domingo, 31 de outubro de 2010

#Dilma e a íntegra do 1º pronunciamento à Nação


PRONUNCIAMENTO DE 31 DE OUTUBRO DE 2010
Minhas amigas e meus amigos de todo o Brasil,
É imensa a minha alegria de estar aqui.
Recebi hoje de milhões de brasileiras e brasileiros a missão mais importante de minha vida.
Este fato, para além de minha pessoa, é uma demonstração do avanço democrático do nosso país: pela primeira vez uma mulher presidirá o Brasil. Já registro portanto aqui meu primeiro compromisso após a eleição: honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural. E que ele possa se repetir e se ampliar nas empresas, nas instituições civis, nas entidades representativas de toda nossa sociedade.
A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um principio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas, e lhes dissessem: SIM, a mulher pode!
Minha alegria é ainda maior pelo fato de que a presença de uma mulher na presidência da República se dá pelo caminho sagrado do voto, da decisão democrática do eleitor, do exercício mais elevado da cidadania. Por isso, registro aqui outro compromisso com meu país:
Valorizar a democracia em toda sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais da alimentação, do emprego e da renda, da moradia digna e da paz social.
Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa.
Zelarei pela mais ampla liberdade religiosa e de culto.
Zelarei pela observação criteriosa e permanente dos direitos humanos tão claramente consagrados em nossa constituição.
Zelarei, enfim, pela nossa Constituição, dever maior da presidência da República.
Nesta longa jornada que me trouxe aqui pude falar e visitar todas as nossas regiões.
O que mais me deu esperanças foi a capacidade imensa do nosso povo, de agarrar uma oportunidade, por mais singela que seja, e com ela construir um mundo melhor para sua família.
É simplesmente incrível a capacidade de criar e empreender do nosso povo. Por isso, reforço aqui meu compromisso fundamental: a erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras.
Ressalto, entretanto, que esta ambiciosa meta não será realizada pela vontade do governo. Ela é um chamado à nação, aos empresários, às igrejas, às entidades civis, às universidades, à imprensa, aos governadores, aos prefeitos e a todas as pessoas de bem.
Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte.
A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que assumo, mas para a qual peço humildemente o apoio de todos que possam ajudar o país no trabalho de superar esse abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida.
O Brasil é uma terra generosa e sempre devolverá em dobro cada semente que for plantada com mão amorosa e olhar para o futuro.
Minha convicção de assumir a meta de erradicar a miséria vem, não de uma certeza teórica, mas da experiência viva do nosso governo, no qual uma imensa mobilidade social se realizou, tornando hoje possível um sonho que sempre pareceu impossível.
Reconheço que teremos um duro trabalho para qualificar o nosso desenvolvimento econômico. Essa nova era de prosperidade criada pela genialidade do presidente Lula e pela força do povo e de nossos empreendedores encontra seu momento de maior potencial numa época em que a economia das grandes nações se encontra abalada.
No curto prazo, não contaremos com a pujança das economias desenvolvidas para impulsionar nosso crescimento. Por isso, se tornam ainda mais importantes nossas próprias políticas, nosso próprio mercado, nossa própria poupança e nossas próprias decisões econômicas.
Longe de dizer, com isso, que pretendamos fechar o país ao mundo. Muito ao contrário, continuaremos propugnando pela ampla abertura das relações comerciais e pelo fim do protecionismo dos países ricos, que impede as nações pobres de realizar plenamente suas vocações.
Mas é preciso reconhecer que teremos grandes responsabilidades num mundo que enfrenta ainda os efeitos de uma crise financeira de grandes proporções e que se socorre de mecanismos nem sempre adequados, nem sempre equilibrados, para a retomada do crescimento.
É preciso, no plano multilateral, estabelecer regras mais claras e mais cuidadosas para a retomada dos mercados de financiamento, limitando a alavancagem e a especulação desmedida, que aumentam a volatilidade dos capitais e das moedas. Atuaremos firmemente nos fóruns internacionais com este objetivo.
Cuidaremos de nossa economia com toda responsabilidade. O povo brasileiro não aceita mais a inflação como solução irresponsável para eventuais desequilíbrios. O povo brasileiro não aceita que governos gastem acima do que seja sustentável.
Por isso, faremos todos os esforços pela melhoria da qualidade do gasto público, pela simplificação e atenuação da tributação e pela qualificação dos serviços públicos.
Mas recusamos as visões de ajustes que recaem sobre os programas sociais, os serviços essenciais à população e os necessários investimentos.
Sim, buscaremos o desenvolvimento de longo prazo, a taxas elevadas, social e ambientalmente sustentáveis. Para isso zelaremos pela poupança pública.
Zelaremos pela meritocracia no funcionalismo e pela excelência do serviço público.
Zelarei pelo aperfeiçoamento de todos os mecanismos que liberem a capacidade empreendedora de nosso empresariado e de nosso povo.
Valorizarei o Micro Empreendedor Individual, para formalizar milhões de negócios individuais ou familiares, ampliarei os limites do Supersimples e construirei modernos mecanismos de aperfeiçoamento econômico, como fez nosso governo na construção civil, no setor elétrico, na lei de recuperação de empresas, entre outros.
As agências reguladoras terão todo respaldo para atuar com determinação e autonomia, voltadas para a promoção da inovação, da saudável concorrência e da efetividade dos setores regulados.
Apresentaremos sempre com clareza nossos planos de ação governamental. Levaremos ao debate público as grandes questões nacionais. Trataremos sempre com transparência nossas metas, nossos resultados, nossas dificuldades.
Mas acima de tudo quero reafirmar nosso compromisso com a estabilidade da economia e das regras econômicas, dos contratos firmados e das conquistas estabelecidas.
Trataremos os recursos provenientes de nossas riquezas sempre com pensamento de longo prazo. Por isso trabalharei no Congresso pela aprovação do Fundo Social do Pré-Sal. Por meio dele queremos realizar muitos de nossos objetivos sociais.
Recusaremos o gasto efêmero que deixa para as futuras gerações apenas as dívidas e a desesperança.
O Fundo Social é mecanismo de poupança de longo prazo, para apoiar as atuais e futuras gerações. Ele é o mais importante fruto do novo modelo que propusemos para a exploração do pré-sal, que reserva à Nação e ao povo a parcela mais importante dessas riquezas.
Definitivamente, não alienaremos nossas riquezas para deixar ao povo só migalhas.
Me comprometi nesta campanha com a qualificação da Educação e dos Serviços de Saúde.
Me comprometi também com a melhoria da segurança pública.
Com o combate às drogas que infelicitam nossas famílias.
Reafirmo aqui estes compromissos. Nomearei ministros e equipes de primeira qualidade para realizar esses objetivos.
Mas acompanharei pessoalmente estas áreas capitais para o desenvolvimento de nosso povo.
A visão moderna do desenvolvimento econômico é aquela que valoriza o trabalhador e sua família, o cidadão e sua comunidade, oferecendo acesso a educação e saúde de qualidade.
É aquela que convive com o meio ambiente sem agredi-lo e sem criar passivos maiores que as conquistas do próprio desenvolvimento.
Não pretendo me estender aqui, neste primeiro pronunciamento ao país, mas quero registrar que todos os compromissos que assumi, perseguirei de forma dedicada e carinhosa.
Disse na campanha que os mais necessitados, as crianças, os jovens, as pessoas com deficiência, o trabalhador desempregado, o idoso teriam toda minha atenção. Reafirmo aqui este compromisso.
Fui eleita com uma coligação de dez partidos e com apoio de lideranças de vários outros partidos. Vou com eles construir um governo onde a capacidade profissional, a liderança e a disposição de servir ao país será o critério fundamental.
Vou valorizar os quadros profissionais da administração pública, independente de filiação partidária.
Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles. De minha parte não haverá discriminação, privilégios ou compadrio.
A partir de minha posse serei presidenta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de orientação política.
Nosso país precisa ainda melhorar a conduta e a qualidade da política. Quero empenhar-me, junto com todos os partidos, numa reforma política que eleve os valores republicanos, avançando em nossa jovem democracia.
Ao mesmo tempo, afirmo com clareza que valorizarei a transparência na administração pública. Não haverá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito. Serei rígida na defesa do interesse público em todos os níveis de meu governo. Os órgãos de controle e de fiscalização trabalharão com meu respaldo, sem jamais perseguir adversários ou proteger amigos.
Deixei para o final os meus agradecimentos, pois quero destacá-los. Primeiro, ao povo que me dedicou seu apoio. Serei eternamente grata pela oportunidade única de servir ao meu país no seu mais alto posto. Prometo devolver em dobro todo o carinho recebido, em todos os lugares que passei.
Mas agradeço respeitosamente também aqueles que votaram no primeiro e no segundo turno em outros candidatos ou candidatas. Eles também fizeram valer a festa da democracia.
Agradeço as lideranças partidárias que me apoiaram e comandaram esta jornada, meus assessores, minhas equipes de trabalho e todos os que dedicaram meses inteiros a esse árduo trabalho.
Agradeço a imprensa brasileira e estrangeira que aqui atua e cada um de seus profissionais pela cobertura do processo eleitoral.
Não nego a vocês que, por vezes, algumas das coisas difundidas me deixaram triste. Mas quem, como eu, lutou pela democracia e pelo direito de livre opinião arriscando a vida; quem, como eu e tantos outros que não estão mais entre nós, dedicamos toda nossa juventude ao direito de expressão, nós somos naturalmente amantes da liberdade. Por isso, não carregarei nenhum ressentimento.
Disse e repito que prefiro o barulho da imprensa livre ao silencio das ditaduras. As criticas do jornalismo livre ajudam ao pais e são essenciais aos governos democráticos, apontando erros e trazendo o necessário contraditório.
Agradeço muito especialmente ao presidente Lula. Ter a honra de seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda. Conviver durante todos estes anos com ele me deu a exata dimensão do governante justo e do líder apaixonado por seu pais e por sua gente. A alegria que sinto pela minha vitória se mistura com a emoção da sua despedida.
Sei que um líder como Lula nunca estará longe de seu povo e de cada um de nós.
Baterei muito a sua porta e, tenho certeza, que a encontrarei sempre aberta.
Sei que a distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza e generosidade. A tarefa de sucedê-lo é difícil e desafiadora. Mas saberei honrar seu legado.
Saberei consolidar e avançar sua obra.
Aprendi com ele que quando se governa pensando no interesse público e nos mais necessitados uma imensa força brota do nosso povo.
Uma força que leva o país para frente e ajuda a vencer os maiores desafios.
Passada a eleição agora é hora de trabalho. Passado o debate de projetos agora é hora de união.
União pela educação, união pelo desenvolvimento, união pelo país. Junto comigo foram eleitos novos governadores, deputados, senadores. Ao parabenizá-los, convido a todos, independente de cor partidária, para uma ação determinada pelo futuro de nosso país.
Sempre com a convicção de que a Nação Brasileira será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ela.
Muito obrigada,

