domingo, 30 de dezembro de 2012

"La Dolce Vita" de Yoani Sánchez em Cuba


Ao contrário do que afirma, dissidente possui padrão de vida inacessível para a imensa maioria dos cubanos

Wikimedia Commons


Ao ler o blog da dissidente cubana Yoani Sánchez, é inevitável sentir empatia por esta jovem mulher, que expressa abertamente sua oposição ao governo de Havana. Descreve cenas cotidianas de privações e de penúrias de todo tipo. “Uma dessas cenas recorrentes é a de perseguir os alimentos e outros produtos básicos em meio ao desabastecimento crônico de nossos mercados”, escreve em seu blog Generación Y. [1]

De fato, a imagem que Yoani Sánchez apresenta dela mesma – uma mulher com aspecto frágil que luta contra o poder estatal e contra as dificuldades de ordem material – está muito longe da realidade. Com efeito, a dissidente cubana dispõe de um padrão de vida que quase nenhum outro cubano da ilha pode se permitir ter. 

Mais de seis mil dólares de renda mensal.

A SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), que agrupa os grandes conglomerados midiáticos privados do continente, decidiu nomeá-la vice-presidente regional de sua Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação [2] por Cuba. Sánchez, que como de costume, é tão expressiva em seu blog, manteve um silêncio hermético sobre seu novo cargo. Há uma razão para isso: sua remuneração. A oposicionista cubana dispõe agora de um salário de seis mil dólares mensais, livres de impostos. Trata-se de uma renda bastante alta, habitualmente reservada aos quadros superiores das nações mais ricas. Essa importância é ainda maior considerando que Yoani Sánchez reside em um país de Terceiro Mundo em que o Estado de bem-estar social está presente e onde a maioria dos preços dos produtos de necessidade básica está fortemente subsidiada.



Em Cuba, existe uma dupla circulação monetária: o CUC e o CUP. O CUC representa aproximadamente 0,80 dólares ou 25 CUP. Assim, com seu salário da SIP, Yoani Sánchez dispõe de uma renda equivalente a 4.800 CUC ou a 120.000 CUP.

O poder aquisitivo de Yoani Sánchez

Avaliemos agora o poder aquisitivo da dissidente cubana. Assim, com um salário semelhante, Sánchez poderia pagar, a escolher:

- 300.000 passagens de ônibus;
- 6.000 viagens de táxi por toda Havana [3]
- 60.000 entradas para o cinema;
- 24.000 entradas para o teatro;
- 6.000 livros novos;
- 24.000 meses de aluguel de um apartamento de dois quartos em Havana [4]; 
- 120.000 copos de garapa (suco de cana);
- 12.000 hambúrgueres;
- 12.000 pizzas;
- 9.600 cervejas;
- 17.142 pacotes de cigarro;
- 12.000 quilos de arroz;
- 8.000 pacotes de macarrão;
- 10.000 quilos de açúcar;
- 24.000 sorvetes de cinco bolas;
- 40.000 litros de iogurte;
- 5.000 quilos de feijão;
- 120.000 litros de leite (caso tenha um filho de menos de 7 anos);
- 120.000 cafés;
- 80.000 ovos;
- 60.000 quilos de carne de frango;
- 60.000 quilos de carne de porco; 
- 24.000 quilos de bananas;
- 12.000 quilos de laranja;
- 12.000 quilos de cebola;
- 20.000 quilos de tomate;
- 24.000 tubos de pasta de dente;
- 24.000 unidades de sabão em pedra;
- 1.333.333 quilowatts-hora de energia [5]; 
- 342.857 metros cúbicos de água potável [6]; 
- 4.800 litros de gasolina;
- um número ilimitado de visitas ao médico, dentista, oftalmologista ou qualquer outro especialista da área de saúde, já que tais serviços são gratuitos;
- um número ilimitado de inscrições a um curso de esporte, teatro, música ou outro (também gratuitos).

Essas cifras ilustram o verdadeiro padrão de vida de Yoani Sánchez em Cuba e dão uma ideia sobre a credibilidade da opositora cubana. Ao salário de seis mil dólares pagos pela SIP, convém agregar a renda que cobra a cada mês do diário espanhol El País, do qual é correspondente em Cuba, assim como as somas coletadas desde 2007.

