sábado, 30 de outubro de 2010

Texto com links - Para você, que não votou na Dilma

por Carlos Moreira

Você não votou na Dilma no primeiro turno. Também não pretende votar nela no
segundo turno. Não apenas você não vai votar nela, como você tem alertado
sobre os perigos de se votar na candidata petista. Você tem suas razões para
achar que o voto em Dilma não é o melhor para o Brasil. 
Eu não penso como você. Entendo que o melhor voto para o Brasil é o voto em
Dilma Roussef, e não em José Serra. 
A principal razão que, no meu ponto de vista, justifica o voto em Dilma não
é uma única razão. Na verdade, são 53 milhões de
razões<http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u626987.shtml>:
entre 2003 e 2008, foram 21 milhões de brasileiros que deixaram a miséria e
outros 32 milhões que ascenderam à classe média. Os números dos que chegaram
à classe média correspondem mais ou menos ao total de torcedores do
Flamengo, e os que saíram da pobreza correspondem aproximadamente à torcida
do Corinthians. É isso mesmo: o número de brasileiros que melhoraram de vida
na Era Lula é um pouco menor que a soma das torcidas do Flamengo e do
Corinthians <http://www.lancenet.com.br/infograficos/info-torcida1/>. A
pobreza extrema no país foi reduzida à metade nos anos Lula. Esse salto não
se deveu apenas ao bom momento econômico. Isso é fruto de medidas
específicas do Governo Federal, tais como o Bolsa Família e o Bolsa Escola. 
Você chama esses programas de assistencialistas, de demagogia paternalista.
Na sua concepção liberal de “Estado mínimo”, esses programas não têm
justificativa. Mas os países socialmente mais justos foram aqueles em que o
Estado assumiu um papel ativo na promoção do bem estar social. Você condena
os programas brasileiros, mas, quando vem à Europa, se embasbaca dizendo que
a Suécia ou a Dinamarca é que são países “de verdade”, pois se importam com
seus cidadãos. Os programas sociais brasileiros são irrisórios se comparados
aos de países da Europa ocidental. Por que você etiqueta os programas
assistencialistas suecos de “justos” e os brasileiros de “demagógicos”? O
número de programas de suporte social de um país como a França é muito
superior ao do Brasil. Para você ter uma ideia, aqui eu recebo uma ajuda de
moradia, fornecida pelo governo francês a todo estudante que paga aluguel,
seja ele francês ou não. Isso custa uma grana preta aos cofres franceses.
Certa vez, comentei com um colega no trabalho que recebia essa ajuda. Nunca
vou me esquecer do que ele falou: “Puxa, nem sabia que isso existia aqui na
França. Sou classe média, não preciso desse auxílio, mas fico feliz de saber
que os impostos que eu pago servem para ajudar estudantes como você”. Isso é
civismo. É impensável ouvir isso da classe média brasileira, notória pelo
seu acivismo. O que se ouve deles é que “a classe média é explorada”. 
Você deveria é ficar feliz de saber que parte de seus impostos são
destinados a ajudar os brasileiros que podem menos. Votar em Dilma é votar
na continuidade desses programas. É a garantia de que mais compatriotas irão
melhorar de vida. Ou você acha que vai manter esses programas um cara cujo
vice propôs punir quem dá
esmolas<http://eleicoes.uol.com.br/2010/pre-candidatos/confira-a-trajetoria-d...>e
que chamou o Pronasci
de “bolsa-bandido” <http://www.youtube.com/watch?v=yX2v7lKQjNA>? Um cara
cuja esposa chamou o Bolsa Família de “bolsa
vagabundagem”<http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2010/08/23/para-mulher-de-ser...>?
Você acha que esse senhor tem capacidade de diálogo com os mais desprovidos?
Um cara que diz não entender os
sotaques<http://www.uai.com.br/htmls/app/noticia173/2010/08/10/noticia_politic...>de
goianos, mineiros e pernambucanos? Um cara que, como bem observou
Idelber Avelar<http://www.idelberavelar.com/archives/2010/08/baile_de_dilma_no_prime...>,
inventou a favela de plástico? Um cara que diz para uma eleitora na
favela<http://epoca.globo.com/edic/214/peric.htm>,
“Não posso conversar agora. A senhora não poderia me mandar um fax?”? Esse
senhor não demonstra ter canais de comunicação com os pobres. Serra diz que
vai manter os programas sociais. Só que eu não confio no que Serra diz.
