domingo, 6 de março de 2011

A terapia comunitária no cuidado dos que não são cuidados


por Rolando Lazarte
extraído do blog  Consciência net
O que dizer sobre o cuidar de quem não é cuidado?

O que poderia dizer que não tenha sido dito sobre? As políticas sociais do governo, a caridade, a assistência, o voluntariado, o amor, a paz, a justiça, a fraternidade.

Apenas lembraria. Lembrava de Martin Luther King, I had a dream. Eu tive um sonho. Quando era estudante na secundária, me emocionava com a marcha dos negros sobre Washington em busca de igualdade e paz.

Martin Luther King, tanto tempo atrás. São Francisco, fazei de mim um instrumento da vossa Paz. Jesus, os Beatles, o pequeno Príncipe.

Só conheço no outro o que conheço em mim. A melhor forma de cuidar do outro é cuidar de mim mesmo. Ao invés de tentar mudar o outro, esse outro que me incomoda, vejo que o que nele me molesta é o que de mim nele vejo.

Então trato de melhorar a mim mesmo para não agredir aos demais, para não deixar que alguém me incomode, trato de viver de um modo tal que nada posa me machucar.

Ontem a professora que falou do Autocuidado nos lembrava disto. Cuide de si para cuidar do outro. Parece uma brincadeira. Como é que poderia cuidar do outro cuidando de mim.

Vale o contrário. Como poderia cuidar de alguém se não cuido de mim? Como levaria paz se estou em guerra, se não me quero, se não me aceito como sou? Não é que devamos ser perfeitos, não é isso, não.

É que a única maneira de tratarmos de melhorar a vida de alguém, é começando com esse alguém que está mais perto, nós mesmos, cada um e cada uma de nós.

Uma vez perguntaram a um sábio onde deveria buscar Deus. Em você mesmo, respondeu. Deus está em ti, esta em mim, está em toda parte, em todo ser humano, nas flores, no céu, nos pássaros, em todas as coisas.

No último congresso de Terapia Comunitária em Beberibe, no Ceará, um palestrante escrevera na louça a palavra Deus, mostrando o eu no meio.

Na terapia comunitária tratamos de cuidar de nós mesmos no cuidar dos outros, dos que não se cuidam. Nós somos esse que nem sempre se cuida.

Esse que trabalha demais, esse que fala demais, esse que come demais, esse que viaja demais ou que não viaja, ou que não come, ou que não dorme, ou que não diz ou não faz ou faz mais do que deve.

Então vem as dores, as doenças, a necessidade de cuidado. A depressão, a tristeza, a perda de rumo, o cigarro, a bebida, a solidão.

Na terapia comunitária aprendemos que ninguém da conselho, nem se julga, nem se faz discurso. Se ouve com atenção, se escuta.

Se trocam experiências, se da apoio e se recebe apoio. É uma troca, um mutirão pela saúde. Uma teia solidária em que todos sabem e todos podem. Todos temos algo a ensinar a algo a aprender.

Na terapia comunitária se aprende que a pessoa se tornou forte onde ela foi ferida. Algo aprendemos com a dor que sofremos. Ela nos fez crescer. É a pérola nascida da ferida.

Também aprendemos que ninguém salva ninguém, não há salvadores da pátria, alguém que possa dizer ao outro o que deva fazer para ser feliz, para resolver seus problemas, para sair da sua dificuldade.

Eu tive um sonho, como tantos e tantas tem, um mundo de paz, de amor, de justiça, de fraternidade. Esse sonho se vive nas rodas da terapia. Não estou vendendo um peixe, estou dizendo como na Terapia Comunitária se cuida de quem não é cuidado.

O desempregado, o que usa drogas, o deprimido, o que não sabe o que fazer da sua vida, o que não sabe o que fazer com o diploma universitário depois de formado, encontram seu lugar.

Todos nos descobrimos parecidos com o outro. Eu gosto de dizer que na Terapia Comunitária nos vemos no outro, aliás, isto era dito por um poeta nas Ocas do Índio, em Morro Branco, Beberibe, nesse mesmo congresso de Terapia Comunitária. Há muitas formas de cuidar de quem não é cuidado.

Esta é uma.

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