "não fez o suficiente" para detectar fundos ilícitos no manejo de 378.400 milhões de dólares, muito superior ao PIB argentino inteiro." (8). O que quer dizer que o banco admitiu esses fundos, sabendo sua origem. “Martin Woods, um diretor da unidade "anti-lavagem" do Wachovia em Londres. disse que renunciou a seu posto "desgostoso porque os executivos ignoravam  seus relatórios que que os narcos lavavam dinheiro através das sucursais desse banco." (9)

Os Estados Unidos são um dos maiores produtores do mundo de maconha, chegando a produzir 10.000 toneladas métricas por ano, além de ser o maior consumidor de drogas do planeta. Um terço da cocaína que se produz em todo o mundo, se consome nos EUA, assim como a maior parte da droga que se cultiva no Afganistão.  Este é um negócio que movimenta 100.000 milhões de dólares ao ano, um dos principais negócios do país. O presidente Clinton reconheceu que em seu país se consome metade da droga do mundo.

b) Os fundos de investimentos privados.  A desregulamentção financeira permite que se construam grandes fundos de investimento privados, que buscam uma alta rentabilidade a curto prazo."por exemplo, grandes fundos que recorrem a investimentos mundais em qualquer de suas múltiplas formas e que pertencem a países estratores de petróleo. O valor gerado pelos recursos não renováveis é substituído por recursos financeiros internaconais." (10) "Atualmente em muitos países existem arrochos da cidadania que são geridos em forma de fundos de investimentos, também fundos criados para financiar pensões privadas futuras, normalmente depositadas em instituições financeiras que também os gerem. Os fundos de investimentos e sobretudo os fundos de pensão alcançam volumes muito grandes e são uns dos principais agentes na economia financeira." (11)  "Os planos de pensão da Ford, General Motors e Chrysler, duplicou em 1995, as reservas do Japão, mais do que as de qualquer outro país." (12)

c) A ingerência financeira: a secutização da dívida. Os bancos "além de dar hipotecas fáceis a seus cidadãos, geraram inovações financeiras múltiplas para rentabilizar seus capitais. Estabeleceram um mecanismo denominado securitização, em que transformam os créditos de longo prazo (hipotecas e outros créditos que eles possuam em seus ativos), em valores a curto prazo derivados destes créditos. Logo, combinavam estes valores em que vendiam às demais instituições finaceiras de todo o mundo. Estes efeitos, aparentemente criam riqueza, ainda que esta seja muito mais financeira que real, e aumentam a demanda. Sobre eles se estabeleceram os fundos de investimentos, os fundos de pensão, a alavancagem, junto com outras muitas operações financeiras de grande complexidade como os fundos especulativos (hedge funds), operações com derivados, obrigações estruturadas, empréstimos subordinados, opções de futuro que "jogam" entre si com a referência, cada vez mais remota para produtos como commodities, moedas, ações, dívidas dos estados, etc, etc."

"A filiação dos títulos de ativos é uma das múltiplas facetas da titularização, mais difundidas, técnica considerada como uma genial inovação dos criadores de acordos financeiros contra o risco em um sistema que nubla a composição de produtos sintéticos que dele resultam. Estes títulos conheceram um crescimento espetacular; passaram de 400 mil milhões a 2,5 bilhões de dólares desde 1995, até princíos do ano 2008. Foram-se fazendo cada vez mais complexos com a criação de "títulos derivados de títulos" (collateralized debt obligations), quer dizer, reagrupamentos de amálgamas de títulos diversos, resultado de um duplo preocesso de titulação, cuja nebulosidade, contribuiu em grande medida à precipitação das difuculdades que se foram manifestando a partir do verão de 2007." (14)

d) A engenharia financeira: os valores a futuro. "Além dos produtos financeiros tradicionais (ações e obrigações), tem-se criado muitos outros. Entre eles os produtos financeiros derivados, que são papéis cujo valor depende ou "deriva" de um ativo subjacente e que se coloca com fins especulativos nos mercados financeiros. Os ativos subjacentes podem bem ser um bem (matérias primas e alimentos: petróleo, cobre, arroz, soja, etc,), um ativo financeiro (uma moeda), ou inclusive uma cesta de ativos financeiros. Assim, os preços das matérias primas e de alimentos essenciais, já não dependem somente da oferta e da procura e sim da cotação destes papéis especulativos e desse modo, os alimentos podem aumentar (e aumentam) de maneira abusiva, em prejuízo da população e em benefício dos especuladores. Por exemplo, quando se anuncia que se fabricaram biocombustíveis, os especuladores "antecipam" que o preço dos produtos agrícolas (tradicionalmente destinados à alimentação), aumentarão e então o papel financeiro (produto derivado), que os apresenta se cota mais alto, o que repercute no preço real que paga o consumidor, pelos alimentos." (15)

O mercado de derivados chegava em 2008 aos 600 bilhões de dólares (fonte: Banco da Basiléia, 2008). A cifra se pode comparar com o PIB mundial, que foi em 2007 de 58 bilhões de dólares; com o PIB dos países da UE, que foi de 19 bilhões de dólares em 2008; ou com o PIB dos Estados Unidos, que em 2008, foi de 14 bilhões de dólares.