Dilma Rousseff

sábado, 30 de outubro de 2010

Texto com links - Para você, que não votou na Dilma

por Carlos Moreira

Você não votou na Dilma no primeiro turno. Também não pretende votar nela no
segundo turno. Não apenas você não vai votar nela, como você tem alertado
sobre os perigos de se votar na candidata petista. Você tem suas razões para
achar que o voto em Dilma não é o melhor para o Brasil. 
Eu não penso como você. Entendo que o melhor voto para o Brasil é o voto em
Dilma Roussef, e não em José Serra. 
A principal razão que, no meu ponto de vista, justifica o voto em Dilma não
é uma única razão. Na verdade, são 53 milhões de
razões<http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u626987.shtml>:
entre 2003 e 2008, foram 21 milhões de brasileiros que deixaram a miséria e
outros 32 milhões que ascenderam à classe média. Os números dos que chegaram
à classe média correspondem mais ou menos ao total de torcedores do
Flamengo, e os que saíram da pobreza correspondem aproximadamente à torcida
do Corinthians. É isso mesmo: o número de brasileiros que melhoraram de vida
na Era Lula é um pouco menor que a soma das torcidas do Flamengo e do
Corinthians <http://www.lancenet.com.br/infograficos/info-torcida1/>. A
pobreza extrema no país foi reduzida à metade nos anos Lula. Esse salto não
se deveu apenas ao bom momento econômico. Isso é fruto de medidas
específicas do Governo Federal, tais como o Bolsa Família e o Bolsa Escola. 
Você chama esses programas de assistencialistas, de demagogia paternalista.
Na sua concepção liberal de “Estado mínimo”, esses programas não têm
justificativa. Mas os países socialmente mais justos foram aqueles em que o
Estado assumiu um papel ativo na promoção do bem estar social. Você condena
os programas brasileiros, mas, quando vem à Europa, se embasbaca dizendo que
a Suécia ou a Dinamarca é que são países “de verdade”, pois se importam com
seus cidadãos. Os programas sociais brasileiros são irrisórios se comparados
aos de países da Europa ocidental. Por que você etiqueta os programas
assistencialistas suecos de “justos” e os brasileiros de “demagógicos”? O
número de programas de suporte social de um país como a França é muito
superior ao do Brasil. Para você ter uma ideia, aqui eu recebo uma ajuda de
moradia, fornecida pelo governo francês a todo estudante que paga aluguel,
seja ele francês ou não. Isso custa uma grana preta aos cofres franceses.
Certa vez, comentei com um colega no trabalho que recebia essa ajuda. Nunca
vou me esquecer do que ele falou: “Puxa, nem sabia que isso existia aqui na
França. Sou classe média, não preciso desse auxílio, mas fico feliz de saber
que os impostos que eu pago servem para ajudar estudantes como você”. Isso é
civismo. É impensável ouvir isso da classe média brasileira, notória pelo
seu acivismo. O que se ouve deles é que “a classe média é explorada”. 
Você deveria é ficar feliz de saber que parte de seus impostos são
destinados a ajudar os brasileiros que podem menos. Votar em Dilma é votar
na continuidade desses programas. É a garantia de que mais compatriotas irão
melhorar de vida. Ou você acha que vai manter esses programas um cara cujo
vice propôs punir quem dá
esmolas<http://eleicoes.uol.com.br/2010/pre-candidatos/confira-a-trajetoria-d...>e
que chamou o Pronasci
de “bolsa-bandido” <http://www.youtube.com/watch?v=yX2v7lKQjNA>? Um cara
cuja esposa chamou o Bolsa Família de “bolsa
vagabundagem”<http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2010/08/23/para-mulher-de-ser...>?
Você acha que esse senhor tem capacidade de diálogo com os mais desprovidos?
Um cara que diz não entender os
sotaques<http://www.uai.com.br/htmls/app/noticia173/2010/08/10/noticia_politic...>de
goianos, mineiros e pernambucanos? Um cara que, como bem observou
Idelber Avelar<http://www.idelberavelar.com/archives/2010/08/baile_de_dilma_no_prime...>,
inventou a favela de plástico? Um cara que diz para uma eleitora na
favela<http://epoca.globo.com/edic/214/peric.htm>,
“Não posso conversar agora. A senhora não poderia me mandar um fax?”? Esse
senhor não demonstra ter canais de comunicação com os pobres. Serra diz que
vai manter os programas sociais. Só que eu não confio no que Serra diz.
Aliás, não confio sequer no compromisso que ele assume por escrito em
cartório<http://aterceiramargemdosena.opsblog.org/2010/07/25/o-tecnico-e-o-gov...>
Foi sob o Governo Lula que a economia brasileira conheceu um período de
crescimento expressivo, inclusive durante a crise mundial. Conheço seu
argumento: “Lula continuou o que FHC fez”. Só que o próprio FHC
reconheceu<http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/feira-livre/acabar-com-a-...>recentemente
que a gestão econômica do PT tem méritos próprios. Insistir na
tese de que tudo de bom da economia brasileira não tem sequer uma
contribuição da equipe econômica de Lula, mas apenas de FHC e do Plano Real,
tem tanto sentido quanto dizer que a pujança da indústria automobilística
brasileira nos dias atuais é mérito de apenas um homem: JK. 
Não foi apenas no plano econômico que a gestão Lula foi primorosa. Há que se
destacar a revitalização do sistema universitário público. Comparar a gestão
Lula com Paulo Renato é como comparar o Barcelona ao Madureira. Foi nos anos
FHC que o ensino superior privado conheceu fulgurante expansão – na maior
parte das vezes, sem a contrapartida da qualidade –, rifando vagas
universitárias a megagrupos empresariais. Ao mesmo tempo, as universidades
federais entraram em processo de
sucateamento<http://www.proec.ufg.br/revista_ufg/45anos/C-reforma.html>:
Paulo Renato cortou verbas, restringiu concursos para professores e
funcionários, priorizou a expansão do ensino privado, não promoveu uma
política de assistência estudantil. Fiz o curso médico na UFMG durante os
anos FHC. O descaso governamental provocava greves recorrentes (a de 1998
foi marcante) e provocou inclusive o fechamento do Hospital das Clínicas da
UFMG, pelo simples motivo de que a verba federal não era repassada: centenas
e centenas de alunos, além de milhares de pacientes carentes, sofreram com o
fechamento do hospital. Hoje, o campus da UFMG tem outra cara: prédios novos
e modernos foram inaugurados (Economia, Farmácia, Odontologia, Engenharia). 
A Cynthia Semíramis<http://cynthiasemiramis.org/2010/08/17/lembrancas-vida-universitaria-...>concorda
comigo. Lula investiu no ensino superior: criou 14 universidades
federais e outras dezenas e dezenas de escolas técnicas, muitas delas em
regiões menos desenvolvidas do país. Foi a política de Lula que permitiu a
criação, por exemplo, do Instituto de Neurociências de
Natal<http://natalneuroscience.com/>,
