terça-feira, 18 de outubro de 2011

Manchete Dominical Global Alienada

Fonte: 

IndependênciaSulAmericana





O moralismo econômico e político neoliberal, apegado à pregação do equilibrismo orçamentário religioso como necessário à saúde da macroeconomia capitalista, para manter sob controle a inflação e estimular os investimentos, é, sobretudo, burro.

Primeiro, porque equilibrio sob capitalismo é sonho de noite de verão. O sistema é, fundamentalmente, promotor do desequilíbrio. Sua principal função, para gerar lucro, é essa mesma, desequilibrar, a fim de elevar a taxa de retorno continuada e ampliada do capital. Quando essa reprodução ampliada não consegue mais ser realizada na produção, o capital descola dela e vai para a especulação, para fugir da deflação. Não é essa a expressão real da crise em curso em escala global, a partir da bancarrota financeiro-especulativa dos países ricos?

Em segundo lugar, a ação compensatória do governo para conter esse desequilíbrio, dando dinheiro para quem fica excluído do sistema, para não morrer de fome, representa, essencialmente, a salvação do próprio sistema, cuja lógica é a de produzir crônica insuficiência de consumo que condena a si mesmo às crises deflacionárias, ou seja, à morte.

Os programas sociais, segundo os neoliberais esquizofrênicos, representam custo, impedem, em contrapartida os investimentos etc.

Tal afirmação não tem o menor sentido. Basta observar que cada R$ 1 gasto em comida pelo pobre que recebe o subsídio deixa no cofre do governo 40% de imposto.

Se são R$ 114 bilhões os gastos governamentais totais anuais com os programas sociais, como destaca a alienada manchete de capa de O Globo, nesse domingo, o que o governo recebe de volta em forma de arrecadação é $ 45,6 bilhões! Com esse dinheiro cobre os investimentos da União de R$ 44 bilhões! Grande negócio: dar consumo aos pobres, para recolher tributo.

Distribuir para arrecadar. Dar para receber. É dando que se recebe. Quem dá aos pobres empresta a Deus etc etc. Tudo na linha de São Francisco de Assis. É por isso que a arrecadação tem registrado recordes atrás de recordes, enquanto os neoliberais confundem esse movimento quantitativo com aumento de carga tributária.

Santo aumento de arrecadação, pois é com ele que se obtém os recursos necessários para os investimentos indispensáveis em infraestrutura econômica.

Por sua vez, essa infraestrutura em processo de construção expressa no Programa de Aceleração do Crescimento – PAC – sinaliza no médio e longo prazos relativo equilíbrio entre oferta e demanda, remédio capaz de combater pressões inflacionárias crônicas existentes no Brasil em decorrência da crônica fome dos miseráveis que antes atingiam quase 40 milhões de habitantes e que hoje estão comendo três pratos de comida por dia graças ao keynesianismo popular patrocinado pelos cofres públicos.

Vale dizer, fonte inesgotável de arrecadação tributária. A cabeça da grande mídia brasileira tem sido martelada nos últimos trinta anos pela insistente “verdade” neoliberal segundo a qual gastos sociais são componentes do deficit público, que inibem os investimentos.

Ocorre o contrário.

Em vez de gasto, ao colocar dinheiro no bolso da mãe de família pobre para comprar comida para seus filhos, o governo concede renda disponível para o consumo que gera tributo, multiplicado, por sua vez, na circulação das mercadorias em suas diferentes etapas de realização no circuito econômico.

Quando dona Maria tem seu poder de compra aquecido no cartão do Programa Bolsa Família e vai ao supermercado comprar uma lata de óleo de cozinha imediatamente tal movimento inicia processo de aquecimento econômico consequente. Se são 15 milhões de beneficiários do programa e cada família tem 5 membros que consomem cada qual, supostamente, 1 kilo de comida/dia, ao todo, tem-se 75 milhões de quilos/dia. A indústria tem que produzir, a agricultura é sinalizada para plantar, os agricultores acionam as montadoras, os caminhões para distribuir a comida seguem pelas estradas, abastecendo, gastando pneus, partes, peças e componentes, que agitam o comércio etc etc. Em todo esse movimento de circulação o governo , em cada etapa dela, abocanha 40% de imposto.

