Ao contrário do que afirmam histericamente lideranças da direita e a mídia brasileira, a mediação do Brasil e da Turquia para o encontro de uma solução pacífica para a questão nuclear iraniana é louvável. Fica difícil de mensurar se a reação ao acordo foi pior da parte dos Estados Unidos ou da mídia conservadora.
A agressividade de Madame Clinton deixou claro que Washington, pressionado pelo lobby sionista e pelo complexo industrial militar, não quer negociar coisa alguma, mas apenas enquadrar o Irã e tentar de todas as formas se intrometer em assuntos internos de um país soberano. A China e a Rússia contraditoriamente, uma vez que num primeiro momento apoiaram as gestões dos países emergentes, decidiram apoiar a proposta dos EUA no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.
E como fica agora depois que a agência Reuters divulgou informação segundo a qual o Presidente Barack Obama 15 dias antes da assinatura do acordo tinha estimulado Lula a tentar a negociação? Será que Obama não manda e foi desautorizado por Madame Clinton, pelo complexo militar e pelo lobby sionista?
O papel subserviente da mídia conservadora é deveras lamentável. A TV Globo, por exemplo, foi ouvir em Israel um extremista de direita do governo Benyamin Netanyahu com tom ameaçador contra Teerã e entrevistou um cidadão israelense dizendo que ele era iraniano. O cidadão pode ter nascido no Irã, mas abdicou da nacionalidade iraniana para se tornar israelense e defender o ideário nacionalista de direita do sionismo, uma deturpação do judaísmo.
No noticiário da madrugada da Globo, seguindo a pauta do Departamento de Estado norte-americano foi convocado para desancar sobre Lula e Celso Amorim o “analista” Arnaldo Jabor, que com as suas gracinhas de sempre chegou a falar da “infiltração comunista” no Itamaraty. Lamentável e vale uma indagação: a quem o senhor Jabor está servindo? Os outros canais não foram diferentes no furor contra o acordo.
Editorial do jornal O Globo, em tom agressivo, com o título “Anatomia do fracasso da política externa”, não poupou Lula com o objetivo de incutir em seus leitores que o Presidente brasileiro deu “vexame”, como entenderam os articulistas do periódico. No mesmo dia, em matéria paga, um obscuro pastor, de uma obscura entidade pentecostal denominada Associação Vitória em Cristo, considerava o acordo Brasil-Irã “uma vergonha”. Os grupos pentecostais hoje na matriz EUA ou por aqui são radicais defensores do sionismo e defendem ações ainda mais violentas contra o Irã, em conformidade com os dirigentes israelenses que estão loucos por uma aventura bélica contra o Irã.
Voltando a O Globo, o furor do jornal de hoje contra Lula, Dilma Roussef, Hugo Chávez, Cristina Kirchner, Ahmadinejad, e o posicionamento histórico contra Raúl e Fidel Castro me fez recordar os anos 80, mais precisamente o primeiro governo de Leonel Brizola no Estado do Rio Janeiro.
Nesse sentido, o competente jornalista Pinheiro Júnior, ex-editor do caderno cidade de O Globo contou, em uma recente reunião do Conselho Deliberativo da ABI, que o então diretor de redação do referido jornal, Evandro Carlos de Andrade, cobrava diariamente dos jornalistas matéria contra Brizola. Pinheiro disse que a chefia de reportagem, conhecendo a política do jornal tomava providências para sempre haver notícias ou reportagens contra o governador do Estado do Rio, principalmente sobre os Cieps. Mas quando não havia nada, Evandro Carlos de Andrade não fazia por menos e deixava claro: “Te vira, arranja alguma coisa contra Brizola, porque o doutor Roberto (Marinho) quer”.
Entendo ser importante mencionar o fato, não só porque agora em junho fazem seis anos da morte de Brizola, como também porque a filosofia de O Globo não mudou. Uma semana antes da morte de Brizola, o diretor executivo de jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel, culpava o político trabalhista pela violência no Rio.
Hoje, Brizola não está mais na pauta de O Globo, tendo sido substituído por Lula e demais líderes mundiais acima mencionados. Como resposta, as entidades da sociedade civil brasileira, ABI, OAB, Clube de Engenharia, para ficarmos em algumas, deveriam se empenhar, como foi sugerido aqui no Direto da Redação por Mair Pena Neto, em apresentar os nomes de Lula e do Primeiro-ministro turcoTyyiq Erdogan para o Prêmio Nobel da Paz. Seria uma forma de corrigir o que aconteceu o ano passado quando Barack Obama, hoje mais interessado na guerra (Iraque, Afeganistão e pressão contra o Irã) do que na paz propriamente dita, foi o premiado.
Em suma, quer queiram ou não Madame Clinton, as Organizações Globo e os grupos pentecostais, países emergentes como o Brasil e Turquia demonstraram na prática que através do diálogo e das negociações, a paz ainda é possível. Mas se prevalecer à vontade de Madame Clinton que representa os falcões, a paz ficará distante.
Ah, sim: todo cuidado é pouco, pois o Departamento de Estado pode querer colocar as mangas de fora contra o governo Lula em função do posicionamento brasileiro pela paz. Historicamente, sucessivos governos estadunidenses sempre agiram de forma golpista contra quem não aceita as suas exigências.
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