segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O pêndulo da história escapa ao conservadorismo

No Carta Maior


Há uma travessia em curso no pêndulo da crise mundial. Sua  velocidade é crescente . A esquerda brasileira, as forças progressistas e o próprio governo devem apertar o passo para não se perderem na inútil batalha do dia anterior. 


Vive-se um deslocamento de forças e percepções para fora do centro de gravidade do conservadorismo mercadista.  


O discernimento da sociedade já não cabe mais em velhos perímetros calcificados pela  ortodoxia.  


O campo conservador  desidrata a ponto de regurgitar expoentes e agendas do centro político. 


Editoriais e o colunismo da chamada grande imprensa colidem diariamente com o seu próprio noticiário. 


O dispositivo midiático demotucano apregoa aquilo que a página seguinte evidencia ser a catástrofe em marcha na vida das nações. 


Por mais que se desvirtue a realidade o efeito espelho  percola   a formação das consciência, argui certezas e desacredita receitas. 


A agenda que  dobra a aposta na doutrina  neoliberal perde legitimidade na esteira de uma contradição insolúvel: as bases sociais mais amplas beneficiadas por esse modelo estão agora sendo pisoteadas por ele. 


A classe média europeia ou a norte-americana verga sob o peso brutal da instabilidade que devora o lastro econômico e a sua contrapartida subjetiva. A mudança é abrupta e truculenta. 


Se a esquerda não se credenciar, a extrema direita só ocupará o vácuo pela violência, a intolerância e a xenofobia. 


A 2ª feira foi particularmente pedagógica na exposição dessa nova moldura.  Nos EUA, o presidente Barack Obama  --um exemplo de centro expelido pelo estreitamento conservador-  demarcou seu campo na luta pela reeleição. E o fez afrontando o fiscalismo suicida que ancora a doutrina do Estado mínimo. O resumo de sua diretriz orçamentária poderia ser traçado em uma frase: Obama corta R$ 1 trilhão da guerra e quer US$ 1,5 trilhão em impostos dos ricos. Os republicanos acusaram o golpe contra o duplo altar. 


Voltaram a falar o idioma da guerra fria para Carimbar a plataforma orçamentária de Obama de 'luta de classes'. 


A coalizão conservadora que no Brasil se opõe  ao financiamento do SUS com uma taxa de 0,1% sobre operações financeiras ainda não se expressa assim. Mas age como se tal fosse. 


Se Obama afrontou o extremismo, por que haveriam de recuar as forças que expressam a angústia da fila do SUS?  


O outro impulso pedagógico no pêndulo político da crise teve como alavanca a imolação final da Grécia cobrada pela ortodoxia do euro. 


Ao pedir mais sacrifícios a uma sociedade que arde na pira neoliberal,  os guardiões da fé conservadora vestiram ostensivamente o capuz do algoz. 


A tal ponto que Nouriel Roubini, o outrora mister catástrofe, ao apregoar o calote da Grécia em entrevista ao Financial Times, soou apenas como sensato, em contraposição à estridência alucinada dos que verbalizam a 'razão' dos mercados.

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