Se ele dá 100 reais, arrecada, na hora, 40. Tem negócio mais rápido e melhor do que esse? Do consumidor para o comércio, 40%; do comércio para a indústria, 40%; da indústria para a agricultura, 40%; da agricultura para a distribuição, 40%. Ou seja, uma mercadoria, circulando quatro vezes na atividade produtiva, enche a burra governamental de forma espetacular.


Assim, o Estado, ao bancar

1 – a Aposentaria Rural;
2 – o Benefício de Prestação Continuada(BPC);
3 – a Renda Mensal Vitalícia(RMV);
4 – o Seguro Desemprego;
5 – o Abono Salarial e
6 – o programa Bolsa Família,

não está gastando, gerando deficit de R$ 114 bilhões, como diz a matéria global, mas, ao contrário, está poupando/arrecadando R$ 45,6 bilhões, ou seja, R$ 1 bilhão a mais do que ele desembolsa para bancar os investimentos da União, em um ano, R$ 44,6 bilhões.

Os gastos sociais são os instrumentos que produzem os recursos necessários ao incremento do PAC.

A cabeça neoliberal mal formada não percebe que gastar significa arrecadar que representa investir. Sem essa dinâmica, predominaria, com a insuficiência de consumo, o destruidor processo deflacionário. Os investimentos, por sua vez, impulsionam os empregos, a renda, consumo e, novamente, arrecadação e investimento.

A elite brasileira, da qual o jornal O Globo é a expressão maior, não entendeu, ainda, que foi Lula quem salvou ela da bancarrota, quando começou a gastar mais com os programas sociais, intensificando os desembolsos, de forma ainda mais significativa, depois da crise de 2008.

O que acontecia antes?

Por falta de consumo, cresciam os excedentes.

Os empresários, superestocados de mercadorias, sem consumo interno, por falta de renda disponível, em decorrência dos arrochos salariais ditados pelo FMI para conter a demanda como arma de controle da inflação, corriam ao governo para pedir desvalorização cambial, indispensável às exportações.

O resultado todos conhecem: desequilíbrio cambial e, consequentemente, mais pressão inflacionária. Na medida em que os estoques internos passaram a ser consumidos, graças ao keynesianismo popular lulista – que O Globo diz agora ser bloqueio aos investimentos – , os capitalistas tupinquins, em plena crise mundial, perceberam o que sempre negaram, que a saída para o sistema se equilibrar não é conter gastos com os salários das massas e impedir a distribuição da renda à pobreza, mas, justamente, o contrário, distribuir para ganhar.

Se não fossem esses gastos sociais na casa dos R$ 115 bilhões que proporcionam arrecadação de impostos de R$ 46 bilhões, de modo a cobrir os investimentos da União de R$ 45 bilhões, o que seria da classe capitalista? Onde estaria a base industrial paulista, senão sucateada, diante da concorrência chinesa, já que sem consumo interno e desvalorização da moeda para jogar os excedentes no exterior, a inflação impediria a expansão do consumo em escala capaz de impedir a reprodução dos investimentos etc?

Ainda bem que os capitalisas industriais, agora, depois de perceberem suas mancadas históricas, se preparam para fazer manifestos contra os juros altos.

Ora, o que é melhor para a classe produtiva brasileira: o governo dar R$ 114 bilhões aos pobres para arrecadar R$ 46 bilhões de impostos, que cobrem os R$ 45 bilhões de investimentos, ou sustentar os juros altos que obrigam o governo a desembolsar R$ 200 bilhões para pagamentos dos serviços, desembolso esse que não rende um centavo de imposto para os cofres públicos e consequentemente nada de investimento? 

O jogo do governo Dilma Rousseff, portanto, é o de radicalizar, na próxima quarta feira, a redução da taxa básica de juros. Pagando menos pelo serviço da dívida, sobrará mais recursos para dar aos pobres. Fará muito melhor negócio o governo, porque, se, por exemplo, der à pobreza mais R$ 100 bilhões, que rendem R$ 40 bi de tributos, em vez de encher as burras dos bancos, que não proporcionam arrecadação nenhuma, terá dinheiro para bancar os investimentos na casa dos R$ 80 bilhões, acelerando a construção da infraestrutura nacional e, claro, o combate à inflação.

 



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