que já está aí, repatriando pesquisadores e fazendo pesquisa em alto nível.
Cargos docentes foram criados e a carreira universitária foi valorizada, em
flagrante contraste com a ativa promoção da penúria que marcou a gestão
Paulo Renato. Tudo isso propiciou que os mestres e doutores formados no
Brasil ocupassem cargos na universidade brasileira, evitando o *brain
drain*que por tantos anos sangrou a academia brasileira. 
O salto na pesquisa brasileira desde a eleição de Lula é bastante
expressivo. Em 2003, os investimentos em ciência e tecnologia foram de 21,4
bilhões de reais; em 2008, já atingiam R$ 43,1 bilhões. Paralelamente, houve
notável aumento da produtividade científica brasileira: as publicações
em *peer-review
journals* saltaram de 14.237 em 2003 para 30.415 em 2008. Subimos da 17ª
posição no ranking da
SCImago<http://www.scimagojr.com/countryrank.php?area=0&category=0®ion=all...>,
em 2000, para a 14ª, em 2008. Passamos países com maior tradição de
pesquisa, como a Suíça e a Rússia. A política de pesquisa do Governo Lula
foi elogiada inclusive pela
<http://www.nature.com/news/2010/100609/full/465674a.html?s=news_rss>*Nature<http://www.nature.com/news/2010/100609/full/465674a.html?s=news_rss>
*, uma das revistas científicas mais importantes do mundo (aí, Tio Rei,
coloque mais essa na lista do jornalismo chapa-branca). Eu não voto em José
Serra porque não quero que a universidade e a pesquisa brasileiras sejam
sucateadas novamente. Não merecemos outro Paulo Renato. 
Você diz que o governo do PT é anti-democrático, que ele coíbe a liberdade
de expressão e que ele ameaça a liberdade de imprensa. Você acha que o PSDB
representa uma proposta democrática. Discordo nos dois pontos. Houve
declarações atrapalhadas do governo no que diz respeito à imprensa, e não
aprovo a atitude de Lula no episódio Larry
Rother<http://veja.abril.com.br/051108/p_132.shtml>.
Mas daí a dizer que governo do PT é anti-democrático e que cerceia a
liberdade de imprensa vai uma distância muito grande. Nem mesmo
FHC<http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/feira-livre/acabar-com-a-...>sustenta
que o Lula é stalinista – só aloprados como Olavão e o Tio Rei é
que alimentam besteiras assim. Se, como você diz, o PT censura a imprensa a
seu favor e coloca um monte de jornalista chapa-branca nas redações de todo
o país, olha, então o PT tem que aprimorar seus métodos. Dê uma olhada nas
últimas capas da revista semanal de maior circulação do país, ligue a TV no
principal canal, ou visite um dos blogs políticos mais acessados e
veja<http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/>(ops!) se há algum
indício de que o PT tolhe quem fala mal dele e quem
aponta as lambanças do partido. Aí você diz que, no governo Lula, tentou-se
criar o Conselho Nacional de Jornalismo e que isso era uma tentativa
ditatorial de controlar a liberdade de imprensa. Se isso é ditadura, sua
lista de governos anti-democráticos deve incluir também países em que o
Conselho já existe, como a França e a Inglaterra, como bem lembra Jânio de
Freitas <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=608JDB023>.
Você critica a TV Brasil, dizendo que o governo não tem que manter canal de
TV. Diga isso a um francês. Ele vai lhe dizer que na França não existe um
canal de TV nacional que seja público. Existem
cinco<http://www.francetelevisions.fr/>
Eu também li o editorial<http://www.amalgama.blog.br/09/2010/a-liberdade-de-imprensa-e-o-voto-...>do
*Estadão*, dizendo que Dilma é “o mal a evitar”, por representar uma ameaça
à democracia e à liberdade de imprensa. Você achou bonita essa defesa do
“Estado de Direito”, né? Por que o*Estadão* nunca fez um editorial como esse
quando o Brasil efetivamente vivia sob uma ditadura, nos anos de chumbo? Por
que, dias depois desse editorial, esse mesmo órgão que se põe como baluarte
da democracia plural demitiu
sumariamente<http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4722228-EI6578,00-Mari...>uma
colunista que apoiou o Bolsa Família? 
E será que o PSDB é tão comprometido assim com a democracia constitucional e
com a liberdade de expressão? E os arapongas da
Abin<http://veja.abril.com.br/151100/p_038.html>na gestão FHC? De qual
partido é Eduardo Azeredo, que propôs uma lei de
controle da internet que é carinhosamente chamada de AI-5 digital? De qual
partido é Yeda Crusius, que mobilizou a PM gaúcha para espionar uma deputada
de oposição<http://rsurgente.opsblog.org/2010/09/07/estado-policial-no-rio-grande...>,
inclusive suas crianças (via
Idelber<http://www.idelberavelar.com/archives/metablogagem/>)?
De qual partido é Beto Richa, que
censurou<http://colunas.epoca.globo.com/bocadeurna/2010/10/01/beto-richa-censu...>sete
pesquisas eleitorais, um
blog <http://contextolivre.blogspot.com/2010/08/blog-sob-censura.html> e
até um twitter<http://colunas.epoca.globo.com/bocadeurna/2010/10/01/beto-richa-censu...>?
E o que dizer do Serra, que telefonou a Gilmar
Mendes<http://www1.folha.uol.com.br/poder/806923-apos-ligacao-de-serra-gilma...>para
que ele tomasse a decisão que o PSDB preferia, no que diz respeito aos
documentos necessários à votação? Isso é respeito às instituições
democráticas? 
Você reprova a política externa do Lula, dizendo que ele desonra a
democracia brasileira, privilegiando o diálogo com regimes fechados e
ditatoriais. Então me responda: onde estava sua indignação quando FHCcondecorou
o ditador peruano Alberto
Fujimori<http://www1.folha.uol.com.br/fol/pol/ult220799021.htm>com a
Ordem do Cruzeiro do Sul? 
Você vê com maus olhos as alianças políticas do governo Lula e acha que isso
é um argumento forte para não votar no PT. Eu também não gosto do Sarney, do
Collor, do Calheiros, do Temer, do Hélio Costa. Preferiria que eles
estivessem longe do poder. Mas já passamos da idade de acreditar em purismo
ideológico, né? Isso é coisa de adolescente que descobre a política. Fazer
política é fazer alianças, muitas das quais difíceis de serem engulidas. Vai
me dizer que você gostava de ver o sociólogo da Sorbonne de mãos dadas com o
PFL de ACM e cia.? Você gostava de ver o Renan Calheiros como Ministro da
Justiça do FHC? Talvez você nem sequer goste do Índio da Costa… Bem vindo à
*real politik*, *mon ami*. 
E sim, você vai me falar da corrupção na gestão petista. É verdade. No que
diz respeito ao combate à corrupção o governo Lula não foi virtuoso – longe
disso. Houve mesmo bastante corrupção. O mensalão existiu, não foi invenção.
Mas, será que a oposição é impoluta e pode mesmo posar de moralmente
superiora? Lembra-se do Mensalão Mineiro e do Azeredo? Do Ricardo Sérgio de
Oliveira, caixa do alto tucanato, que levou R$ 15 milhões na privatização da
