sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Era um cidadão comum... (parte 1)

Texto de Eduardo Pacheco de Carvalho

...como esses que se vê na rua. Ainda sou e sempre serei. Ainda curto Belchior e
sempre curtirei. C & A para quem se importe ou se oponha. Mártir do nada, minha
condição de leigo me permite uma considerável liberdade para explanar aquilo que
eu penso, logo reflito. Portanto, nada ‘acho’, porque minha consciência não gera
frutos da liberalidade do acaso, tão pouco do imediatismo maniqueísta daqueles
que têm as respostas prontas, na ponta da língua (mesmo que saburrosa), os que
não levam desaforo para casa. Então eu venho aqui neste importante espaço
criado pelo “igualmente alucinado” (com as devidas desculpas por abusar de nossa
virtualidade amistosa) Paulo Stockler, para relatar alguns fatos recentemente
presenciados por mim (e reinterpretados), in loco. Outro louco, in loco.

Meus vínculos políticos não são personalistas nem ideológicos. Eles têm sim um quê
de esperança, onde eu procuro dar à história (a qual tive acesso, mesmo que parcial)
umas pitadas teleológicas. Filho do “Movimento Diretas Já”, no início dos anos 80 era
eu ativo participante dos comícios, recheados de expoentes políticos Nacionais (e não
limitadamente provincianos ou regionais), que então se tornaram os Constituintes
da Assembléia de 1987. Vi pessoalmente sobre os palanques curitibanos gente como
Teotônio Vilela, Ulisses Guimarães e Tancredo Neves.

E nunca me esqueço da dor que senti naquele início de 1985, onde ao mesmo tempo
em que começava a faculdade, terminava ali um sentimento de mais pura esperança
cívica, pela ‘morte’ de Tancredo. Usei aspas, pois minha loucura não permite que eu
acredite que seu passamento foi oriundo de morte natural. Minha idiotice cultural
faz pensar que tivemos em nosso país outros (bem intencionados) Presidentes da
República fadados ao mesmo fim. Mas não tenho argumentos para sustentar essa
tese, que cai por terra onde brota minha intuição. A posse de Tancredo, para mim,
sofreu abortamento criminoso, deixando inversamente órfã a Nação Brasileira.

Nunca me filiei, mas meu Partido sempre foi o PMDB, apesar de ter elegido alguns
petistas pelo caminho. E foi neste caminho que eu também presenciei a degeneração
progressiva do “velho MDB de guerra”, principalmente no Poder Executivo. Agora isto
se verifica até em nível estadual. Não me conformo com o fato de que meu Partido
não tenha apresentado candidatos a alguns dos cargos públicos majoritários, como o
Governo do Estado e o Governo da República neste ano, limitando-se às coligações.
Estas - friso meu - são verdadeiras ‘saladas’ com tantos ingredientes distintos por
natureza, que qualquer gourmet que se preze, as rejeitaria, de antemão pela sua
aparência, sem precisar entrar em questões de paladar ou mesmo deglutição.

Inobstante a ala direitista do PMDB tenha se exilado do Partido (que por tanto
purificou-se) e criado o tal do PSDB, eu ainda lamento que sua expressividade política
tenha diminuído publicamente. Esta “depuração”, seria a chance para o fortalecimento
pmdbista, o que não se verificou eleitoral nem historicamente. D’outro lado, o PSDB
se reforça, agregando membros da antiga Arena que depois virou PFL que hoje
transformou-se no decadente DEM. A direita conservadora, quando não lá, hoje
infiltrada e travestida sob o disfarce psdbista, no mínimo ideologicamente.

Aí eu esqueço um pouco disso que todo mundo sabe, e penso comigo...

O modelo de laicidade encampado “virtualmente” pelo Estado brasileiro, prova-se
novamente vilipendiado, sem embargo de sua não positividade no Ordenamento
Jurídico. O ocorrido em Aparecida do Norte, é fato: como pode aquele que um
dia ‘pregara’ pelo Estado laico, prevalecer-se do numeroso contingente de fiéis
aglomerados em torno de sua fé principal, para fazer campanha político-eleitoral?
Contra-senso, paradoxo, o que for, cheira apelação. Mas...o que estava em jogo? A
enorme quantidade de pessoas a serem atingidas pelo mesmo bacamarte ou a invasão
consentida ou não do foro íntimo de cada um deles? Afinal, a secularização afastou
ou não o controle da Igreja sobre a sociedade? Noutras palavras, precisa-se ir até a
meiuca da Fúria Independente para pedir aos paranistas que apostem na Timemania?
Nada a ver, não é mesmo? Pois é isso aí: NADA A VER uma coisa com outra.

Como não sou católico, não posso dizer que, por isto, Serra esteja ‘perdoado’. Digo
então que há muito mais além disto. Pois, na vida, as coisas não se limitam a ‘perdoar
ou não’ alguém. A vida é muito mais profunda que a distância em que los Mineros
de Chile permaneceram. Há algo de que a mídia fomentadora do status quo das
oligarquias dominantes internacionais se omite, em benefício próprio e mútuo.
Esta mesma mídia que hoje injeta o medo na veias abertas dos telespectadores
brasileiros, com a intenção de manter o povo anestesiadamente acuado, portanto
não reivindicador de seus direitos fundamentais. Se quiser sair, o faça à luz do dia, e
só se for para assistir Tropa de Elite II, para você aprender a ter mais medo. Medo de
quem? Dos bandidos? Do BOPE? Não, medo de você mesmo, das suas possibilidades,
meu caro. O pavor real é deles, caso um dia você venha a desenvolver seu potencial e
exteriorizá-lo, por enquanto latente em sua consciência, seu coração, enfim, nos seus
sonhos.