Na realidade, o total de capitais especulativos, se podem estimar que beira os 1.000 bilhões de dólares, quer dizer, quase 15 vezes o PIB do globo e 60 vezes o total dos ativos fiscais dos países do G-7, 4 bilhões de dólares são ativos "tóxicos" dos bancos mundiais. (dados do FMI: abril 2009)

"São, sobretudo, um pequeno número de conglomerados financeiros que dominam o negócio dos derivados e serviços conexos; e estão fortemente interconectados pelas relações comerciais que mantém entre eles. Os três maiores "dealers" em derivados da Wall Street, são Goldman Sachs, JP Morgan, e BanK of América, que agora, são proprietários de Merrill Lynch, Citigroup e Morgan Stanley. E entre os europeus, os maiores atores nos mercados de derivados são Credit Suisse, Deutsche Bank, HSBC e UBS.

"Em finais de 2009, eram parte de 96% das operações de derivados OTC realizadas pelas holdings de 25 bancos estado-unidenses e que são avaliadas em 293 bilhões (trilhão). A continuação da crise durante o ano de 2009, não foi obstáculo para que os bancos estadounidenses ganhassem um mínimo de 28.000 milhões de dólares no negócio dos derivados. (16)

Antes da crise, 40% dos benefícios das empresas dos Estados Unidos e da Europa, provinham de especulação financeira.

Aonde investem os capitais especulativos depois da crise imobiliária?

Depois da "bolha imobiliária", os capitais especulativos estão buscando outros refúgios.

a) Um dos mais importantes, é o preço dos alimentos. Pois se havia alguma dúvida, em novembro de 2009 a financeira Société Générale, sentenciava que os alimentos são um "valor seguro" de cara para o futuro.Um dos mais importantes é o preço dos alimentos. Os preços de venda do arroz e do milho (base alimentícia na América Latina e Ásia), estavam "malucos" em 2009: o milho era já uns 50% mais caro que 3 anos atrás e o arroz, uns 115%. Estes preços ainda seguem subindo espetacularmente em 2010. Além disso, aos especuladores de contratos futuros, lhes cairam bem os problemas de safra na Rússia, Ucrânia e outros lugares da Europa, pra encontrarem justificativa para seus erros e assegurar os preços altos.

O que está acontecendo com o preço dos alimentos, é um drama anunciado: praticamente a metade da população mundial, vive com menos de um dólar por dia (o mínimo que fixa o Banco Mundial como limite da pobreza extrema), dos quais 1.000 milhões padecem de desnutrição crônica e dos quais 158 milhões são crianças.

Segundo a ONU, para a Agricultura e Alimentação (FAO), 34 países estão neste momento em crise alimentar, a maioria na África subsaariana). A ONU adverte sobre o perigo da fome para 100 milhões de pessoas, ou que seus programas de ajuda que alimentam a 90 milhões de pessoas, podem dar em nada como consequência da subida dos preços. Jean Ziegler, comissário da ONU para a Alimentação, fala em "assassinato massivo silencioso".

Mas o problema é ainda mais sério: a crise alimentar esta fazendo já estragos nesses 1.000 milhões de pessoas com desnutrição crônica em áreas da América Latina, Caribe e África subsaariana; conforme a crise avance, o seguinte coletivo é de menos de dois dólares de ingresso diário, com o que em poucos anos a fome crônica afetará à metade da população mundial. Para a outra metade, as dificuldades econômicas para comprar alimentos, serão crescentes. Estamos ante uma verdadeira tragédia para toda a Humanidade.

Ao contrário, a capacidade de produzir alimentos é, sem dúvida, maior que nunca. Um informe da Food Policy Research Institute diz, que podemos produzir alimentos de sobra para toda a população mundial. Na realidade hoje se produzem alimentos para alimentar o dobro da população do Planeta.

Alguns exemplos do que a política neoliberal faz com os preços dos produtos agrícolas: O Haiti se autoabastecia de arroz, há alguns anos.  Com a liberalização de mercados, chegou arroz barato (subvencionado), dos Estados Unidos e arruinou a produção local; agora o preço do arroz está nas nuvens. O mesmo problema começa a afetar as Filipinas a conseguir arroz das importações e não da produção própria. O Quênia, produzia alimentos suficientes para sua população há 25 anos: hoje, importa 80% dos alimentos. 70% dos países pobres são importadores natos, de alimentos.

A produção de biocombustíveis é outro elemento que dispara os preços dos alimentos. Os próprios economistas neoliberais calculam que a fabricação de biocombustíveis incide em uns 25 a 30% dos incrementos nos preços dos alimentos.