Vale? Dos R$ 400.000<http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_21051997.shtml>a
cada deputado que votou a favor da reeleição? E o esquema de corrupção
e
espionagem, revelado no escândalo dos grampos durante a privatização da
Telebrás, envolvendo FHC, o presidente do BNDES (André Lara
Resende<http://veja.abril.com.br/251198/p_054.html>)
e Luiz Carlos Mendonça de
Barros<http://veja.abril.com.br/251198/p_044.html>(ministro
das Comunicações)? E a farra do Proer? E o favorecimento
ilícito<http://www.terra.com.br/istoe-temp/1713/brasil/1713_radar_da_polemica...>da
Raytheon na instalação do SIVAM ? E a endinheirada
relação <http://veja.abril.com.br/300501/p_038.html> entre Chico Lopes
(ex-presidente do BC) e o banqueiro Salvatore Cacciola?E Eduardo
Jorge<http://veja.abril.com.br/190700/p_040.html>,
assessor pessoal de FHC envolvido em diversas negociatas, inclusive em
“caixa dois” para a reeleição de FHC? Por favor, não me venha com essa
conversa de que o PSDB não compactua com a corrupção. 
Eu vou concordar com você que o Brasil precisa de investimento em
infra-estrutura: portos, rodovias, aeroportos. Mas será que o governo que
impôs à população brasileira o racionamento de energia é mesmo o mais
preparado para conduzir esses avanços em infra-estrutura? Acho que não. 
Mas talvez nenhuma dessas questões sobre economia, educação e gestão pública
importem para você. Talvez o que mais lhe opõe à candidatura de Dilma
Roussef sejam questões religiosas. Pode ser, por exemplo, que você se oponha
à política petista em defesa dos direitos civis dos homossexuais. Você
chama<http://juliosevero.blogspot.com/2009/03/plc-122-ditadura-gay-as-porta...>isso
de “tentativa de implantação de uma ditadura gay no Brasil”. É engraçado
ouvir que existe ditadura gay no Brasil das mulheres-fruta, das dançarinas
de axé, da erotização infantil, das peladonas do carnaval, das bancas em que
pululam revistas masculinas de orientação heterossexual. Fique tranqüilo,
essas coisas vão continuar acontecendo e ninguém está propondo instituir o
monopólio da *G Magazine* entre as revistas de entretenimento adulto
(fugiremos juntos do Brasil quando isso acontecer, ok?). Estamos falando em
estender a uma pequena parcela da população os direitos civis desfrutados
pela maioria. Nenhum governo do mundo tem poder para forçar alguém a assumir
determinada sexualidade, porque os determinismos neurobiológicos da
sexualidade passam ao largo da legislação dos homens – do contrário, eu
acharia que os labradores machos lá do sítio da minha família só montam um
no outro porque o governo PT apóia a causa homossexual (e eu desconfio que
meus labradores não entendem muito bem o que seja o PL 122). A questão aqui
é apenas garantir que a expressão de determinado comportamento sexual não
seja discriminada. Isso não é forçar a população a ser homossexual, nem
calar heterossexuais. O prefeito de Paris é
gay<http://pt.wikipedia.org/wiki/Bertrand_Delano%C3%AB>,
assim como o de Berlim<http://www.dw-world.de/dw/article/0,,2805988,00.html>e
a Primeira Ministra da
Islândia<http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI25287-15227,00-LESB...>.
Eu, heterossexual, não sofro por morar em uma cidade governada por um gay. 
Aproveitando o tema, permita-me uma pergunta: o que aconteceria se, ao invés
de se mobilizarem maciçamente contra o “casamento gay”, os evangélicos se
movessem por coisas que importam, como metrôs, ensino público, bons
hospitais e punição a corruptos? Por essas e outras, é que indicadores como
mortes violentas, saneamento básico e crianças nas escolas são bem melhores
em Paris do que em São Gonçalo, cidade do Brasil com maior concentração de
evangélicos<http://juliosevero.blogspot.com/2009/03/um-brasil-evangelico.html>.
A luta contra a miséria e os embates por educação, transporte e hospitais de
qualidade não parecem sensibilizar evangélicos – mas se dois marmajos querem
juntar escovas de dentes no mesmo copo do banheiro, aí eles entram na
briga<http://noticias.bol.uol.com.br/brasil/2008/06/25/ult4728u12697.jhtm>,
né? Essa miopia política acívica atrasa o país. O Brasil seria bem melhor
para todos se os evangélicos batalhassem politicamente por coisas que
realmente importam – e isso certamente não inclui ajustar o mundo aos
estritos códigos comportamentais que defendem. 
Há o aborto também. Você está certo: a Dilma é a favor do direito ao aborto
(este vídeo <http://www.youtube.com/watch?v=TdjN9Lk67Io> é como batom na
cueca, não tem o que discutir). Mas preste atenção: estamos tratando de uma
eleição presidencial, não de um plebiscito sobre o aborto. E você sabe: o
presidente não tem poder para assinar um papel e legalizar o aborto por
conta própria, sem aprovação do Congresso, como se estivesse assinando uma
ordem para comprar canetas Bic para escolas públicas. A discussão e a
legislação sobre aborto são matéria do Congresso, não do presidente. Não
misture as coisas. Não entre na onda dos que estão transformando essa
eleição em um plebiscito. 
O Brasil melhorou muito sob a égide de Lula. A imprensa mundial, dos
veículos mais à
esquerda<http://www.lemonde.fr/international/article/2010/10/03/lula-consecrat...>aos
mais à direita (tá aqui o
*Figaro<http://www.lefigaro.fr/mon-figaro/2010/09/20/10001-20100920ARTFIG0061...>
* que não me deixa mentir), saúda os avanços na Era Lula. Você dirá, com
razão, que toda unanimidade é burra. Sim, é verdade. Mas isso não significa
que toda forma de discordância seja inteligente. Não é inteligente negar
que, nos anos Lula, o Brasil se tornou um país socialmente mais justo e
menos desigual. Isso é negar os fatos. E negar os
fatos<http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u626987.shtml>nunca
é inteligente. 
Você pode até não votar na Dilma, por razões várias. Eu, de minha parte,
prefiro apoiar quem tem feito do Brasil um lugar melhor para o maior número
possível dos filhos deste solo: os brasileiros. 
* *Leonardo de Souza é médico formado pela UFMG. Especialista em Neurologia,
**trabalha desde 2005 no Centro de Doenças Cognitivo-Comportamentais do
Hospital da Pitié-Salpétriêre, em Paris. **É doutorando em neurociências na
Université Paris VI. Este texto foi publicado inicialmente em seu blog:
aterceiramargemdosena.opsblog.org.* 
—–
[*ATUALIZAÇÃO*: O texto foi modificado. Este blogueiro havia citado Eduardo
Jorge como exemplo de corrupção no governo FHC. Eduardo Jorge foi, de fato,
acusado de inúmeros crimes (inclusive pela própria*Veja*). Contudo, foi
julgado e inocentado de todas as acusações. O trecho referente a Eduardo
Jorge foi riscado. Peço desculpas aos leitores pela informação equivocada. E
agradeço ao Zé Costa por ter me informado o erro] 