Aliás, não confio sequer no compromisso que ele assume por escrito em
cartório<http://aterceiramargemdosena.opsblog.org/2010/07/25/o-tecnico-e-o-gov...>
Foi sob o Governo Lula que a economia brasileira conheceu um período de
crescimento expressivo, inclusive durante a crise mundial. Conheço seu
argumento: “Lula continuou o que FHC fez”. Só que o próprio FHC
reconheceu<http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/feira-livre/acabar-com-a-...>recentemente
que a gestão econômica do PT tem méritos próprios. Insistir na
tese de que tudo de bom da economia brasileira não tem sequer uma
contribuição da equipe econômica de Lula, mas apenas de FHC e do Plano Real,
tem tanto sentido quanto dizer que a pujança da indústria automobilística
brasileira nos dias atuais é mérito de apenas um homem: JK. 
Não foi apenas no plano econômico que a gestão Lula foi primorosa. Há que se
destacar a revitalização do sistema universitário público. Comparar a gestão
Lula com Paulo Renato é como comparar o Barcelona ao Madureira. Foi nos anos
FHC que o ensino superior privado conheceu fulgurante expansão – na maior
parte das vezes, sem a contrapartida da qualidade –, rifando vagas
universitárias a megagrupos empresariais. Ao mesmo tempo, as universidades
federais entraram em processo de
sucateamento<http://www.proec.ufg.br/revista_ufg/45anos/C-reforma.html>:
Paulo Renato cortou verbas, restringiu concursos para professores e
funcionários, priorizou a expansão do ensino privado, não promoveu uma
política de assistência estudantil. Fiz o curso médico na UFMG durante os
anos FHC. O descaso governamental provocava greves recorrentes (a de 1998
foi marcante) e provocou inclusive o fechamento do Hospital das Clínicas da
UFMG, pelo simples motivo de que a verba federal não era repassada: centenas
e centenas de alunos, além de milhares de pacientes carentes, sofreram com o
fechamento do hospital. Hoje, o campus da UFMG tem outra cara: prédios novos
e modernos foram inaugurados (Economia, Farmácia, Odontologia, Engenharia). 
A Cynthia Semíramis<http://cynthiasemiramis.org/2010/08/17/lembrancas-vida-universitaria-...>concorda
comigo. Lula investiu no ensino superior: criou 14 universidades
federais e outras dezenas e dezenas de escolas técnicas, muitas delas em
regiões menos desenvolvidas do país. Foi a política de Lula que permitiu a
criação, por exemplo, do Instituto de Neurociências de
Natal<http://natalneuroscience.com/>,
que já está aí, repatriando pesquisadores e fazendo pesquisa em alto nível.
Cargos docentes foram criados e a carreira universitária foi valorizada, em
flagrante contraste com a ativa promoção da penúria que marcou a gestão
Paulo Renato. Tudo isso propiciou que os mestres e doutores formados no
Brasil ocupassem cargos na universidade brasileira, evitando o *brain
drain*que por tantos anos sangrou a academia brasileira. 
O salto na pesquisa brasileira desde a eleição de Lula é bastante
expressivo. Em 2003, os investimentos em ciência e tecnologia foram de 21,4
bilhões de reais; em 2008, já atingiam R$ 43,1 bilhões. Paralelamente, houve
notável aumento da produtividade científica brasileira: as publicações
em *peer-review
journals* saltaram de 14.237 em 2003 para 30.415 em 2008. Subimos da 17ª
posição no ranking da
SCImago<http://www.scimagojr.com/countryrank.php?area=0&category=0®ion=all...>,
em 2000, para a 14ª, em 2008. Passamos países com maior tradição de
pesquisa, como a Suíça e a Rússia. A política de pesquisa do Governo Lula
foi elogiada inclusive pela
<http://www.nature.com/news/2010/100609/full/465674a.html?s=news_rss>*Nature<http://www.nature.com/news/2010/100609/full/465674a.html?s=news_rss>
*, uma das revistas científicas mais importantes do mundo (aí, Tio Rei,
coloque mais essa na lista do jornalismo chapa-branca). Eu não voto em José
Serra porque não quero que a universidade e a pesquisa brasileiras sejam
sucateadas novamente. Não merecemos outro Paulo Renato. 