Ao estourar a bolha imobiliária, entre 150.000 e 270.000 milhões de dólares se lançaram a especular com os preços a futuros (commodities), das matérias primas agrícolas nos últimos meses de 2007 (fonte: a consultora norte-americana Lehman Brothers). No primeiro bimestre de 2008 a especulação somou outros 40.000 milhões de dólares mais e as cifras crescem ano após ano. No ano 2000, tão "só" 5.000 milhões de dólares especulavam com o preço dos alimentos.

Pois se tudo isso fosse pouco, os preços das matérias primas em 2009, estavam caindo nitidamente, com repercussões terríveis para as economias do Terceiro Mundo. Por exemplo, a soja chegou a um preço de 600 dólares/tonelada antes da crise, mas agora está na metade (a soja é o principal produto de exportação do Brasil, Argentina e Paraguai). Os preços dos minerais vão pelo mesmo caminho, afetando especialmente aos países andinos e sobretudo Brasil e Argentina. O cobre tem o mesmo preço que em 2005. estes países tentam compensar a queda dos preços com uma maior exploração dos trabalhadores (com consequências laborais). Quase 90% da população da América Latina e 95% do PIB, dependem dos preços das matérias primas.

b) O ouro é outro dos refúgios favoritos dos capitais que até há 3 anos especularam com a bolha imobiliária. Seu preço em 2009 é uns 58% superior a 2008. O comércio do ouro chegou aos 20.000 milhões de dólares en janeiro-novembro de 2008, com um crescimento de 45% em relação a igual período do ano anterior. O comércio de futuros do ouro aumentaram uns 80% em 2008, alcançando a cifra de 5,1 bilhões de dólares. O preço dos valores futuros do ouro em março, chega a 1.000 dólares a onça em fevereiro de 2009; em 2001, o preço do ouro estava em 200 dólares. Nos primeiros 9 meses de 2010, o ouro multiplicou seu preço por seis. De 250 dólares/onça em 2003, chega aos 1.258 dólares/onça em junho passado e a 1.280,8 dólares/onça em setembro de 2010.

A prata também subiu de preço em uns 39% em 2009, com relação a 2008. O comércio de futuros da prata cresceu uns 60% em 2008 e alcançou a cifra de 1,2 bilhões de dólares.

c) O petróleo também serve de valor-refúgio aos capitais especulativos. Uma vez que vem mantendo um preço elevado sem nenhuma justificativa e os valores a futuro, apontam uma situação ainda pior. O preço do petróleo passou dos 45 dólares/barril em janeiro de 2009 a 77 dólares/barril tão somente 10 meses depois. Um dos motivos do ataque ao Irã, seria que "justificaria" que o  preço do petróleo se pusera nas nuvens.

d) Outro ponto curioso da especulação, é o mercado de CO2, que movimentou 350 milhões de euros diários em 2009

e) A bolsa é a fonte de especulação clássica do capitalismo, desde a segunda metade do século XIX. Mas é sobretudo a partir do ciclo neoliberal (ver gráfico mais abaixo), quando alcança níveis fora de toda a lógica.. “Nos Estados Unidos, à parte do setor financeiro na capitalização de estoque passou de 5,2% em 1980 à 23% em 2007.” (17)


f) a dívida pública, a que dedicamos um capítulo especial para "continuação".la deuda pública, a la que dedicamos un capítulo especial a continuación.

Ver também:
Notas:
4.- Como foram inventados os pilares do sistema monetário mundial e quem tem se aproveitado de tudo isso, Red Voltaire 020308-
5.- Apontamentos teóricos para entender a crise, Seminario taifa, junho 2009-
6.- a ONU denuncia que o dinheiro da droga salvou a varios bancos da crise, publico, España 280109-.
7.- os grandes bancos lavam dinheiro do narcotráfico, KAOS EN LA RED, España 190710 Alejandro Guerrero | PRENSA OBRERA |-
8.- os grandes bancos lavam din heiro do narcotráfico, KAOS EN LA RED, España 190710 Alejandro Guerrero | PRENSA OBRERA |-
9.- os grandes bancos lavam dinheiro do narcotráfico, KAOS EN LA RED, España 190710 Alejandro Guerrero | PRENSA OBRERA |-
10.- Apontamentos teóricos para entender a crise, Seminario taifa, junho 2009-.
11.- Apontamentos teóricos para entender a crise, Seminario taifa, junho 2009-.
12.- Apontamentos teóricos para entender a crise, Seminario taifa, junho 2009-.
13.- Apontamentos teóricos para entender a crise, Seminario taifa, junho 2009-.
14.- L.Gill, A crise atual, Internet-
15.- A crise do sistema capitalista, A. Teitelbaum, ARGENPRESS 201008-
16.- a atual especulação sobre a alimentação mundial, REBELION, España 200910 Juan Hernández Vigueras -ATTAC-
17.- L.Gill, A crise atual, Internet-

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posso não publicar, baseado nas regras de civilidade que prezo. Obrigado.