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A anedota sobre Serra no e-mail de Ciro


Aos 13 minutos de hoje (28.out.2010), a atriz Patrícia Pillar enviou um e-mail para Ciro Gomes. Escreveu: “Ciro, adorei essa!”. Era o spam de uma anedota que circula na internet sobre a eleição presidencial, fazendo pouco sobre a candidatura de José Serra (PSDB).

Ciro gostou da piada. Repassou-a às 4h43 da madrugada de hoje para 46 e-mails. Aliás, o nome de "Serra" poderia perfeitamente ser trocado por "Dilma" e teria graça do mesmo jeito. Eis o texto:

“1- No dia 02 de Janeiro de 2011, um senhor idoso se aproximou do Palácio da Alvorada e, depois de atravessar a Praça dos Três Poderes, falou para o "Dragão da Independência" que montava guarda:
Por favor, eu gostaria de entrar e me entrevistar com o Presidente Serra.
O soldado olhou para o homem e disse: Senhor, o Sr. Serra não é presidente e não mora aqui.
O homem disse: Está bem. E se foi.

“2- No dia seguinte, o mesmo homem idoso se aproximou do Palácio da Alvorada e falou com o mesmo Dragão: Por favor, eu gostaria de entrar e me entrevistar com o Presidente Serra.
O soldado novamente disse: Senhor, como lhe falei ontem, o Sr Serra não é presidente e nem mora aqui.
O homem agradeceu e novamente se foi.

“3- Dia 04 de janeiro ele voltou e se aproximou do Palácio Alvorada e falou com o mesmo guarda: Por favor, eu gostaria de entrar e me entrevistar com o Presidente Serra.
O soldado, compreensivelmente irritado, olhou para o homem e disse: Senhor, este é o terceiro dia seguido que o Senhor vem aqui e pede para falar com o Sr. Serra. Eu já lhe disse que ele não é presidente, nem mora aqui. O Senhor não entendeu?

“O homem olhou para o soldado e disse: Sim, eu compreendi perfeitamente, MAS EU ADORO OUVIR ISSO!!!

“O soldado, em posição de sentido, prestou uma vigorosa continência e disse: Até amanhã, Senhor!!!
Essa é uma corrente que não pode ser quebrada. Por isso, mande pelo menos para 20 amigos, senão você receberá uma praga e ficará com Serra, FHC e seu bando por 8 anos. Não arrisque!”

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Mensagem de Dilma às pequenas e micro empresas

Dilma13 Presidente
 
Tenho consciência plena da importância das micro e pequenas empresas para o Brasil. Elas representam 99,1% de todas as empresas e são responsáveis pela geração de emprego e renda de mais da metade de todos os brasileiros e brasileiras. Elas também desempenham papel estratégico, porque contratam grande contingente de mulheres e fornecem o primeiro emprego para a maioria dos jovens.

Por essas razões o governo Lula priorizou a formulação de políticas públicas focadas na micro e pequena empresa. A aprovação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, em 2006, e do Empreendedor Individual, em 2008, são dois exemplos de medidas de apoio aos pequenos negócios.

Não há dúvida de que muito já foi feito pelo governo federal nos últimos oito anos. No entanto, reconheço que ainda temos muito por fazer daqui pra frente. Eu vou dar continuidade ao trabalho iniciado pelo presidente Lula em favor dos micro e pequenos empreendimentos.

Eu não pretendo ser apenas uma gestora de políticas públicas para esse segmento empresarial. Eu quero cuidar, com muita atenção e carinho, dos pequenos negócios. É por isso que peço o seu apoio para o Brasil seguir mudando.

Precisamos preservar e ampliar as nossas conquistas e criar as condições para que o País continue no caminho do desenvolvimento sustentável, com distribuição de renda e inclusão social.


Leia o material completo aqui.

Um abraço fraterno,
Dilma Rousseff

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Jogo bruto à vista, e concatenado.

