sexta-feira, 29 de abril de 2011

A República da Farinha – o momento dos grandes partidos políticos brasileiros



Alexandre Haubrich, jornalista e editor do blog Jornalismo B (http://
jornalismob.wordpress.com)

A atuação dos partidos políticos brasileiros hoje pode ser explicada através da farinha.
Já tivemos o Ciclo do Açúcar, o Ciclo do Ouro, o Ciclo do Café. Tivemos até a versão
político-institucional mais chique, mais cheia de fricotes, o café-com-leite, assim com
hífen e tudo. Pois hoje vivemos o Ciclo da Farinha. De sacos diferentes, mas ainda
assim farinha.

Peguemos os mais encorpados partidos do país e vejamos se a farinha não é o elemento
comum entre eles, se não é ela quem norteia os rumos da política nacional. A farinha,
unida a doses variáveis de fermento, é a receita geral, ainda que um ou outro mestre-
cuca da alta elite culinária prefira a farinha que passarinho não come.

O PSDB segue a receita da vovó estrangeira, que vem e volta ao Brasil de acordo com
suas conveniências, mas não gosta muito daqui. De qualquer forma, ela está sempre
em contato, enviando sua mais nova receita aos filhinhos tucanos, nova receita que
é sempre a mesma. Está caduca ou apenas quer fixar bem seus ingredientes na nossa
cabeça? Bondosa. Fato é que o contato é sempre através de cartas, para que venha junto
seu cheiro de enxofre, tão agradável ao olfato das aves de bico longo que habitam essas
paragens.

A receita do PSDB baseia-se, teoricamente, em fazer o bolo crescer para depois dividir.
Mas, cozinheiros amadores que somos, sabemos que em qualquer casa que se preze
quem está na cozinha acaba por decidir o quanto quer comer. Se muitos estão ajudando
a fazer o bolo, muitos comem, irremediavelmente. Se poucos se fecham a sete chaves na
cozinha, fazem um bolo enorme e comem tudo sozinhos.

Mas não veja no PSDB ou em sua avó estrangeira muita criatividade. Com problemas
para manter o peso, os tucanos pouco mais fizeram do que deixar mais light a receita
usada pelo seu primo DEM, receita essa criada pela querida vovó deste último, a Dona
Arena. Essa rigorosa senhora passou a tal receita para o seu filho, o PFL, que repassou
para o DEM. Os passos são mais ou menos semelhantes aos da receita do PSDB,
mas, para fazer o bolo como prefere o DEM, bata bastante. O bolo da Dona Arena
também tem um gosto um tanto adstringente: enrola a língua do vivente, dificulta a
fala. E é preciso comê-lo com cuidado, sem estardalhaço e com um ritual determinado
anteriormente pelo cozinheiro. Caso contrário o cidadão ficará chocado com o que pode
acontecer.

O PT, por sua vez, nunca teve muitas condições financeiras para comer bolo. Comia
terra, mas comiam todos. Desde 2001, essa realidade mudou. O PT ascendeu à classe
média, e ganhou até o direito a fazer seu próprio bolo. Fez, faz, e tem distribuído os
pedaços para mais gente. Mas não deixa mais ninguém entrar na cozinha, e a receita,
que pegou emprestada do PSDB, ganhou apenas um pouco mais de açúcar.

E o PMDB? Bom, esse não sabe cozinhar, mas come o que vier. E pede para repetir.

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