Texto extraído da capa do portal Carta Maior, em 23/09/2013
Depois de anos de abuso do recurso adversativo -‘país vai bem, mas...' -- o jornalismo de economia se agarra agora ao verbo ‘surpreender'.
O PIB ‘surpreendeu' no segundo trimestre, resmungaram as manchetes diante do crescimento econômico bem acima do previsto pela pauta conservadora: 3,3% em relação a igual período de 2012.
O emprego foi outra variável que ‘surpreendeu' em agosto, com um salto de 26% na oferta de vagas formais.
Nesta 2ª feira, a arrecadação tributária manifestou também o seu desacordo com as previsões sombrias da emissão conservadora. A receita atingiu valor recorde no mês passado.
A sequência é infernal.
Antes, ainda, as manchetes já haviam manifestado surpresa com a volta da inflação ao limite da meta do BC, em julho e agosto. Até os consumidores decidiram teimar. Em movimento quase paradoxal, eles reduziram a inadimplência e aumentaram as compras.
A presença recorrente do efeito surpresa nas manchetes não deve ser entendida como sintoma do que não é.
O país tem problemas estruturais. Mas não exatamente aqueles listados pela mídia que se espanta com a inconsequência de seus vereditos e a baixa aderência de suas soluções.
Falta, sobretudo, uma estratégia política pactuada com a sociedade para vencer a transição entre uma economia pensada para 1/3 da população, e aquela requerida agora que mercado de massa atingiu escala estruturante no Brasil.
Ao contrário do que sugere a pregação midiática, o desafio reside justamente em construir alternativas à matriz anacrônica da liberalização, sobretudo dos fluxos de capitais, que sonega consistência a qualquer projeto de desenvolvimento.
E isso já era verdade na reunião de Bretton Woods, em 1944...
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