Comentário extraído do artigo "José Serra e a liberdade de expressão", do Blog "O Escrevinhador" de Rodrigo Vianna

Ricardo Lima Vieira disse:
Jogo bruto à vista, e concatenado. Como o deputado Brizola disse, há informações de que a Folha de SP dispõe de material dos militares a respeito de Dilma. Não adianta tentar argumentar que se tratava de período de exceção, com torturas e toda sorte de constrangimentos que levam um ser humano quase à loucura. Simplesmente eles publicarão material com ares de “verdade”, diante de uma audiência que, em sua esmagadora maioria, não tem ideia do que se passava na ditadura, e que está “preparada” para a fuzilaria contra Dilma, dados os spams que os deixaram “prevenidos” contra ela.
Suponho que funcionaria assim: a coisa poderia começar no próprio debate da Globo, com alguma colocação-surpresa do Serra, dia seguinte capa da Veja, manchete dos jornalões (a Folha gentilmente abriria mão da “exclusividade”), minutos intermináveis no JN de sábado, telefonemas, emails, panfletos previamente preparados e distribuídos aos milhões no momento do voto (como se fossem reação a alguma “denúncia”).
O PT tem consciência do “tsunami” que está por vir? Podem chamar de paranóia, porém as denúncias anti-Serra na Folha (que funcionariam como um “morde-assopra”) e as declarações de hoje do presidente do PSDB, de que eles não têm cartas na manga, tudo isso junto configura-se para mim como uma estranha calmaria que antecede o bombardeio. Há um país em jogo. Reações, prevenções, por favor!

PT faz Boletim de Ocorrência contra golpe da violência

outubro 27, 2010 por gentequedizaverdade

Está sendo veiculado na Internet, um diálogo entre dois elementos num bar em São Paulo, revelando que mercenários contratados pela campanha de Serra vestirão camisetas do PT e provocarão violência “com sangue” na sexta feira, durante a caminhada de Serra pelas ruas da cidade. As câmeras da Globo, Estadão e Folha estarão presentes para colher imagens e depoimentos a serem exibidos durante o fim de semana. É a última trapaça que Serra usará para tentar reverter sua desvantagem.

O PT, que também tem caminhada programada no mesmo dia, mudou o horário para as 16h afim de evitar qalquer possibilidade de encontro das duas militâncias.

Divulgue esta denúncia. Quanto mais divulgada, menor será a possibilidade de acontecer. Leia mais aqui e aqui. Veja o vídeo do alerta de Marilena Chauí:



Homenagem ao Presidente Lula. (#luladay)

Vídeo extraído do http://www.dilma13bahia.com.br/luladay/

Propaganda eleitoral de Serra, em cinema, no Rio


Paulo Roberto Franco Andrade

*Recebi, de um amigo do Rio:*


"Ontem precisava fazer hora e aproveitei para ir ao cinema, numa sala do
grupo Severiano Ribeiro.


Antes do início do filme, entre outras coisas, foi apresentado um noticiário
(algo como o antigo "Atualidades Atlântida") sob a justificativa de estar
sempre em dia com o que está acontecendo. Nada mais que 4 ou cinco
"notícias".


O "Noticiário" começou falando sobre as eleições presidenciais dizendo que
as pesquisas apontavam uma diferença de 11 pontos entre Serra e Dilma. Em
seguida, de forma bem mais rápida, una notícia sobre a Erenice (infelizmente
fui pego de surpresa que nem sei o que foi mostrado). Algo que lembra a
propaganda subnliminar. Encerram-se as informações sobre a campanha e são
dadas mais duas ou três notícais curtas e ponto final.


No mínimo parecem caber as seguintes perguntas:


1) É possível tratar de camapnha eleitoral nas salas de cinema durante o
período eleitoral?


2) No caso em tela, não seria o caso de falar, o mesmo tempo, sobre os dois
candidatos? Não seria o caso de falar sobre o Paulo Preto?


3) Será que a forma como a notícia sobre a Erenice foi apresentada não
funciona como uma mensagem subliminar?


4) Não seria o caso da campanha da Dilma verificar se não caberia uma
representação à empresa e à campanha do Serra?


Um abraço"

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Carta aberta a Fernando Henrique Cardoso


O plano Real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999. Outro mito é que seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Um governo que elevou a dívida pública do Brasil de 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? O artigo é de Theotonio dos Santos.
Meu caro Fernando,

Vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esforço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos nos 1960. A discussão agora não é entre os cientistas sociais e sim a partir de uma experiência política que reflete contudo este debate teórico. Esta carta assinada por você como ex-presidente é uma defesa muito frágil teórica e politicamente de sua gestão. Quem a lê não pode compreender porque você saiu do governo com 23% de aprovação enquanto Lula deixa o seu governo com 96% de aprovação. Já discutimos em várias oportunidades os mitos que se criaram em torno dos chamados êxitos do seu governo. Já no seu governo vários estudiosos discutimos, já no começo do seu governo, o inevitável caminho de seu fracasso junto à maioria da população. Pois as premissas teóricas em que baseava sua ação política eram profundamente equivocadas e contraditórias com os interesses da maioria da população. (Se os leitores têm interesse de conhecer o debate sobre estas bases teóricas lhe recomendo meu livro já esgotado: Teoria da Dependencia: Balanço e Perspectivas, Editora Civilização Brasileira, Rio, 2000).

Contudo nesta oportunidade me cabe concentrar-me nos mitos criados em torno do seu governo, os quais você repete exaustivamente nesta carta aberta.

O primeiro mito é de que seu governo foi um êxito econômico a partir do fortalecimento do real e que o governo Lula estaria apoiado neste êxito alcançando assim resultados positivos que não quer compartilhar com você... Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário.

No caso brasileiro, a nossa inflação girou, durante todo seu governo, próxima dos 10% mais altos. TIVEMOS NO SEU GOVERNO UMA DAS MAIS ALTAS INFLAÇÕES DO MUNDO. E aqui chegamos no outro mito incrível. Segundo você e seus seguidores (e até setores de oposição ao seu governo que acreditam neste mito) sua política econômica assegurou a transformação do real numa moeda forte. Ora Fernando, sejamos cordatos: chamar uma moeda que começou em 1994 valendo 0,85 centavos por dólar e mantendo um valor falso até 1998, quando o próprio FMI exigia uma desvalorização de pelo menos uns 40% e o seu ministro da economia recusou-se a realizá-la “pelo menos até as eleições”, indicando assim a época em que esta desvalorização viria e quando os capitais estrangeiros deveriam sair do país antes de sua desvalorização, O fato é que quando você flexibilizou o cambio o real se desvalorizou chegando até a 4,00 reais por dólar. E não venha por a culpa da “ameaça petista” pois esta desvalorização ocorreu muito antes da “ameaça Lula”. ORA, UMA MOEDA QUE SE DESVALORIZA 4 VEZES EM 8 ANOS PODE SER CONSIDERADA UMA MOEDA FORTE? Em que manual de economia? Que economista respeitável sustenta esta tese?

Conclusões: O plano Real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999.

Segundo mito; Segundo você, o seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Meu Deus: um governo que elevou a dívida pública do Brasil de uns 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões de dólares quando entregou o governo ao Lula, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? Gostaria de saber que economista poderia sustentar esta tese. Isto é um dos casos mais sérios de irresponsabilidade fiscal em toda a história da humanidade.

E não adianta atribuir este endividamento colossal aos chamados “esqueletos” das dívidas dos estados, como o fez seu ministro de economia burlando a boa fé daqueles que preferiam não enfrentar a triste realidade de seu governo. Um governo que chegou a pagar 50% ao ano de juros por seus títulos para, em seguida, depositar os investimentos vindos do exterior em moeda forte a juros nominais de 3 a 4%, não pode fugir do fato de que criou uma dívida colossal só para atrair capitais do exterior para cobrir os déficits comerciais colossais gerados por uma moeda sobrevalorizada que impedia a exportação, agravada ainda mais pelos juros absurdos que pagava para cobrir o déficit que gerava.