Você diz que o governo do PT é anti-democrático, que ele coíbe a liberdade
de expressão e que ele ameaça a liberdade de imprensa. Você acha que o PSDB
representa uma proposta democrática. Discordo nos dois pontos. Houve
declarações atrapalhadas do governo no que diz respeito à imprensa, e não
aprovo a atitude de Lula no episódio Larry
Rother<http://veja.abril.com.br/051108/p_132.shtml>.
Mas daí a dizer que governo do PT é anti-democrático e que cerceia a
liberdade de imprensa vai uma distância muito grande. Nem mesmo
FHC<http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/feira-livre/acabar-com-a-...>sustenta
que o Lula é stalinista – só aloprados como Olavão e o Tio Rei é
que alimentam besteiras assim. Se, como você diz, o PT censura a imprensa a
seu favor e coloca um monte de jornalista chapa-branca nas redações de todo
o país, olha, então o PT tem que aprimorar seus métodos. Dê uma olhada nas
últimas capas da revista semanal de maior circulação do país, ligue a TV no
principal canal, ou visite um dos blogs políticos mais acessados e
veja<http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/>(ops!) se há algum
indício de que o PT tolhe quem fala mal dele e quem
aponta as lambanças do partido. Aí você diz que, no governo Lula, tentou-se
criar o Conselho Nacional de Jornalismo e que isso era uma tentativa
ditatorial de controlar a liberdade de imprensa. Se isso é ditadura, sua
lista de governos anti-democráticos deve incluir também países em que o
Conselho já existe, como a França e a Inglaterra, como bem lembra Jânio de
Freitas <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=608JDB023>.
Você critica a TV Brasil, dizendo que o governo não tem que manter canal de
TV. Diga isso a um francês. Ele vai lhe dizer que na França não existe um
canal de TV nacional que seja público. Existem
cinco<http://www.francetelevisions.fr/>
Eu também li o editorial<http://www.amalgama.blog.br/09/2010/a-liberdade-de-imprensa-e-o-voto-...>do
*Estadão*, dizendo que Dilma é “o mal a evitar”, por representar uma ameaça
à democracia e à liberdade de imprensa. Você achou bonita essa defesa do
“Estado de Direito”, né? Por que o*Estadão* nunca fez um editorial como esse
quando o Brasil efetivamente vivia sob uma ditadura, nos anos de chumbo? Por
que, dias depois desse editorial, esse mesmo órgão que se põe como baluarte
da democracia plural demitiu
sumariamente<http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4722228-EI6578,00-Mari...>uma
colunista que apoiou o Bolsa Família? 
E será que o PSDB é tão comprometido assim com a democracia constitucional e
com a liberdade de expressão? E os arapongas da
Abin<http://veja.abril.com.br/151100/p_038.html>na gestão FHC? De qual
partido é Eduardo Azeredo, que propôs uma lei de
controle da internet que é carinhosamente chamada de AI-5 digital? De qual
partido é Yeda Crusius, que mobilizou a PM gaúcha para espionar uma deputada
de oposição<http://rsurgente.opsblog.org/2010/09/07/estado-policial-no-rio-grande...>,
inclusive suas crianças (via
Idelber<http://www.idelberavelar.com/archives/metablogagem/>)?
De qual partido é Beto Richa, que
censurou<http://colunas.epoca.globo.com/bocadeurna/2010/10/01/beto-richa-censu...>sete
pesquisas eleitorais, um
blog <http://contextolivre.blogspot.com/2010/08/blog-sob-censura.html> e
até um twitter<http://colunas.epoca.globo.com/bocadeurna/2010/10/01/beto-richa-censu...>?
E o que dizer do Serra, que telefonou a Gilmar
Mendes<http://www1.folha.uol.com.br/poder/806923-apos-ligacao-de-serra-gilma...>para
que ele tomasse a decisão que o PSDB preferia, no que diz respeito aos
documentos necessários à votação? Isso é respeito às instituições
democráticas? 
Você reprova a política externa do Lula, dizendo que ele desonra a
democracia brasileira, privilegiando o diálogo com regimes fechados e
ditatoriais. Então me responda: onde estava sua indignação quando FHCcondecorou
o ditador peruano Alberto
Fujimori<http://www1.folha.uol.com.br/fol/pol/ult220799021.htm>com a
Ordem do Cruzeiro do Sul? 
