do Direto da Redação
Parecia um roteiro de filme de suspense. De um lado, o barco irlandês Rachel Corrie, com vinte pessoas a bordo, entre elas um ex-assessor do Secretário-Geral da ONU e uma ganhadora do prêmio Nobel da Paz (ambos irlandeses), que seguia em direção a Gaza com 500 toneladas de alimentos e material escolar. De outro, as lanchas militares da marinha israelense, com ordens de impedir “a qualquer custo” a passagem do barco.
O mundo entrou em suspense. Na segunda-feira, comandos israelenses tinham invadido um navio turco de ajuda humanitária matando nove ativistas da causa palestina.
O suspense durou até a manhã deste sábado quando a marinha israelense interceptou e aprisionou o Rachel Corrie, obrigando-o a seguir até o porto de Ashdod. Felizmente, nem mortos ou feridos, salvaram-se todos.
Mas o mundo voltou a testemunhar a intransigência do governo israelense, alérgico ao diálogo, optando pela linguagem da força para impor o que julga um direito seu.
Se os palestinos tivessem contratado Washington Olivetto ou outro publicitário do mesmo naipe não teria conseguido uma campanha publicitária tão bem sucedida para sua causa como foi essa contribuição inestimável oferecida pelo governo israelense.
A invasão do barco turco por militares treinados e equipados contra civis desarmados foi um ato de estupidez política do governo Netanyahu. Uma truculência desnecessária. Acusar os ativistas de possuirem perigosas armas a bordo e mostrar facas e pedaços de pau fazem parte da guerra da propaganda, apenas uma maneira de justificar o injustificável.
As divergências Israel/Palestina tem componentes históricos e religiosos que não podem ser desprezados quando se avalia um incidente da gravidade que foi o assassinato dos civis turcos. A condenação mundial ao ataque de segunda-feira trouxe embutidos preconceitos e sentimento antissemitas, que não devem prevalecer sobre o verdadeiro clamor por justiça. Militares mataram civis desarmados? Sim. Então alguém tem que ser punido para que se faça justiça.
Mas como fazer justiça nesse caso? Digamos que a comissão de investigação proposta pela ONU chegue à conclusão de que Israel foi culpado pelo banho de sangue a bordo do Mavi Mármara. Quem deverá ser punido o governo ou militares que cumpriram ordem de invadir e usar a força se necessário fosse? Ou o povo isralense?
A propósito, o povo israelense não merece ser condenado pela incompetência de seus atuais líderes. Correntes políticas do país condenaram o uso de força excessiva contra civis.
Mesmo no parlamento israelense, vozes se levantaram contra o governo direitista radical de Netahyahu et caterva. A deputada Hanin Zoabi, uma dos onze parlamentares de origem árabe, estava entre os setecentos ativistas da Flotilha da Liberdade. Ela e mais quatro palestinos-israelenses.
Por gozar de imunidade parlamentar ela foi libertada depois de prestar depoimento ao serviço de inteligência. Os outros quatro estão em prisão domiciliar. E para serem libertados as autoridades exigem o pagamento de fiança de cerca de $37 mil dólares.
Na quarta-feira, Zoabi tentou ocupar a tribuna para contar sua experiência, mas foi impedida por um grupo pró-governo aos gritos de “terrorista”, “vá para Gaza, traidora”. O incidente terminou com a expulsão do plenário de 14 parlamentares, fato inédito na história do Knesset.
As lideranças israelenses precisam ser menos intransigentes se quiserem conquistar a simpatia do mundo. Israel não pode estar acima da lei e do direito internacional e nem pode ter o poder de polícia em águas internacionais. Divergências entre Estados devem ser discutidas em organismos internacionais e não podem ser substituídas por atitudes unilaterais que servem apenas para catalisar contra si a opinião pública
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