Este nível de irresponsabilidade cambial se transforma em irresponsabilidade fiscal que o povo brasileiro pagou sob a forma de uma queda da renda de cada brasileiro pobre. Nem falar da brutal concentração de renda que esta política agravou dráticamente neste pais da maior concentração de renda no mundo. Vergonha, Fernando. Muita vergonha. Baixa a cabeça e entenda porque nem seus companheiros de partido querem se identificar com o seu governo...te obrigando a sair sozinho nesta tarefa insana.

Terceiro mito - Segundo você, o Brasil tinha dificuldade de pagar sua dívida externa por causa da ameaça de um caos econômico que se esperava do governo Lula. Fernando, não brinca com a compreensão das pessoas. Em 1999 o Brasil tinha chegado à drástica situação de ter perdido TODAS AS SUAS DIVISAS. Você teve que pedir ajuda ao seu amigo Clinton que colocou à sua disposição ns 20 bilhões de dólares do tesouro dos Estados Unidos e mais uns 25 BILHÕES DE DÓLARES DO FMI, Banco Mundial e BID. Tudo isto sem nenhuma garantia.

Esperava-se aumentar as exportações do pais para gerar divisas para pagar esta dívida. O fracasso do setor exportador brasileiro mesmo com a espetacular desvalorização do real não permitiu juntar nenhum recurso em dólar para pagar a dívida. Não tem nada a ver com a ameaça de Lula. A ameaça de Lula existiu exatamente em conseqüência deste fracasso colossal de sua política macro-econômica. Sua política externa submissa aos interesses norte-americanos, apesar de algumas declarações críticas, ligava nossas exportações a uma economia decadente e um mercado já copado. A recusa dos seus neoliberais de promover uma política industrial na qual o Estado apoiava e orientava nossas exportações. A loucura do endividamento interno colossal. A impossibilidade de realizar inversões públicas apesar dos enormes recursos obtidos com a venda de uns 100 bilhões de dólares de empresas brasileiras. Os juros mais altos do mundo que inviabilizava e ainda inviabiliza a competitividade de qualquer empresa.

Enfim, UM FRACASSO ECONOMICO ROTUNDO que se traduzia nos mais altos índices de risco do mundo, mesmo tratando-se de avaliadoras amigas. Uma dívida sem dinheiro para pagar... Fernando, o Lula não era ameaça de caos. Você era o caos. E o povo brasileiro correu tranquilamente o risco de eleger um torneiro mecânico e um partido de agitadores, segundo a avaliação de vocês, do que continuar a aventura econômica que você e seu partido criou para este país.

Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso fazê-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa. Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil”. E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em seu prestígio profissional. Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente.

Lamento muito o destino do Serra. Se ele não ganhar esta eleição vai ficar sem mandato, mas esta é a política. Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo. Vocês vão ficar na nossa história com um episódio de reação contra o vedadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar. Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista. E dessa política vocês estão fora.

Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês ( e tenho a melhor recordação de Ruth) mas quero vocês longe do poder no Brasil. Como a grande maioria do povo brasileiro. Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que vocês algum dia voltarão a freqüentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder.

Com a melhor disposição possível mas com amor à verdade, me despeço

thdossantos@terra.com.br
http://theotoniodossantos.blogspot.com/

(*) Theotonio Dos Santos é Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense, Presidente da Cátedra da UNESCO e da Universidade das Nações Unidas sobre economia global e desenvolvimentos sustentável. Professor visitante nacional sênior da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Os santinhos de uma guerra suja

Fonte: Revista IstoÉ independente


A poucos dias da eleição, a campanha de José Serra se aproxima de grupos ultraconservadores e reforça a tática do ódio religioso. O oportunismo político divide a Igreja e vira caso de polícia

Alan Rodrigues e Bruna Cavalcanti
 A ordem para encomendar o material à gráfica ligada aos tucanos partiu de dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo da Diocese de Guarulhos, na Grande São Paulo. Ele é antigo conhecido do PSDB, amigo declarado de seu conterrâneo Sidney Beraldo, deputado estadual pelo partido e um dos coordenadores da campanha de Serra em São Paulo. Nas conversas de sacristia, dom Luiz tem fama de ser um homem ?maquiavélico? e ?implacável?. Padres o descreveram à ISTOÉ como alguém que não aceita opiniões divergentes e já criou situações embaraçosas para constranger e afastar subordinados que questionam seu radicalismo. Para fazer os contatos com a gráfica dos Kobayashi, dom Luiz contou com a ajuda do ex-seminarista Kelmon Luís da Silva Souza. Frequentador da Catedral Metropolitana Ortodoxa, na zona sul de São Paulo, Souza também é presidente da Associação Theotokos, um grupo católico ultratradicionalista, e membro do autodenominado Partido Monarquista Brasileiro. Em 2006, um dos parceiros do ex-seminarista que atua numa organização integralista (leia quadro abaixo) doou R$ 3,5 mil para a campanha do deputado federal Índio da Costa, candidato a vice-presidente na chapa de Serra. Quando a atuação de Souza e dom Luiz tornou-se pública, os dois se enclausuraram. Nos próximos dias, no entanto, terão de prestar depoimento à Polícia Federal, investigados por crime eleitoral, calúnia e difamação.

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A distribuição de panfletos caluniosos em paróquias que estão sob a jurisdição de outros bispos provocou um racha na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. ?O embate ideológico que existiu nos primeiros anos da CNBB, mas estava ausente nas últimas décadas, ameaça voltar após as eleições?, avalia dom Pedro Luiz Stringhini, bispo de Franca. Fiéis não param de telefonar e mandar e-mails para a Cúria Diocesana de Guarulhos condenando o comportamento de dom Luiz. Eles questionam: se os cofres da igreja estão quase vazios, com que dinheiro o bispo vai pagar a encomenda dos panfletos que beneficiam Serra? ?Na segunda-feira, recebi uma ligação de dom Luiz pedindo desculpas pelos transtornos?, contou à ISTOÉ Paulo Ogawa, administrador da gráfica que trabalha para o PSDB. ?O Kelmon também telefonou?, disse ele. ?Garantiu que eu não ficaria no prejuízo e que a fatura do material apreendido pela PF, no valor de R$ 30 mil, poderia ser enviada porque a igreja iria pagar.?

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POLÍCIA
Cardozo (PT) pede que a ligação dos tucanos com a gráfica seja apurada
As acusações contra Dilma que aparecem nestes panfletos são idênticas às divulgadas pela central de boatos dos tucanos na internet. No bureau de difamação instalado no QG tucano trabalham 30 ?troleiros?, como são chamados os militantes que rastreiam e espalham pelas redes de computadores propagandas negativas e calúnias sobre a candidata do PT. O comitê da campanha de Serra ocupa quatro andares do antigo Edifício Joelma, no centro de São Paulo. No térreo fica o chamado baixo clero, que recebe informações de militantes que estão nas ruas e busca cooptar lideranças de diversos segmentos, como o dos religiosos. É ali que trabalham operadores como o pastor Alcides Cantóia Jr. Ele coordena com afinco o grupo dos evangélicos que, entre seus trunfos, se orgulha de ter conseguido a adesão do pastor Silas Malafaia, do Rio de Janeiro, estrela de um dos vídeos mais ferinos contra Dilma. Na última semana, o grupo foi encarregado de oferecer benefícios financeiros às igrejas e seus projetos sociais, uma forma de compra de votos que deverá ser investigada pelo Ministério Público Eleitoral. O cérebro do bureau fica no 20º andar do Joelma, ninho dos tucanos mais poderosos. A avalanche de baixarias que eles produzem é tão intensa que o PT já recebeu mais de cinco mil denúncias sobre mensagens e vídeos ofensivos à candidata petista. Apesar de toda essa estrutura, o presidenciável Serra procura se apresentar como vítima e cinicamente afirma que foi o PT que colocou o debate sobre o aborto na pauta eleitoral. Não foi (leia reportagem acima).