Com efeito, no período de alguns anos, Sánchez recebeu múltiplas distinções, todas financeiramente remuneradas. No total, a blogueira recebeu uma retribuição de 250.000 euros, ou seja, 312.500 CUC ou 7.812.500 CUP, quer dizer, uma importância equivalente a mais de 20 anos de salário mínimo em um país como a França, quinta potência mundial.

A dissidente, que primeiro emigrou à Suíça depois de optar por voltar a Cuba, é bastante sagaz para compreender que o fato de adotar um discurso a favor de uma mudança de regime agradaria aos poderosos interesses contrários ao governo e ao sistema cubanos. E eles, por sua vez, saberiam se mostrar generosos com ela e permitiriam gozar da dolce vita em Cuba.

(*) Doutor em Estudos Ibéricos e Latinoamericanos pela Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani é professor titular da Université de la Réunion e jornalista, especialista das relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro é intitulado Etat de siège: les sanctions economiques des Etats-Unis contre Cuba, París, Edições Estrella, 2001, com prólogo de Wayne S. Smith e prefácio de Paul Estrade. Contato: lamranisalim@yahoo.fr ; Salim.Lamrani@univ-reunion.fr  ; Facebook: https://www.facebook.com/SalimLamraniOfficiel 

Referências bibliográficas:
[1] Yoani Sánchez, “Atacado vs varejo”, Generación Y, 5 de junho de 2012. http://www.desdecuba.com/generaciony/ (site consultado em 26 de julho de 2012).
[2] El Nuevo Herald, “Yoani nomeada na Comissão da SIP”, 9 de novembro de 2012.
[3] De Havana Velha até o bairro Playa.
[4] 85% dos cubanos são proprietários de suas casas. Essa tarifa é reservada exclusivamente para os cidadãos cubanos da ilha.
[5] Até 100 quilowatt-hora, o preço é de 0,09 CUP a cada quilowatt-hora.
[6] 0,35 CUP por m³.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Roxin "não sabe nada" e o TJ-SP confirma minha tese







Algumas coisas são bem intrigantes. Semana passada li em um jornal a opinião de um importante professor de Direito de uma importantíssima Instituição de Ensino sobre a aplicação da tese do “domínio do fato”. Disse o catedrático que a teoria não era nova, que sempre foi e continuará sendo usada e que ela não justifica a condenação sem provas e não houve nenhuma deturpação que tivesse levado à condenação de José Dirceu. E complementou: A tese do Domínio do Fato está no Código Penal brasileiro. Qualquer pessoa que concorre responde pelo resultado.

Lendo o conceito acima, pus-me a pensar, sorvendo uma chávena de chá: “Esse Roxin não sabe nada mesmo”. Ao invés de construir a Theorie der Tatsache und Theorie Domäne der objektiv-subjektiv (teoria do domínio do fato, em alemão), deveria ter vindo estudar Direito aqui em Pindorama. Bastaria ter lido nosso Código Penal e... bingo: qualquer pessoa que concorrer para o crime responde por ele. Ele não precisaria ter escrito, em 1963, o livro Täterschaft und Tatherrschaft. Esse Roxin... Perdeu tanto tempo... tsk tsk tsk (onomatopeia que significa “que pena”). O professor de Direito da importantíssima Instituição “deixou claro” o que é a A Theorie der Tatsache und Theorie Domäne der objektiv-subjektiv... (o estagiário que anda comigo nas palestras acaba de levantar a placa com os dizeres “sarcasmo”!) Falando sério: por se pensar que teorias sofisticadas como a do Domínio do Fato são “coisas simples” é que a dogmática jurídica “perdeu” nesse julgamento (não esqueçamos também que um dos advogados disse que, desde 2005, já sabia que seu cliente seria condenado... O que eu não entendo é: por que, então, o defendeu?).

Sigo nessa linha. Da série “eu sabia” ou “eu avisei”, escrevo para dizer que “eu avisei e eu acertei”. Lembram-se de minha Coluna “Aqui se faz, aqui se paga ou ‘o que atesta Malatesta’”, onde alertei para o perigo dos efeitos colaterais da decisão da AP 470? Pois leiam. E depois retornem a este texto.

