domingo, 12 de janeiro de 2014

O gráfico da inflação e sua nota de correção

texto de Marcelo Idiarte


(segundo se apurou, quem primeiro percebeu e postou no facebook, teria sido Anderson Ramos depois é que a coisa migrou pro Twitter)

A internet trouxe centenas de utilidades (e alguns milhares de inutilidades também, é verdade) para a civilização moderna, mas uma das coisas mais relevantes que a internet facultou é a possibilidade do consumidor de notícias ser coadjuvante (e até protagonista, em alguns casos) no teatro da informação.

Antigamente valia o "publicado", ou seja, se estava publicado era verdade.

As correções e contestações a matérias eram insignificantes por conta do mecanismo disponível: cartas enviadas via correio, que chegavam nas Redações quando o assunto já tinha esfriado e não interessava a mais ninguém.

Além disso, por alegado motivo de espaço editorial nas publicações impressas, só meia-dúzia de cartas eram publicadas - quase sempre editadas ao máximo (às vezes ao ponto de alterarem completamente o sentido do que se queria dizer).

E se havia tréplica do jornalista a uma réplica de leitor, novas tréplicas (nos dicionários de língua portuguesa não existe "quadréplica", embora advogados usem muito) eram totalmente desestimuladas pelo sistema, dado todo o percurso que teriam vencer novamente: correio, filtro, edição etc.

Fundamentalmente a imprensa fazia e acontecia. Verdadeiros absurdos eram publicados e ficavam valendo como verdades absolutas. Salvo quando envolviam alguém graúdo, com bom advogado.

Esse sistema unilateral de informação ruiu com o advento da internet. Principalmente depois que os veículos de imprensa passaram a ficar encurralados pela necessidade de interação com os leitores (porque no início, não sei se vocês lembram, sequer havia espaço para comentários em matérias de portais da imprensa tradicional: os blogs é que inauguraram essa nova fase na relação imprensa x leitores).

No início a própria imprensa demonstrou receio com essa interação. Lembro de ter lido artigos e editoriais criticando a "intromissão" do leitor na notícia e no modus operandi das Redações, preconizando que isso poderia prejudicar o exercício do "bom jornalismo".

Pois sim. Eles tinham medo, mas seguramente nem nos piores pesadelos poderiam imaginar que minutos após publicar algo centenas de leitores cairiam de pau em cima de algum erro, imprecisão, distorção ou manipulação deliberada.

Muita gente ainda não percebeu, mas a imprensa virou refém dos leitores, ouvintes e telespectadores.

Antigamente nós é que éramos reféns da imprensa.

Ou seja: se o cidadão quiser, o jornalismo pode melhorar significativamente.

Mas para isso um bom número de pessoas ainda precisa deixar de apenas consumir informação sem refletir, analisar, confrontar e questionar.

Enquanto houver leitores biônicos, que não raciocinam sobre o que leem, veem ou escutam, a imprensa seguirá tentando fazer passar seus velhos golpes e seus erros grotescos.

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