Você vê com maus olhos as alianças políticas do governo Lula e acha que isso
é um argumento forte para não votar no PT. Eu também não gosto do Sarney, do
Collor, do Calheiros, do Temer, do Hélio Costa. Preferiria que eles
estivessem longe do poder. Mas já passamos da idade de acreditar em purismo
ideológico, né? Isso é coisa de adolescente que descobre a política. Fazer
política é fazer alianças, muitas das quais difíceis de serem engulidas. Vai
me dizer que você gostava de ver o sociólogo da Sorbonne de mãos dadas com o
PFL de ACM e cia.? Você gostava de ver o Renan Calheiros como Ministro da
Justiça do FHC? Talvez você nem sequer goste do Índio da Costa… Bem vindo à
*real politik*, *mon ami*. 
E sim, você vai me falar da corrupção na gestão petista. É verdade. No que
diz respeito ao combate à corrupção o governo Lula não foi virtuoso – longe
disso. Houve mesmo bastante corrupção. O mensalão existiu, não foi invenção.
Mas, será que a oposição é impoluta e pode mesmo posar de moralmente
superiora? Lembra-se do Mensalão Mineiro e do Azeredo? Do Ricardo Sérgio de
Oliveira, caixa do alto tucanato, que levou R$ 15 milhões na privatização da
Vale? Dos R$ 400.000<http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_21051997.shtml>a
cada deputado que votou a favor da reeleição? E o esquema de corrupção
e
espionagem, revelado no escândalo dos grampos durante a privatização da
Telebrás, envolvendo FHC, o presidente do BNDES (André Lara
Resende<http://veja.abril.com.br/251198/p_054.html>)
e Luiz Carlos Mendonça de
Barros<http://veja.abril.com.br/251198/p_044.html>(ministro
das Comunicações)? E a farra do Proer? E o favorecimento
ilícito<http://www.terra.com.br/istoe-temp/1713/brasil/1713_radar_da_polemica...>da
Raytheon na instalação do SIVAM ? E a endinheirada
relação <http://veja.abril.com.br/300501/p_038.html> entre Chico Lopes
(ex-presidente do BC) e o banqueiro Salvatore Cacciola?E Eduardo
Jorge<http://veja.abril.com.br/190700/p_040.html>,
assessor pessoal de FHC envolvido em diversas negociatas, inclusive em
“caixa dois” para a reeleição de FHC? Por favor, não me venha com essa
conversa de que o PSDB não compactua com a corrupção. 
Eu vou concordar com você que o Brasil precisa de investimento em
infra-estrutura: portos, rodovias, aeroportos. Mas será que o governo que
impôs à população brasileira o racionamento de energia é mesmo o mais
preparado para conduzir esses avanços em infra-estrutura? Acho que não. 
Mas talvez nenhuma dessas questões sobre economia, educação e gestão pública
importem para você. Talvez o que mais lhe opõe à candidatura de Dilma
Roussef sejam questões religiosas. Pode ser, por exemplo, que você se oponha
à política petista em defesa dos direitos civis dos homossexuais. Você
chama<http://juliosevero.blogspot.com/2009/03/plc-122-ditadura-gay-as-porta...>isso
de “tentativa de implantação de uma ditadura gay no Brasil”. É engraçado
ouvir que existe ditadura gay no Brasil das mulheres-fruta, das dançarinas
de axé, da erotização infantil, das peladonas do carnaval, das bancas em que
pululam revistas masculinas de orientação heterossexual. Fique tranqüilo,
essas coisas vão continuar acontecendo e ninguém está propondo instituir o
monopólio da *G Magazine* entre as revistas de entretenimento adulto
(fugiremos juntos do Brasil quando isso acontecer, ok?). Estamos falando em
estender a uma pequena parcela da população os direitos civis desfrutados
pela maioria. Nenhum governo do mundo tem poder para forçar alguém a assumir
determinada sexualidade, porque os determinismos neurobiológicos da
sexualidade passam ao largo da legislação dos homens – do contrário, eu
acharia que os labradores machos lá do sítio da minha família só montam um
no outro porque o governo PT apóia a causa homossexual (e eu desconfio que
meus labradores não entendem muito bem o que seja o PL 122). A questão aqui
é apenas garantir que a expressão de determinado comportamento sexual não
seja discriminada. Isso não é forçar a população a ser homossexual, nem
calar heterossexuais. O prefeito de Paris é
gay<http://pt.wikipedia.org/wiki/Bertrand_Delano%C3%AB>,
assim como o de Berlim<http://www.dw-world.de/dw/article/0,,2805988,00.html>e
a Primeira Ministra da
Islândia<http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI25287-15227,00-LESB...>.