Pronto (como nas gravações de 0800, lá localizei o seu prontuário — diga-me, caro leitor: tecle 1, para saber se o ordinário se presume; tecle 2, para saber se só o extraordinário se prova; tecle 3, para saber se indícios são suficientes para provar um fato; tecle 4, para saber se fatos notórios não necessitam ser provados; ou tecle 5, para voltar ao menu principal; ao final, concorra a um dos seguintes livros: Domínio do fato simplificado e A lógica das provas simplificado — de Malatesta).

De volta, vamos à notícia que a nossa ConJur publicou no passado dia 19 de dezembro12: “Fatos notórios não precisam de prova”, decide TJ-SP. Que fantástico, não? O que são fatos notórios? O que o juiz disser que é? Seria a síndrome do Malatesta? Ou o “fator Malatesta”? “O ordinário se presume”?

Vejamos um trecho da notícia:

O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou nesta quarta-feira (19/12) o bloqueio de R$ 21 milhões da empresa de investimentos Blue Stone por conta de dívida contraída pelo empresário Naji Robert Nahas nos anos 80, depois da quebra da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). A disputa envolve propriedade de terreno apresentado por Nahas como garantia em outra briga judicial. Para o relator do caso na 5ª Câmara de Direito Privado do TJ, desembargador Erickson Gravazza Marques, "as pedras sabem" que o empresário é o verdadeiro dono do terreno e está envolvido com a empresa, e "fatos notórios não precisam ser comprovados" (...) Em seu voto, o relator reconheceu que a apelação — movida por empresário que cobra uma dívida de Nahas — é baseada em indícios, mas afirmou que eles devem ser levados em conta diante de sua contundência. “Afinal, fatos notórios não precisam de prova”, concluiu, ao dizer que está mais preocupado com a “verdade real dos fatos” do que seu colega, James Siano. Para Gravazza, Siano ficou mais preocupado com a “verdade processual”.

Alguém diria (ou dirá): “Que bom! Foi um peixe grande. Efetivamente, o domínio do fato e o Malatesta são contra as elites.” Portanto, “que bom que esteja sendo usado para pegar gente graúda”. Claro. Ainda estamos sob o efeito do julgamento do mensalão. Só que esse fato de São Paulo é um daqueles que, pelo personagem famoso (Nahas), recebe atenção da imprensa. Preocupa-me, no entanto, o que não está sendo denunciado. Tenho notícia de que, em várias ações penais “onde não estão envolvidas gente do andar de cima”, estão aplicando teses como “fatos notórios não necessitam de prova”, “fatos ordinários podem ser presumidos”, “quem, de qualquer modo participou, é responsável”, etc.

Ora, qualquer brasileiro também gostaria de ver todos os canalhas e escroques deste país devidamente punidos. Entretanto, penso que os democratas, preocupados com as garantias processuais, não querem fazer isso a qualquer custo. Até porque a próxima vítima pode ser você. É o antigo efeito Orloff: “Eu sou você amanhã.”

Vingando a tese do desembargador paulista acima explicitada, o caso Bruno nem necessitaria ir a júri. Parece notório que a Elisa está morta. Até as pedram sabe(ri)am. Também a questão da embriaguez no volante. É fácil de ver. E assim por diante. O Direito Penal, assim, vira “responsabilidade objetiva”. Você é culpado até provar o contrário, tese presente, aliás, em juristas famosos como Manzini...

Veja-se o perigo do que é “notório”: Se a revista Veja publica que Marcos Valério disse algo, fica notório... (ou não é assim?) Logo, não necessitaremos provar? E o que são indícios? O fato de alguém estar molhado aponta para indícios de chuva... Mesmo que esteja chovendo, ainda assim me parece que há que se provar que o acusado “andava mesmo na chuva” (embora quem ande na chuva é para se molhar). Metafórica e simbolicamente, tais questões são bem profundas, pois não? A decisão de São Paulo é mais contundente pelo seu aspecto simbólico do que pelo seu aspecto “real”, bem assim como advertia Castoriadis, em seu Instituição imaginária da sociedade: O gesto do carrasco é real por excelência, mas simbólico em sua essência!

