por Eliakim Araújo
Publicada em:09/05/2010 O PECADO DE MARIA
Maria é uma imigrante mexicana que vive no Arizona. Ela tem três filhos, de três, cinco e sete anos, todos nascidos nos Estados Unidos, cidadãos americanos portanto. De quinze dias para cá, Maria deixou de realizar uma rotina simples, mas que é a alegria e a realização de qualquer mãe: levar os filhos até a porta da escola.
Desde que a governadora do Arizona sancionou uma lei de imigração, de abrangência estadual, Maria ouviu falar que a polícia estava prendendo na porta da escola as mães que não tivessem documentos. Por isso, ela passou a se esconder e evitar locais públicos porque não tem o visto de residência.
Maria vive uma triste e absurda realidade kafkiana: é uma imigrante ilegal no país onde nasceram seus três filhos. Hoje ela deixa as crianças a três ou quatro quadras da escola e, de longe, com o coração apertado, acompanha os passinhos de seus queridos até que ultrapassem o portão da escola elementar.
A história de Maria é apenas uma entre milhares de outras tão ou mais dolorosas do que a dela. Sua eventual prisão vai transformar a vida da família no pior dos infernos: ela será deportada imediatamente e não poderá levar junto os filhos nascidos nos EUA, que serão transferidos para algum abrigo de menores do Estado, quando não oferecidos em adoção. É uma situação desesperadora e humilhante, causada por uma lei arbitrária e desumana.
Em resposta às muitas manifestações de protesto em todo país, os parlamentares e a governadora do Arizona, tentaram iludir a opinião pública incluindo na lei uma emenda que torna ilegal a discriminação racial, como se fosse uma grande novidade no país.
Não é preciso ser um estudioso das raças para se saber que é muito fácil identificar os mexicanos da fronteira pelos seus traços físicos. São geralmente mestiços (a mistura do índio com o espanhol), de olhos rasgados, não muito altos e com um sotaque inconfundível. Um alvo fácil na mão da polícia dos gringos que ganhou carta-branca para interrogar e prender qualquer um.
Daí o medo de Maria de levar os filhos até a escola, embora se saiba que a lei só entrará em vigor em julho, se não houver nenhuma providência do governo federal. A história de Maria está contada hoje no jornal espanhol El País, que publica uma ampla reportagem sobre o medo que tomou conta da população latina na fronteira México-EUA.
Há dois domingos, escrevi aqui neste espaço que os EUA poderiam virar um imenso campo de concentração se a moda do Arizona se espalhasse. Pois não é que na semana que passou, um deputado estadual da Pennsylvania, o republicano Daryl Meltcafe, apresentou um projeto baseado na Lei do Arizona, só que ainda mais rigoroso? Em entrevista na TV, ele afirmou que, se seu projeto passar, ao imigrante indocumentado só restará a alternativa de “deixar o Estado ou ir para a prisão”. Ainda bem que, por enquanto, o governador da Pennsylvania adiantou que vai vetar o projeto se ele chegar até seu gabinete.
Iniciativas como a desse deputado, apoiada por setores reacionários da mídia, criam um clima de rejeição, quase ódio, ao imigrante, sobretudo o latino. Culpam os imigrantes de todos os males do país, preferem esquecer que país chegou ao fundo do poço surrupiado por banqueiros desonestos e pela falta de uma eficiente fiscalização do governo.
O mais triste para os mexicanos acorrentados e humilhados nas Cortes de Justiça das cidades fronteiriças é saber que estão sendo expulsos de terras que já foram suas. A área onde estão os Estados do Texas, Novo México, Arizona, Califórnia, Nevada, Utah e parte do Colorado – que corresponde a mais da metade do atual território mexicano – foi tomada à força pelos Estados Unidos, depois de três anos de guerra que terminou em 1848.
"Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos", lembrou certa vez o ex-presidente mexicano Lázaro Cardenas (1934-1940).
Maria é uma imigrante mexicana que vive no Arizona. Ela tem três filhos, de três, cinco e sete anos, todos nascidos nos Estados Unidos, cidadãos americanos portanto. De quinze dias para cá, Maria deixou de realizar uma rotina simples, mas que é a alegria e a realização de qualquer mãe: levar os filhos até a porta da escola.
Desde que a governadora do Arizona sancionou uma lei de imigração, de abrangência estadual, Maria ouviu falar que a polícia estava prendendo na porta da escola as mães que não tivessem documentos. Por isso, ela passou a se esconder e evitar locais públicos porque não tem o visto de residência.
Maria vive uma triste e absurda realidade kafkiana: é uma imigrante ilegal no país onde nasceram seus três filhos. Hoje ela deixa as crianças a três ou quatro quadras da escola e, de longe, com o coração apertado, acompanha os passinhos de seus queridos até que ultrapassem o portão da escola elementar.
A história de Maria é apenas uma entre milhares de outras tão ou mais dolorosas do que a dela. Sua eventual prisão vai transformar a vida da família no pior dos infernos: ela será deportada imediatamente e não poderá levar junto os filhos nascidos nos EUA, que serão transferidos para algum abrigo de menores do Estado, quando não oferecidos em adoção. É uma situação desesperadora e humilhante, causada por uma lei arbitrária e desumana.
Em resposta às muitas manifestações de protesto em todo país, os parlamentares e a governadora do Arizona, tentaram iludir a opinião pública incluindo na lei uma emenda que torna ilegal a discriminação racial, como se fosse uma grande novidade no país.
Não é preciso ser um estudioso das raças para se saber que é muito fácil identificar os mexicanos da fronteira pelos seus traços físicos. São geralmente mestiços (a mistura do índio com o espanhol), de olhos rasgados, não muito altos e com um sotaque inconfundível. Um alvo fácil na mão da polícia dos gringos que ganhou carta-branca para interrogar e prender qualquer um.
Daí o medo de Maria de levar os filhos até a escola, embora se saiba que a lei só entrará em vigor em julho, se não houver nenhuma providência do governo federal. A história de Maria está contada hoje no jornal espanhol El País, que publica uma ampla reportagem sobre o medo que tomou conta da população latina na fronteira México-EUA.
Há dois domingos, escrevi aqui neste espaço que os EUA poderiam virar um imenso campo de concentração se a moda do Arizona se espalhasse. Pois não é que na semana que passou, um deputado estadual da Pennsylvania, o republicano Daryl Meltcafe, apresentou um projeto baseado na Lei do Arizona, só que ainda mais rigoroso? Em entrevista na TV, ele afirmou que, se seu projeto passar, ao imigrante indocumentado só restará a alternativa de “deixar o Estado ou ir para a prisão”. Ainda bem que, por enquanto, o governador da Pennsylvania adiantou que vai vetar o projeto se ele chegar até seu gabinete.
Iniciativas como a desse deputado, apoiada por setores reacionários da mídia, criam um clima de rejeição, quase ódio, ao imigrante, sobretudo o latino. Culpam os imigrantes de todos os males do país, preferem esquecer que país chegou ao fundo do poço surrupiado por banqueiros desonestos e pela falta de uma eficiente fiscalização do governo.
O mais triste para os mexicanos acorrentados e humilhados nas Cortes de Justiça das cidades fronteiriças é saber que estão sendo expulsos de terras que já foram suas. A área onde estão os Estados do Texas, Novo México, Arizona, Califórnia, Nevada, Utah e parte do Colorado – que corresponde a mais da metade do atual território mexicano – foi tomada à força pelos Estados Unidos, depois de três anos de guerra que terminou em 1848.
"Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos", lembrou certa vez o ex-presidente mexicano Lázaro Cardenas (1934-1940).
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