Eu, heterossexual, não sofro por morar em uma cidade governada por um gay. 
Aproveitando o tema, permita-me uma pergunta: o que aconteceria se, ao invés
de se mobilizarem maciçamente contra o “casamento gay”, os evangélicos se
movessem por coisas que importam, como metrôs, ensino público, bons
hospitais e punição a corruptos? Por essas e outras, é que indicadores como
mortes violentas, saneamento básico e crianças nas escolas são bem melhores
em Paris do que em São Gonçalo, cidade do Brasil com maior concentração de
evangélicos<http://juliosevero.blogspot.com/2009/03/um-brasil-evangelico.html>.
A luta contra a miséria e os embates por educação, transporte e hospitais de
qualidade não parecem sensibilizar evangélicos – mas se dois marmajos querem
juntar escovas de dentes no mesmo copo do banheiro, aí eles entram na
briga<http://noticias.bol.uol.com.br/brasil/2008/06/25/ult4728u12697.jhtm>,
né? Essa miopia política acívica atrasa o país. O Brasil seria bem melhor
para todos se os evangélicos batalhassem politicamente por coisas que
realmente importam – e isso certamente não inclui ajustar o mundo aos
estritos códigos comportamentais que defendem. 
Há o aborto também. Você está certo: a Dilma é a favor do direito ao aborto
(este vídeo <http://www.youtube.com/watch?v=TdjN9Lk67Io> é como batom na
cueca, não tem o que discutir). Mas preste atenção: estamos tratando de uma
eleição presidencial, não de um plebiscito sobre o aborto. E você sabe: o
presidente não tem poder para assinar um papel e legalizar o aborto por
conta própria, sem aprovação do Congresso, como se estivesse assinando uma
ordem para comprar canetas Bic para escolas públicas. A discussão e a
legislação sobre aborto são matéria do Congresso, não do presidente. Não
misture as coisas. Não entre na onda dos que estão transformando essa
eleição em um plebiscito. 
O Brasil melhorou muito sob a égide de Lula. A imprensa mundial, dos
veículos mais à
esquerda<http://www.lemonde.fr/international/article/2010/10/03/lula-consecrat...>aos
mais à direita (tá aqui o
*Figaro<http://www.lefigaro.fr/mon-figaro/2010/09/20/10001-20100920ARTFIG0061...>
* que não me deixa mentir), saúda os avanços na Era Lula. Você dirá, com
razão, que toda unanimidade é burra. Sim, é verdade. Mas isso não significa
que toda forma de discordância seja inteligente. Não é inteligente negar
que, nos anos Lula, o Brasil se tornou um país socialmente mais justo e
menos desigual. Isso é negar os fatos. E negar os
fatos<http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u626987.shtml>nunca
é inteligente. 
Você pode até não votar na Dilma, por razões várias. Eu, de minha parte,
prefiro apoiar quem tem feito do Brasil um lugar melhor para o maior número
possível dos filhos deste solo: os brasileiros. 
* *Leonardo de Souza é médico formado pela UFMG. Especialista em Neurologia,
**trabalha desde 2005 no Centro de Doenças Cognitivo-Comportamentais do
Hospital da Pitié-Salpétriêre, em Paris. **É doutorando em neurociências na
Université Paris VI. Este texto foi publicado inicialmente em seu blog:
aterceiramargemdosena.opsblog.org.* 
—–
[*ATUALIZAÇÃO*: O texto foi modificado. Este blogueiro havia citado Eduardo
Jorge como exemplo de corrupção no governo FHC. Eduardo Jorge foi, de fato,
acusado de inúmeros crimes (inclusive pela própria*Veja*). Contudo, foi
julgado e inocentado de todas as acusações. O trecho referente a Eduardo
Jorge foi riscado. Peço desculpas aos leitores pela informação equivocada. E
agradeço ao Zé Costa por ter me informado o erro] 

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