Não há dúvidas de que, em tempos de mensalão, todos querem “mostrar serviço” e pegar mais um “notório” peixe grande, certo? O problema é o modo como estamos a fazer isso, pois certamente afetará muito mais os brasileiros comuns (os patuléus) do que os extraordinários, quer dizer, os "peixes grandes"!

O mesmo juiz que hoje pega o “peixe grande”, amanhã irá atrás do “peixe pequeno”, constante alvo do sistema penal de terrae brasilis. Umberto Eco já tratou disso em O nome da rosa (sou um felizardo: nos anos 80, fiz um semestre todo estudando Eco no mestrado), obra extremamente interessante para tratarmos desta questão, especificamente sobre os chamados fatos notórios e incriminadores e sua ligação com a polissemia das palavras... Isso fica evidente na passagem da noite do quinto dia, quando Bernardo de Gui — o grande inquisidor — promove o julgamento dos acusado da morte de Severino, o qual desde o início já possui severos vícios “processuais”, devidamente destacados pelo Abade e por Guilherme de Baskervile (uma emulação de Guilherme de Ockham, levada a cabo no romance por Eco, com o exato intuito de revelar algumas das faces do nominalismo), além do irreparável pressuposto de que os acusados eram de pronto culpados, dois integrantes da choldra da época, efetivamente (o pobre Salvatore, possuidor de doença congênita e a aldeã — que sequer entendia qualquer palavra que se pronunciava durante seu próprio julgamento — pela qual se apaixonou Adso, contador da estória e aprendiz de Guilherme) e o principal alvo, Remigio de Varagine, verdadeiro adversário político da situação, para o qual apenas era-necessário-o-processo-para-que-sua-punição-fosse-minimamente-legitimada.

Há um trecho da obra de Eco que demonstra de maneira indelével como a prática ora noticiada pelaConJur não é novidadeira, especialmente quando Bernardo de Gui contesta afirmações de desconhecimento da natureza dos fatos delituosos noticiados e consequente inocência proferidas por Remigio de Varagine, como se estas fossem comprovações de sua incriminação:

"A minh'alma é inocente e não sei o que vós pretendeis quando falais em deprecação herética", disse cautamente o celeireiro.

"Estais vendo?" exclamou Bernardo voltando-se para os outros juízes. "Todos iguais! Quando um deles é detido, apresenta-se em juízo como se sua consciência estivesse tranquila e sem reforços. E não sabem que esse é o sinal mais evidente de sua culpa, porque o justo, no processo, se apresenta inquieto! Perguntai-lhe se conhece a causa porque eu ordenei a sua detenção. Tu a conheces, Remigio?"

"Senhor", respondeu o celeireiro, "ficaria contente de sabê-la por vossa boca".

"Eis", exclamava no entanto Bernardo, "a típica resposta do herege impertinente! Percorrem sendas de raposas e é muito difícil pegá-los em falta porque a comunidade deles admite o seu direito a mentir para evitar a devida punição”.

E mais não preciso dizer. Apenas queStat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus…

Outra obra que muito bem retrata a situação dos indícios como “verdadeiro” fundamento probante de uma decisão é a de Eduardo Sacheri, chamada La pregunta de sus ojos, especialmente no momento em que são acusados e imediatamente tidos como culpados, dadas os “claríssimos indícios” que restavam disponíveis, os dois obreiros bolivianos que trabalhavam próximos ao local onde ocorrido o assassinato sobre o qual gira toda a novela, a qual rendeu um belo filme, chamado no Brasil de “O segredo dos seus olhos" (há também um programa Direito e Literatura sobre este livro de Sacheri, assim como sobre O nome da rosa).

Até as pedras daquela obra (entenderam? Obras, obreiros, pedras... Lacan se divertiria com esses significantes) “sabiam” que os bolivianos eram os culpados. No entanto...

