Serra e o assessor neoliberal de Marina Silva, Eduardo Gianetti da Fonseca, criticam o Programa de Sustentação do Investimento do BNDES --uma alavanca contracíclica, responsável, em grande parte, pelo reduzido impacto da recessão mundial na atividade produtiva brasileira. Serra e o ideólogo neoliberal responsável pelo novo discurso econômico de Marina Silva criticam os juros baixos do BNDES para financiamentos produtivos. Pasmem: eles dizem que isso é privatização. Talvez preferissem um banco de fomento pró-recessão, como no governo FHC, do qual Serra foi ministro do Planejamento, quando o BNDES estava marcado para morrer enquanto instituição indutora do desenvolvimento brasileiro. Esse papel, como se sabe, os neoliberais -a exemplo do ideólogo de Marina Silva-- atribuem exclusivamente aos mercados, dotados segundo afirmam, de uma ‘mão invisível' capaz de promover com inigualável acurácia a alocação de fatores ao menor custo e com maior eficiência --e agora, ficamos sabendo, também com 'zelo ambiental', pelo que se depreende do novo discurso de Marina Silva. A incompatibilidade entre a coordenação de recursos da sociedade e os impulsos irrefletidos dos livres mercados ficou mais uma vez evidenciada na crise de 2008 -a pior e mais pedagógica crise do capitalismo mundial desde 1929. O Brasil foi uma das notáveis exceções num mundo atropelado por recessão, desemprego e crise bancária. Em grande parte, isso ocorreu graças a políticas contracíclicas como as do BNDES -- alvo da fina sintonia mercadista entre Serra, um ' desenvolvimentista de boca', como diz Maria da Conceição Tavares, e Marina Silva, a nova 'menina do quarteirão' do conservadorismo brasileiro.
(Carta Maior e os rumos de quem deixou o PT em nome da ética; 22-06)
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