Enquanto a guerra santa contra Lula campeava à solta, os novos diretores davam início a movimentos não muito claros, que só começariam a fazer sentido nos meses seguintes.
Um dos primeiros atos de Eurípides foi contratar o jornalista Márcio Aith, profissional respeitado, passagens pela “Gazeta Mercantil” e “Folha de S. Paulo”. Pouco antes, Aith ganhara destaque com a matéria sobre o “dossiê Kroll”, publicado na "Folha de S. Paulo que implicava Daniel Dantas na espionagem de adversários e membros do governo
Nos meses seguintes, Dantas seria submetido a um tiroteio de denúncias. Era a primeira parte da estratégia da Veja, já sob nova direção.
Poderia ser para atingir a concorrente IstoÉ - claramente alinhada com Dantas. Poderia ser uma forma de chamar o banqueiro para conversar.
No dia 28 de julho de 2004, saiu o primeiro petardo contra Dantas. Na matéria “Um negócio de espiões”, de Alexandre Oltramari, ele era frontalmente acusado de espionar autoridades brasileiras (clique aqui).
“O caso mais explícito, e o mais grave, é a vigilância de espiões sobre os passos de Cássio Casseb, atual presidente do Banco do Brasil e ex-conselheiro da Telecom Italia. Nos relatórios divulgados na semana passada, fica-se sabendo que a Kroll Associates, a maior empresa de investigação corporativa do mundo, contratada pelo Opportunity, andou no encalço de Casseb por quase um ano, tendo, inclusive, monitorado suas contas bancárias pessoais – numa flagrante violação da lei brasileira.
Nesses movimentos iniciais, nas matérias da Veja Dantas era o vilão; os demais, suas vítimas.
As entradas de Dantas na revista se davam, apenas, através da seção Radar, de Lauro Jardim. Mas, de uma maneira geral, a linha editorial da revista continuava na direção oposta: atacar Dantas.
No dia 3 de novembro de 2004, outro petardo contra Dantas: a matéria “O dia da caça”, assinada por Márcio Aith. O subtítulo já era indicativo do tom da matéria:
“A Polícia Federal deflagra uma operação contra a Kroll, que, contratada pelo banqueiro Daniel Dantas, pode ter espionado até o ministro José Dirceu”.
Na matéria se dizia que:
A Kroll, contratada pela Brasil Telecom dominada por Dantas, foi acusada de usar métodos ilícitos numa investigação que teria como objetivo levantar informações comprometedoras sobre a Telecom Italia. Os indícios de que a empresa de investigação vinha agindo à margem da lei foram reforçados à Polícia Federal pela própria Telecom Italia.
Conversas entre Verdial e seu chefe, o inglês que se apresenta como William Goodall, mostram também que fontes policiais e da Receita Federal foram pagas pela Kroll para facilitar o acesso da empresa a informações sigilosas de seus investigados.
A matéria revelava as ligações jornalísticas de Dantas
Os documentos repassados à Polícia Federal pela Telecom Italia incluem um e-mail que a PF atribui ao jornalista Leonardo Attuch, da revista IstoÉ Dinheiro. A mensagem foi enviada em setembro para Charles Carr, chefe do escritório da Kroll em Londres. Nela, o remetente, que se identifica por meio do pseudônimo "Silvio Berlusconi", comenta em tom de intimidade uma reportagem que havia feito sobre a empresa italiana Tecnosistemi, ligada ao grupo Tim e envolvida em denúncias de falência fraudulenta (na edição datada de 14 de julho deste ano, a revista IstoÉ Dinheiro saiu com uma reportagem sobre o assunto, assinada por Attuch). No fim da mensagem, o remetente afirma que gostaria de ter acesso "à informação que você tem sobre o Dirceu". Conclui dizendo: "Tenho certeza de que renderia uma grande reportagem."
No final da matéria havia um boxe, “O gênio do mal”, de Lucila Soares e Monica Weinberg, traçando um perfil de Dantas.
“Também seus colegas na corretora Triplic, onde trabalhou no início da carreira (quando ainda usava rabo-de-cavalo e bolsa a tiracolo), espantavam-se com seu talento, que lhe rendeu o apelido de "professor Gavião, o gênio do mal". Era só uma brincadeira de jovens, mas já caracterizava um estilo marcado pelo hábito de "agir na fronteira", na definição do próprio Dantas. A expressão traduz uma ousadia que, segundo amigos, é capaz de levar o banqueiro a atuar freqüentemente no limite da legalidade”.
No dia 18 de maio de 2005 sairia uma terceira grande matéria, “A Usina de Espionagem da Kroll”, assinada por Marcelo Carneiro e Thais Oyama, em cima de uma operação da Policia Federal contra a Kroll. Anotem a data porque marca o fim da era de críticas a Dantas.
Dizia a matéria:
“Até então, porém, suspeitava-se que a empresa havia atropelado os limites estabelecidos pela Constituição para atender apenas aos interesses da Brasil Telecom – até o mês passado comandada por Daniel Dantas, do banco Opportunity. O material reunido pela PF no curso da investigação, batizada de Operação Chacal, revela, no entanto, que pelo menos desde a década de 90 a Kroll se dedica a monitorar a vida de dezenas de pessoas, entre elas políticos e empresários – e nem sempre por meio de expedientes legais”.
O simples fato de se saber que praticava ilegalidades já seria suficiente para ser tratado com cautela por qualquer jornalismo sério. A revelação de que comprava reportagens recomendava afastamento total.
Nos meses seguintes, porém, uma profunda transformação aconteceria na linha editorial da revista que denunciara, pouco antes, essas manobras de Dantas.
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