Pois é. Prossigo. Venho insistindo há muito numa questão prosaica, sem que isso lhe tire a sofisticação teórica. Trata-se da necessidade de que os julgamentos sejam sempre por princípios, e não por presunções ou por raciocínios teleológicos. Já muito escrevi sobre isso. O Direito Processual Penal não se coaduna com enunciados do tipo “primeiro vejo se é culpado para depois encontrar as provas (ou os indícios)”. Trata-se de um raciocínio falacioso, repetindo um princípio de araque do processo penal, que não resiste a trinta segundos de filosofia: o tal “princípio da verdade real”.

Com isso, quantos acusados acabam tendo negado os seus Habeas Corpus e quantos acusados são condenados indevidamente? Quero dizer que o processo penal tem uma feição de radicalidade. Mesmo que se saiba que alguém é culpado, se não existirem provas não dá para condenar. E se alguém for preso e, diante do auto de prisão em flagrante, o juiz disser, singelamente, que “o flagrante prende por si”, não dá para fazer raciocínios teleológicos... Só tem um caminho: conceder o HC.

Alguém dirá: “Mas o indiciado merece ficar preso...”. E eu respondo, garantisticamente: “É o custo da democracia”. Juiz que não sabe decretar preventiva nem pode ser juiz. E o cidadão não pode pagar por isso. Outro alguém dirá: “É, mas a sociedade é quem pagará o preço, porque terá mais uma marginal solto”. E eu respondo, de novo e pacientemente: “Azar o da sociedade; quem mandou ter um juiz assim?” Isso é que nem na política. Elegemos mal, todos pagamos. Faculdades ruins formam péssimos profissionais. Neste caso, por que não aplicamos a tese de que “quem de qualquer modo concorre para o resultado, também é responsável pelo crime? Vamos processar o professor de Direito Processual Penal que ensinou mal ao juiz que não sabe decretar, fundamentadamente, uma prisão preventiva? Ou vamos processar a banca do concurso? Quem será “Der Mann hinter” (o homem de trás, que sabe de tudo?) No limite, poderemos processor a editora que publicou os livros utilizados pela banca, etc.

Afinal, todos não tinham o “domínio do fato”? “Todos sabiam...”

Ah, e quem usar livros simplificadores, também deverá ser responsabilizado... por qualquer coisa que acontecer no Direito no futuro. Está “claro” no artigo 29 do Código Penal!

Lenio Luiz Streck é procurador de Justiça no Rio Grande do Sul, doutor e pós-Doutor em Direito.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Entrevista de João Saldanha ao 'roda viva' em 1987

Entrevista de João Saldanha ao ' roda viva', provavelmente, em 1987, extraída do canal do programa, no youtube.

Fatos esclarecedores sobre sua polêmica saída do comando da seleção que viria a conquistar o "tri" no México em 1970 e suas opiniões, sempre com muita propriedade, sobre os fatos ligados ao futebol, política  e outros assuntos.

Vale ver!!



segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Entrevista do Ministro Gilberto de Carvalho ao "É Notícia", de Kennedy Alencar


Extraído do site da RedeTV!


Em entrevista ao programa É Notícia, Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-geral da Presidência da República, comenta temas como reforma política, Operação Porto Seguro e apoio do PT a Eduardo Campos em 2018. Sobre o escândalo do mensalão, Carvalho admitiu que 'caixa dois' é crime, um erro que deveria ser punido. Por outro lado, questionou alguns pontos do julgamento. 'Por que só com o PT? Por que só esse caso? Por que fazer o julgamento em pleno tempo de eleições municipais? Por que essas penas severas deste modo?'.




sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Cuba sem bloqueio ilumina funcionamento da sociedade e das instituições cubanas