Sonhos que sofreram reprogramação, a mando vertical do Consenso de Washington.
Ditames do mundo capitalista que instruiu burocratas tupiniquins a cometerem
o incesto contra o próprio país, sem que FMI, Banco Mundial e BID, os mentores
da vergonha da subserviência econômica da América Latina, sequer pudessem ser
imaginados como réus, num processo inimaginário, bem ao contrário do mundo de Zé
Ramalho. A manita matutina deles, não tem nada de transparente.

E foi então que a prática neoliberal adentrou na inconsciência de uma boa parcela
dos políticos daqui. Deu-se pela redução do Estado a pela corrosão do conceito de
Nação. O mercado oligopolista vingou. Da mera redução, passaram à liquidação do
Estado e, mais que privatizar, o mote foi desnacionalizar. O postulado, inicialmente
aderido por Collor, aumentou exponencialmente o seu número de simpatizantes, pós-
impeachment. A elite intelectual e econômica apoiava a nova filosofia implantada
por FHC ainda enquanto ministro de Cautiero, claro que com o suporte da Mídia. O
Estado é figuradamente transformado num animalesco paquiderme e em função disto
há de ser combatido, para evitar o ‘esmagamento’ do povo. Viva a desestatização!
O discurso também aludia por “melhora na qualidade dos serviços”. E o sociólogo
assumiu, tomando Red Bull, dando asas à ideologia estrangeira. Iniciou-se o calvário do
Estado.

Porém...ANTES da venda das estatais, aconteceu muita coisa. Dinheiro público (R$21
bilhões) foi empregado para reestruturar as TELES (vendidas por menos da metade,
R$13 milhões abaixo do previsto), o novo comprador do Banerj (pagou R$330 milhões)
‘livrou-se’ dos direitos dos funcionários (R$3,3 bilhões) saldados por um empréstimo
feito anteriormente pelo Governo do Rio, empreiteiras de estradas ‘milhardaram-
se’ através de pedágios sem mesmo antes começar as obras de melhoramento, a
CSN foi vendida quase na sua totalidade por moedas podres cujos compradores
receberam financiamento do BNDES em suaves 12 anos, as tarifas foram aumentadas
geometricamente (repete-se, antes dos leilões, em 100, 300 até 500%) para agigantar
e garantir os lucros dos compradores diminuindo seus “riscos”, as empresas de energia
elétrica foram liberadas para reajustes anuais de tarifas, tudo ao contrário do discurso
hipócrita de “preços mais baixos e mais qualidade para o consumidor”. Lembrar das
demissões em massa de trabalhadores, isentando os compradores das obrigações
trabalhistas. Em suma, as dívidas das estatais foram repassadas ao Tesouro, livrando
os adquirentes. Estes também ficaram libertos dos fundos de pensão, cujo ônus
inerente aos aposentados foi transferido aos estados e à União. Os compradores dos
bancos usaram o prejuízo anterior para abater do lucro, reduzindo assim o pagamento
de seu IR (no caso Meridional, o comprador gastou apenas R$37 milhões para adquiri-
lo, R$230 milhões anularam-se do tal ‘crédito tributário’). Na VALE (além das jazidas
descobertas mas ainda não exploradas, as quais não entraram na formação do
preço de venda = “lucros invisíveis” + sub-avaliação do patrimônio real) havia R$700
milhões em caixa e na Telesp R$1 bilhão! Docas, ferrovias, importações e tecnologias,
estoques, dividendos, outros bancos. Um verdadeiro mosaico de ofertas, benesses e
cortesias sob o véu rasgado do neoliberalismo. Paralelamente, a conivência quelônica
de nosso Judiciário, justificada pela ‘morosidade’, pela omissão, pelas lacunas da
lei...enfim pela inércia, em nome da independência dos Poderes.

Isso é mera privatização? Não: isto é PROSTITUIÇÃO. É sevicio, é lenocínio, é
rufianismo, é exploração vulgar do corpo/patrimônio alheio. Ou seja, num país sem
História, seu povo está arriscada e perigosamente fadado a revivê-la: a manipulação
midiática, fundamental para evitar a formação de uma “consciência coletiva”,
contribuindo então para o empobrecimento da opinião pública, voltada até hoje para
o mundinho mundano das novelas, dos reality-shows, dos telejornais policialescos (o
que eu chamo de “milícias da comunicação”) e dos filmes que escancaram a violência
dos morros cariocas como modelo de insegurança pública nacional, para o delírio dos
ignorantes, incultos e medrosos reféns deste establishment midiático.

Enfim, privatização ou mais que isso, não corresponde à Cidadania. Setores
fundamentais que garantiriam o desenvolvimento da economia nacional, cuidavam da
produção, organização e prestação de serviços essenciais para o bem-estar de nossa
população e a modernização de nossa sociedade, foram covardemente atingidos por
esta colifórmica onda do Plano Nacional de Desestatização.

E os responsáveis por tudo isto ‘estão de volta’, tal qual estará o Bial em janeiro
próximo. O discurso também voltou, repaginado pelas intempéries dos anos, mas é
essencialmente o mesmo. Latem pela ‘alternância no poder’, ignorando as décadas
que dominam o Estado de São Paulo, a maior concentração de renda do país. A fala é
mansa, mas a índole não.

Preocupados, estão se aproximando (artificiosa e estrategicamente) do público. Até
eu bati uma foto do candidato, pedalante numa bicipéia qualquer em Blumenau/SC.
Postei no meu Facebook, na categoria “celebridades”, mas qualquer dia mudo de
lugar: tenho uma sessão de fotos denominada “Koisas do Brazil”. Ou seja, ele terá o
seu devido locus, onde merece. Ei-lo:

1 – O Neoliberal

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