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Para combater a disseminação de calúnias, a coordenação da campanha de Dilma criou, na semana passada, uma espécie de disque-denúncia em 59 cidades brasileiras. ?Há indícios veementes de que os panfletos apreendidos pela PF foram produzidos pela campanha de nosso adversário?, disse o deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP). ?A despesa é por conta da diocese de Guarulhos, que tem pleno direito a manifestar-se sobre questões que considera relevantes?, retrucou Serra. A alegação do tucano não é verdadeira, como explica o advogado Eduardo Nobre, especialista em direito eleitoral: ?Entidade religiosa não pode fazer doações para candidatos ou partidos políticos. Os bispos que assinaram o manifesto podem ser processados por calúnia e difamação e ser obrigados a pagar multa.?
A campanha eleitoral rasteira deste ano é um marco na história do País. A onda de mensagens preconceituosas pulverizada na internet pelos grupos ultraconservadores agora aliados dos tucanos debocha do poder de dicernimento do eleitorado. Recorrendo a artimanhas subterrâneas, foge ao debate de questões vitais para o avanço do Brasil. O volume e a rapidez de propagação de falsidades são inéditos. E não há dúvida de onde partem: após o primeiro turno, numa reunião da cúpula tucana em Brasília, foi distribuído um panfleto com instruções de como propagar uma campanha anti-Dilma na internet. Num dos trechos, há recomendação para que militantes visitem o site do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, um dos fundadores da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade), um dos grupos mais arraigados ao conservadorismo no País.
Apostando no peso do voto religioso, a central de boatos de Serra parece usar métodos da inquisição e fazer campanha para a sucessão de Bento XVI ? e não de Lula. Uma das providências desses militantes tucanos foi distribuir ?santinhos? com a foto e a assinatura de Serra, junto à inscrição ?Jesus é a verdade e a justiça?. Panfletos como este, porém, acabaram irritando muitos católicos. Menos de uma semana depois do vexame de Canindé, o evidente uso e abuso tucano de armações com radicais de ultradireita já dava sinais de fadiga. As feitiçarias e os supostos pecados começavam a recair sobre quem se esmerou em propagá-los. ?A Igreja não tem a tutela nem a missão de dominar a consciência política do povo?, disse padre Júlio Lancellotti, na terça-feira 19, durante um ato de apoio de juristas e intelectuais à candidata petista. O religioso e escritor Frei Betto fez coro: ?Bispos panfletários não falam em nome da Igreja nem da CNBB. É opinião pessoal, só que injuriosa, mentirosa e difamatória.?
Colaborou Francisco Alves Filho

A hipocrisia do aborto
Teoria e prática de Mônica Serra
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Nesta campanha, o casal Mônica e José Serra rompeu a fronteira entre o público e o privado ao dar conotação eleitoreira ao tema do aborto. Quando retirou o procedimento da categoria de saúde pública ou de foro íntimo, o casal abriu um flanco na própria privacidade. Serra vinha condenando de forma sistemática a descriminalização ao aborto. Mônica, por sua vez, havia sido ainda mais incisiva, intrometendo-se no assunto durante uma carreata com o marido em Duque de Caxias (RJ): ?Ela (Dilma) é a favor de matar as criancinhas?, disse a um ambulante que apoiava a candidata do PT. Não demorou para que o relato de um aborto feito por Mônica quando Serra vivia exilado no Chile virasse assunto público. O caso foi trazido à tona pela bailarina e coreógrafa Sheila Canevacci Ribeiro, 38 anos, ex-aluna de Mônica no curso de dança da Universidade de Campinas. Ao lado do marido, o antropólogo italiano Massimo Canevacci, Sheila assistia em sua casa a um debate entre os presidenciáveis quando Dilma Rousseff questionou Serra sobre ataques feito por Mônica. Surpreendida, Sheila se lembrou em detalhes de uma aula de psicologia ministrada em 1992 por Mônica para a sua turma na Unicamp. Ao discorrer sobre como os traumas da vida alteram os movimentos do corpo e se refletem no cotidiano, Mônica contara ao pequeno grupo de alunas do curso de dança que ficara marcada por um aborto que precisou fazer na época da ditadura, devido às condições políticas adversas em que vivia. ?Fiquei assustada com o duplo discurso de minha professora?, afirma Sheila, que na manhã seguinte colocou uma reflexão sobre o assunto em sua página na rede social Facebook.
A coreógrafa acreditava estar compartilhando a experiência com um grupo de amigos, mas o texto se espalhou, ganhou as páginas dos jornais e até uma nota oficial da campanha de Serra negando o aborto. Já Mônica e Serra não fizeram qualquer desmentido sobre o caso. Na sequência, Sheila recebeu milhares de apoios, mas também críticas, incluindo a de ter traído sua antiga professora. ?Foi ela quem traiu minha confiança como aluna e mulher?, diz a coreógrafa. ?Ela não é a mulher do padeiro, do dentista. Ela é a mulher de um candidato a presidente da República. O que ela fala e faz conta.?
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As atitudes das personalidades públicas contam tanto que chegam a provocar temor. Colega de classe de Sheila, a professora de dança C.N.X., 36 anos, também se lembra do depoimento de Mônica na universidade, mas pede para não ser identificada. Recém-aprovada em concurso de uma instituição federal, ela acredita que, se eleito presidente, Serra pode prejudicar sua carreira. Quanto à aula de 1992, C.N.X. conta que o grupo de alunas não chegava a dez e estava sentado em círculo quando Mônica comentou que um dos fatores que tinham alterado sua ?corporalidade? foi a vivência na ditadura e a necessidade de fazer o aborto. ?Ela queria ter o filho, não queria ter tirado?, diz a professora de dança. ?E eu fiquei muito chocada com o depoimento, pois na época era muito bobinha?, completa C.N.X., que passara no vestibular com apenas 16 anos e pela primeira vez vivia longe da família.
Na opinião da professora de dança, nada impede que, de 1992 para cá, Mônica tenha mudado de ideia: ?Mas ela não pode ser hipócrita. Sabe que o aborto é uma experiência traumática.? Trata-se também de um tabu no País, embora 5,3 milhões de brasileiras entre 18 e 39 anos tenham feito pelo menos um aborto, de acordo com o Ministério da Saúde. Mais da metade das brasileiras que se submete ao procedimento acaba internada devido a complicações da intervenção. Como se não bastasse, pode ser condenada a pena de um a três anos de detenção, como prevê o Código Penal de 1940, exceto para os casos de estupro ou de risco de morte da mãe. A mudança dessa lei ? ISTOÉ defende a descriminalização do aborto ? pode ser o primeiro passo para acabar com a hipocrisia e transformar a interrupção da gravidez em uma questão de saúde pública e de foro íntimo.