da revista o Viés 



Um dos mais importantes livros escritos por brasileiros sobre a realidade da Revolução Cubana não pode ser encontrado na maioria das livrarias. O jornalista Hideyo Saito e seu Cuba sem Bloqueio estão, vejam só, sofrendo em sua própria pele e em suas próprias páginas a violência e a truculência do bloqueio midiático sofrido por Cuba desde o triunfo dos revolucionários em 1959. De acordo com Saito, muitas redes de livrarias recusaram comercializar o livro por conta da pouca exposição que este teria na mídia.
Cuba sem Bloqueio parte do bloqueio político-econômico estabelecido pelo governo dos Estados Unidos desde 1962, para construir-se como furo e furadeira da barreira midiática que é consequência e suporte desse bloqueio. Tendo morado e trabalhado como jornalista em Cuba por dois anos e visitado a ilha em outras oportunidades, Saito aliou-se ao publicitário Antonio Gabriel Haddad e, unindo a experiência pessoal com uma vasta pesquisa bibliográfica, construiu um livro amplo, completo e aprofundado que retrata Cuba como em uma grande fotografia em 360 graus.
A pesquisa de Saito e Haddad perpassa livros publicados no Brasil, em Cuba, no México, nos Estados Unidos, no Chile e na Argentina, além de diversos estudos de organizações internacionais, incluindo órgãos especializados da ONU e até o Banco Mundial. Sem amarras ou pré-conceitos, há, sim, uma pré-disposição: mostrar a realidade por trás do muro midiático que quer evitar o uso de Cuba como exemplo de que pode, sim, ser construída uma sociedade diferente. Uma sociedade igualmente complexa, que também possui suas contradições, suas dificuldades, mas, como diz o título de um capítulo de Cuba sem Bloqueio, “onde vidas humanas valem mais que propriedades”.
Sem barreiras, sem fugir dos temas mais delicados, sem poupar críticas, por exemplo, às recentes mudanças econômicas e aos problemas sociais decorrentes, o claro e coerente texto Saito ajusta o foco, uma a uma, sobre as diversas temáticas que, juntas, formam um retrato da sociedade cubana. Em cada um dos 12 capítulos o jornalista debruça-se sobre um aspecto dessa realidade apresentando números, declarações e análises críticas que inserem esses dados em uma totalidade complexa. Dessa forma, o livro trabalha os seguintes pontos: Começa a era pós-FidelPolítica oficial de hostilidade a CubaDilemas e desafios da economiaEstado e poder popularA solidariedade como política externaEducação, questão de honra para a sociedade cubanaSaúde: como um país pobre pode tantoOnde vidas humanas valem mais que propriedades;Ser culto para ser livreO esporte na vida das multidõesUma corrente de oração por Fidel; e Um país ameaçado de exclusão digital.
Em 423 páginas, Cuba sem Bloqueio coloca o leitor para enxergar, ao mesmo tempo de fora e de dentro, as instituições cubanas que, junto com o povo de Cuba e como parte dele, criou, construiu, sustenta e sustentará a Revolução e a esperança que dela nasce e com ela cresce.
O livro Cuba sem Bloqueio, de Hideyo Saito e Antonio Gabriel Haddad, editado pela Radical Livros, pode ser comprado através do site da editora.
CUBA SEM BLOQUEIO ILUMINA FUNCIONAMENTO DA SOCIEDADE E DAS INSTITUIÇÕES CUBANAS, pelo viés de Alexandre Haubrich*
*Haubrich é jornalista e editor do blogue JornalismoB e do JornalismoB Impresso, jornal independente distribuído gratuitamente nas ruas de Porto Alegre e, através de assinaturas, para todo o Brasil. Colabora com diversas publicações, entre elas a revista o Viés. Leia outros textos publicados por Haubrich na revista o Viés aqui

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O ódio (singular e absoluto) a LULA II*



Por Sérgio Maurício Troncoso, no Facebook, em 11/12/2012.


Embora seja eleitor frequente do PT, quem me conhece sabe que estou longe de ser “petista de carteirinha”. 

Sou um grande crítico a muitas coisas da política e economia que aconteceram nos últimos dez anos, apenas creio que como um homem que tem família frente as atuais (e reais) opções eleitorais, estou melhor com as cagadas do PT, que com a diarreia peessedebista.

Sempre me norteei pelo pragmatismo de achar que em política nunca há o melhor, e sim o menos ruim. 

Porém chega a ser nojento o assédio da grande mídia na tentativa de criminalizar Lula, só por ele ser liderança incontestável, bom de voto e não pertencer ao “mainstream”. E mais ridículo ainda é ver gente de “boa formação”, encampar essa sujeira que coloca em risco a democracia conquistada à duras penas pelo povo brasileiro, pois para criminalizar Lula a qualquer custo, acaba-se misturando tudo e criminaliza-se também a política. 

Nossos políticos não vêm de Marte para nos oprimir, eles vêm do povo, de famílias, de histórias de vida várias, e são um espelho de nosso tecido social. 

Muita gente que cospe fogo contra eles, não faria nada melhor caso conseguissem “chegar lá”. 

Identifico muita frustração de vida introjetada ao ódio aos políticos, as pessoas se esquecem de que eles têm algo que o cidadão comum não tem, e que dá muito trabalho conseguir... Voto.

Quanto a Lula, ele já foi acusado de trair a mulher, de violentar o companheiro de cela, de roubar o Brasil, de fortalecer "ditaduras" latino-americanas, africanas, asiáticas (todas com presidentes eleitos por voto majoritário), de comprar avião para si, de “querer” um terceiro mandato, de se curar do câncer em hospital particular (sim, uma acusação), de assassinar passageiros de dois aviões, de matar o Celso Daniel, de colocar escutas no STF (segundo Gilmar Mendes e sem prova), de dar o título à Vila Isabel; já foi acusado de dançar festa junina, de beber vinho caro, de torcer pelo Corinthians, de comer buchada de bode, de ter amputado o próprio dedo para receber pensão, de ter a voz rouca, de ajudar o filho a fechar contrato com uma empresa PRIVADA (e ele com esse dinheiro comprou a Escola Superior de Agricultura de Piracicaba), de ter fortuna declarada nas páginas da Forbes (no caso dessas últimas duas “acusações”, quando vejo gente com PHD dizer que acredita nelas, só posso creditar esse fenômeno a pura cegueira do ódio de classe).

Só nos últimos meses, Lula já esteve por trás do relatório do CPI da Cachoeira, já tentou adiar o julgamento do "mensalão" (segundo Gilmar Mendes de novo), já produziu provas para se vingar de Perillo (porque ele teria sido o primeiro a avisá-lo do mensalão). Agora o acusam de ter um caso com a mulher presa na última operação da PF, e ao serem confrontados com a realidade que as tais ligações telefônicas para ela nunca existiram, surgem as “acusações” do réu Marcos Valério (que nada declara a respeito do caixa dois do PSDB). Só falta acusarem Lula de subornar Deus para que terminasse a obra no domingo. 

Nos meus anos de vida, já vi falarem mal e serem injustos com muitos políticos. Até com os mais “queridos” a grande mídia comete injustiças. Mas nunca vi em toda a minha vida (no passado já houve isto) um ataque tão vil, tão desonesto, tão odioso, quanto o que dirigem a Lula, e isto se dá porque sabem que não o vencem no voto.

A meia dúzia de famílias que controla a grande imprensa falada e escrita neste país, repete o que já fizeram com Getúlio, com JK, com Jango, e com Collor (e esse, eles mesmos ajudaram a colocar lá). O que repetem? A disseminação do ódio em prol de um projeto de poder... Ódio de classe, ódio de frustrados, ódio que faz mal ao povo e a democracia, para embasar um projeto de poder político e econômico de gente que sai nos jornais como paladinos do “bom comportamento cívico”. 

E o pior é ver gente oriunda das classes médias (da baixa a alta), supostamente com boa formação escolar e familiar, que deveria colocar um pouco de sanidade na discussão, ajudando a alimentar o ódio, por pura frustração vivencial transbordada em frustração política eleitoral alimentada pela grande mídia. 

Sempre autoindulgentes, acham que fazem muito, acreditam que “os outros”, sejam Lula ou “os políticos” (no genérico), ou a estrela que fala alguma bobagem, são o inimigo, o que os impede de crescer, mas não veem que sempre são os que mais tem, os que mais se queixam, os que mais nos rebaixam com seu vira-latismo existencial. 

Isto ainda se voltará contra a democracia, contra o Brasil, contra eles próprios em particular, e contra os brasileiros em geral, é claro. 

Prevejo um ano de 2013 muito tenso, e talvez desastroso para a política no Brasil. 

As consequências disto na vida socioeconômica do trabalhador, das pessoas comuns, muitas das quais que se juntam acriticamente ao efeito manada dessa péssima e injusta crítica política, podem ser terríveis. 

Sérgio Troncoso
*Texto inspirado em um anterior produzido pelo colega Weden.